SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE O DESENVOLVIMENTO
O simulacro midiático-econômico da então alarmada crise não conseguiu ser um fator de contaminação intenso no Brasil. Sua pretensão epidérmica é paralisada nas iniciativas do governo federal, responsável por demonstrar o quanto políticas públicas e investimentos nas áreas sociais são necessários para se garantir a estabilidade econômica em um país. Ainda que existam os discursos vazios, que não acham suas referências em lugar algum a não ser nas descargas venais dos reativos.
Segundo a Agência Carta Maior, “o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, abre a reunião no dia 5 de março, às 9h. Em seguida, um painel sobre o novo padrão de desenvolvimento será coordenado pelo Ministro da Secretaria de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que também é secretário-executivo do CDES. Está prevista a participação das seguintes autoridades: Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff; Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo; Ministro da Fazenda, Guido Mantega; e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles”. A resistência do Brasil relativo à crise e sua instituída divulgação, deve ser o principal foco das discussões apresentadas.
Ainda segundo o sítio da Agência Carta Maior, “a TV Carta Maior transmitirá ao vivo os debates, com cobertura completa das mesas programadas para a quinta e sexta-feira”.
Quinta-feira, dia 05, quem estará palestrando, às 14h30, será a transgressora do conservadorismo econômico, professora Maria da Conceição Tavares. A Carta Maior falou com ela antes da sua fala invadir a consciência dos mais arraigados defensores da economia que não pulsa e não se movimenta, destituindo o supérfluo e construindo o caminho para o necessário.
Colocamos então aqui algumas de suas falas que já estremecem as consciências confiantes em suas certezas ortodoxas.
Sobre as condições do Brasil em relação a dita crise:
“Veja bem, estamos diante de uma tempestade global. Não é apenas a violência que assusta; é, principalmente, o fato de que a sua origem financeira torna tudo absolutamente opaco no horizonte da economia internacional. Mente quem disser que sabe o que virá e quanto vai durar. Minha percepção mais clara é de que será uma guerra de resistência; e que o Brasil tem condições de segurar o manche, e agüentar.”
Sobre como o Brasil enfrenta agora esta dita crise:
“O que estou dizendo não é fruto de otimismo. A luta será dura. Mas pela primeira vez na história, o Brasil enfrenta uma crise mundial sem ter que carregar o setor público nas costas. Isso é inédito: nesta crise o Estado não está afundado em dívida externa, para não dizer totalmente quebrado, como ocorreu nos anos 90. Significa mais do que não ter um peso morto; significa um Estado em condições de amparar o investimento, o emprego e o capital de giro da economia.”
Sobre a dita crise e os juros no Brasil:
“Desta vez, temos ainda uma vantagem paradoxal; e aí devemos reconhecer o serviço prestado pela ortodoxia: há um enorme espaço macroeconômico para ‘flexibilizar a política monetária’, como eles gostam de dizer. “A taxa de juro mais alta do mundo finalmente mostra para que serve: serve para ser corrigida agora na crise. Basta que façam isso e o país já ganhará um substancial reforço na capacidade fiscal para implementar ações anti-cíclicas. Cada ponto a menos na taxa de juro reduz em uma dúzia de bilhões o custo da dívida pública.”
Sobre a segurança estatal do Brasil:
“Hoje temos um tripé de bancos estatais revigorados, que cumprem papel estratégico reconhecido pela política econômica. Com o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal o Brasil pode, de fato, gerar contrapesos à contração do crédito internacional, propiciar capital de giro e investimentos com contrapartida de garantia de emprego. Basta ter determinação política.”
Sobre o alcance da dita crise:
“Sem dúvida o colapso financeiro internacional é dramaticamente mais sério que aquele de 29. A crise atual ainda não alcançou a proporção daquela, mas você tem o núcleo financeiro dos EUA carcomido, – veja bem é o núcleo, os grandes bancos, não as franjas. Os maiores deles, o City e o Bank of América, praticamente agonizam. Baixas dessa magnitude não tivemos nem em 1929.”
Sobre uma suposta morte do neoliberalismo:
“Nada do que estamos vendo configura, ainda, a derrota definitiva do neoliberalismo. É um passo. Mas não podemos festejar o defunto sob as ruínas dos mercados financeiros. O que vemos hoje é apenas luta pela sobrevivência; não há lugar para a ideologia na luta desesperada pela sobrevivência. O ativismo keynesiano de Obama, entre outros, é apenas isso, um recurso à mão, nada mais. Provavelmente, essa opacidade ideológica persistirá até 2010. No Brasil, então, será a hora da verdade. Serra se diz um desenvolvimentista – de boca, porque sua aliança preferencial é com os Democratas, cuja agenda dispensa apresentações. A sociedade brasileira terá que escolher o projeto e o arcabouço de valores para conduzir o país na reordenação pós-crise. Tomara que não recue.”