JORNALISMO OSCILANTE
Até o mais extenuado intelecto sabe que no sistema capitalista toda empresa privada se mantém financeiramente através do lucro. Mas, esse mais extenuado intelecto sabe também que toda empresa é organizada em normas saídas das exigências sociais. Não é porque trata-se do capitalismo que uma empresa entra no círculo da vale tudo. É preciso uma moral, por mais pragmática que seja, para não implodir o sistema pelo próprio sistema.
No caso específico de uma empresa jornalística, as duas considerações do mais extenuado intelecto, surge de formas mais visíveis. Porque, como afirma o ilustre juiz Fausto De Sanctis, que mandou prender o corrupto Daniel Dantas, “o jornalismo é serviço público”. Desta forma, a empresa necessita do lucro para se manter, sem precisar colocá-lo acima do interesse social. Que é o eidos de sua existência coletiva. O que faz com que o filósofo jornalista, Ignácio Ramonet, tenha o jornalismo como “uma disciplina cívica”.
Também, o mais extenuado intelecto sabe que no conhecimento ocorre sempre uma suspeita sobre a imagem e a idéia resultante da vivência perceptiva e cognitiva do sujeito. Ele sabe que ao se vivenciar um fato virtualmente endereçado à informação, a fidelidade encontra-se sempre em “epochê”. Suspensão. Reduzida para análise. Daí a fundamentação do critério lógico no ato de informar. Além de quê, alguns leitores são dotados do mais extenuado intelecto. Por tal, sabem quais são os truques que um jornal pode recorrer para escamotear noticiais, privilegiando uma matéria, ou um personagem, tergiversando que está fazendo um jornalismo livre. Comprometido com a coletividade. O interesse público. E no entanto, esconde o real, sob a névoa do virtual privado. O interesse particular.
Por fim, o mais extenuado intelecto compreende as flutuações de opiniões de uma empresa jornalística, e o sentido democrático instável que a nutre, e cria conturbações aos seus leitores que em seus mais extenuados intelectos, não concordam com essas oscilações de perspectivas políticas/sociais.
DE UM JORNALISMO OSCILANTE
“A VITÓRIA DA HONRADEZ”
“Manaus mudou e o povo venceu, em eleições históricas e memoráveis. De uma lado, o continuísmo, a representação da velha escola personalista e populista, com práticas incompatíveis com o novo Brasil democrático. De outro, a transformação, a liderança oxigenada pela participação coletiva, a honradez, a probidade, a decência. Este jornal, na condição de tributário de uma longa tradição democrática e libertária do povo amazonense, limitou-se a mostrar essa realidade, a apontar os caminhos, tanto num quanto noutro sentido. Não se afastou um milímetro sequer dos rumos que marcaram e definem a sua própria história, como órgão de imprensa independente e indomável, tem consciência que contrariou interesses poderosos. Resistiu às mais torpes e pesadas agressões, mas em nenhum momento deixou-se vergar diante da força do poder político econômico. Seus colaboradores foram perseguidos, vítimas dos mais duros ultrajes, inclusive físicos. No entanto, como profissionais dignos e corajosos, suportaram todo tipo de violência, em nome do jornalismo sem medo. A CRÍTICA festeja a vitória da honradez e de uma cidade que renasce confiante no futuro, que haverá de ser grandioso. Resta-nos a convicção do dever cumprido e a certeza de que temos a obrigação de prosseguir como tradutores dos mais belos e puros sentimentos de nossa gente”.
Editorial do jornal “A Crítica”, do dia 1o de novembro de 2004, segunda-feira. Ano LV-N 19.211. Edição com matéria de primeira página (também páginas A3, A5, A6, A7, A8, A9, A10, A11, e A12): “Vitória do Povo SARAFA É PREFEITO”. Entre fotos e opiniões, foto de Bosco Saraiva, na época, vice de Amazonino, sendo conduzido pela Polícia Federal algemado. Acusado de crime eleitoral: compras de voto. Em seu carro havia R$ 20 mil. Hoje, o jornal anuncia Bosco Saraiva como diretor presidente do Implurb (Instituto Municipal de Planejamento Urbano). Ainda, na edição de 2004, a notícia: “TRE Tirou Rádio A Crítica do Ar a Pedido de Amazonino”. Hoje, Amazonino tem página inteira à disposição para entrevistas quase diárias.
Este é um editorial específico de um jornal, mas infelizmente, não é específico só de um jornal. É, também, a semiótica dominante de outros jornais, que também fazem das palavras a simplificação inerte da realidade. O lekton (como afirmavam os filósofos estóicos), o signo vazio, a palavra sem suporte conceitual. Elemento que faz com que frases como “…a certeza de que temos a obrigação de prosseguir como tradutores dos mais belos e puros sentimento de nossa gente”, não sejam situadas na ordem do real que move os mais extenuados intelectos.