? O avião se encontrava no mais alto ponto de sua condição de voo, quando o comandante chegou em frente dos noventa passageiros e perguntou quem era ateu. Sete passageiros responderam que eram. O comandante, então, avisou que eles ficassem no mesmo lugar, em silêncio, pois para eles não havia esperança. Logo em seguida, perguntou quem acreditava em Deus, e com exceção de dois casais que dormiam bêbados, o resto respondeu que acreditava. Diante das duas formas de crença, o comandante, resoluto, então comecem a rezar e afirmou que naquele momento o avião entrara em pane, e logo, logo cairia.

?? UM CASO DE AMOR TOCANDO DE LEVE EM UMA COMÉDIA FRANCESA — O namoro foi o bicho. O noivado mais bicho. O casamento… no casamento, já não havia tanto bicho. Com o desenrolar da vida íntima, o fogo abrasador das grandes transas rasgadas madrugadas a dentro foi substituído por uma tênue chama de uma vela de Dia dos Finados. Não era para menos, além da condenação do cotidiano burguês que o casamento impõe, havia a presença imperialista da sogra, que infernizava a vida do casal, principalmente a do genro. Era a provação em sua própria casa. A essência do sofrimento. Casado aos 22 anos, dois anos depois ele apareceu diante dela intimando-a ao divórcio. Era o bom momento, pois ainda não tinha filhos. Ela, distante, consentiu o convite, que já vem inscrito no sacramento, com um sorriso. Como quem dissesse: “Casamento bom é o que não dura.”

Acreditando que existem acasos bons e maus, e para não compor com um acaso mau, encontrar em um belo dia, em uma rua da cidade, sua ex-sogra mudou de estado. Vida nova, arranjou emprego, entrou para uma universidade, foi graduado, fez todos os percursos da carreira universitária, e, então, aconteceu um bom acaso: ao 44 anos se apaixonou por uma bela aluna de 20 anos. Se amaram. Ela também se apaixonou. Casaram. Um dia a esposa convidou-o para visitar a mãe, que ela chamava por um apelido carinhoso. Viajaram a um estado desconhecido dele. Chegaram na residência da mãe, ela abriu a porta sorridente, e ele viu o que jamais pretendia ver até o fim de sua vida: sua ex-mulher. A mãe de sua esposa era sua ex-mulher, e, agora, sua sogra.

??? Era medíocre, preguiçoso, invejoso, e acima de tudo, um total imbecil. Sem reconhecer em si esses atributos impermeáveis, fantasiava ser uma lenda. Movido por um sopro maníaco, a todo momento imaginava-se uma lenda. Em qualquer lugar, junto de qualquer pessoa, comentava querer ser uma lenda para o povo de sua terra.

Uma noite escura, passando por uma viela, falando sozinho que queria ser uma lenda para ninguém esquecer dele, nem depois da morte, ouviu uma cavernosa voz acompanhada de uma gargalhada gutural, afirmando que poderia realizar seu sonho, mas que em troca ele queria sua vida eterna. Ou seja, ele jamais morreria. Não deu outra, ele aceitou, e no outro dia, cedinho, ao chegar à rua o jornaleiro, exclamou: “Bom dia, lenda!” Ele ficou maravilhado. Saiu pela rua saltitante, e por onde passava só ouvia o povo chamá-lo de lenda.

O tempo passou e com ele o entusiasmo lendário. Não queria mais ser uma lenda. Nada feito. Havia o contrato de existir eternamente como lenda. Quis desfazer o vaticínio. Tentou vários vezes se suicidar, sem lograr êxito. Estava amarrado na ordem do misterioso da voz cavernosa.

Decidiu se separar dos homens: foi morar no interior de uma caverna onde sequer veria um fio de luz. Passou a conviver com insetos, principalmente com as baratas de que se tornou grande amigo e imitador de seus hábitos. Ao sentir passar muitos anos, resolveu dar uma espiadela no exterior. Quando chegou do lado de fora da caverna, tomou um susto que lhe paralisou: a cidade não existia mais. Uma guerra nuclear havia acabado com todos os habitantes da terra. Ficou triste, lembrando de seus semelhantes, mas logo ficou contente. Com todos mortos, ninguém lhe reconheceria mais como lenda. De tão contente, subiu em uma pedra e gritou profundamente de braços abertos: “Estou livre!” Quando ia descendo da pedra, viu uma cena que lhe causou profunda angústia. Milhares de baratas em redor da pedra se movimentavam em uma coreografia que se distinguia claramente uma dança com movimentos de asas em forma de celebração. Ou ritual de reconhecimento totêmico.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.