DA MÃE DE BUSH A BAUDRILLARD: AS DUAS VOZES DE OBAMA CONTRA OS PALESTINOS

0

Negro, jovem, atlético, swing, bom orador, vindo de família pobre, a vitória de Obama nos Estados Unidos repercutiu por todo o mundo. E não é que agora concordemos com a opinião raciática da mãe de Bush, quando durante a campanha presidencial entregava a linha da atuação familiar ao dizer que Obama era mais branco do que ela. Mas quando vimos, em um artigo chamado Israel, Saramago dizer que “não é do melhor augúrio que o futuro presidente dos Estados Unidos venha repetindo uma e outra vez, sem lhe tremer a voz, que manterá com Israel a “relação especial” que liga os dois países” lembramos que, numa promessa de como seria a democracia do presidenciável Obama para a latino-américa, ele prometia manter o embargo a Cuba e acusava Bush de ter virado as costas para a América Latina, permitindo o aparecimento de “demagogos como Chávez”, o que colocava também como demagogos Lula, Correa, Evo, entre todos os sudamericanos.

Enquanto as eleições se aproximavam, cresciam, de um lado, as expectativas de que Obama, além de resolver o falso problema da alcunhada crise financeira, iria retirar imediatamente as tropas americanas do Iraque, que manteria diálogo com o Irã; mas, de outro lado, cresciam também os ataques preconceituosos contidos na junção Obama/Ozama, de que ele era filho de negros muçulmanos, ficou conhecido o cartoon no qual ele aparecia com vestimentas árabes, etc. E, ontem, quando vimos Bush defender o ataque de Israel à Palestina e, enquanto se muda para um hotel em Washington, onde ficará até o próximo dia 20, data da posse, Obama, ao ser interpelado por jornalistas sobre sua posição quanto ao massacre, apenas se sai com uma ambiguidade: “Os Estados Unidos não podem ter duas vozes.” A contemporização não é apenas uma covardia, mas parece deixar claro não uma distinção racista pela retrógrada antropologia, nem uma subjetividade de potência negra (Nietzsche), mas uma “cumplicidade no crime” (como dizem as duas filhas de Obama no diálogo criado por Saramago) a partir de uma subjetividade branca ao menos neste caso, antes de assumir, que Obama não apenas tem uma voz em ressonância com Bush e vice-versa, mas também só um olho e só uma mão: o Capitalismo Imperial. E isso nos faz lembrar, se persistir após a posse, um prenúncio quase mediúnico (não fosse de ordem real; ou melhor, hiper-real) de Jean Baudrillard, num texto de 2006, chamado Carnaval/Canibal:

O poder é uma configuração instável que metaboliza quaisquer elementos em seu proveito. A América se tornará negra, indiana, hispânica, porto-riquenha, sem deixar de ser a América. Ela será até mesmo ainda mais miticamente americana por não mais sê-lo “autenticamente”. Será ainda mais fundamentalista porque não terá mais fundamento (se é que já teve algum dia, posto que até seus pais fundadores vinham de fora). Será ainda mais integrista porque se terá tornado, nos fatos, multirracial e multicultural. E será ainda mais imperialista porque será dirigida pelos descendentes dos escravos. Assim caminha o poder.”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.