O MEDIUM TELEVISIVO E A OPINIÃO PÚBLICA
.A AMBÍGUA MORAL DA MÍDIA TELEVISIVA.
A MÍDIA TELEVISIVA ESTÁ BEM ADEQUADA À MORAL AMBÍGUA — produção subjetiva cristã, capitalística e judaica. O bem e o mal devem ser conservados como instâncias maiores de mensuração das atividades humanas. Portanto, na mídia televisiva, para cada atividade, uma representação simbólica que exerça bem a separação entre bem e mal. Seja uma palavra de elogio ou de censura, seja um aceno de incentivo ou de desaprovação, sejam recompensas ou punições, premiações ou desvalorizações. Seja o que for: mas que venha para impor a idéia de que verdadeiramente existem pessoas, programas, canais e emissoras de televisão que estejam alojadas nas categorias morais de bem e mal.
“É preciso aniquilar a moral para libertar a vida” Nietzsche.
Emissoras de tevê se esforçam para se mostrarem diferentes entre elas. Então mergulham na moral da ambigüidade para terem a ilusão da separação dos bem aventurados dos mal aventurados televisivos. Esperam poder separar o joio do trigo, enquanto não há nem joio nem trigo. Só o vazio. Então forjam acusações, intrigas, acusações, rivalidades, disputas, sem saber que bem e mal são uma só moral que se complementam e em nada se diferenciam. Instâncias transcendentes que impõem uma ordem (o bem) que melhor se organiza pela desordem (o mal). Assim a mídia televisiva é pessimista e niilista, pois está em conformidade e impõe a percepção formatada pela moral.
“Não importa saber o que a televisão está levando ao ar, se os seus programas são de alto ou baixo nível; é ela própria, enquanto veículo, que altera o comportamento, condicionando a percepção no sentido do envolvimento geral, da participação (‘estar por dentro’ — lema dos jovens de hoje), apesar da resistência das elites de formação literária, que gostariam de levar à televisão o que chamam de “cultura”, impondo soporíferos programas lineares…” Decio Pignatari.
A mídia forja diferenças para se querer numa diversidade e assim, fazer o jogo do não jogar. Daí Jorge Fernando acreditar existir diversidade na tevê e que há realmente uma disputa teledramatúrgica entre Globo e Record. Disparate que resvalou no colunista da Folha Daniel Castro,fazendo-o cair no engano de admitir que haja uma disputa entre os autores de telenovelas João Emanuel Carneiro (Globo) e Tiago Santiago (Record). Entre pares não há disputas ou diversidade, contudo pode haver trocas a partir do sistema que ordena esses pares.
“Televisão é um sistema informativo
homólogo aos códigos da
economia de mercado (…)” Muniz Sodré.
Nenhuma emissora pode falar entre si, como os escolares falavam aos valentões: “Vá procurar alguém do seu tamanho; não bata em mim”. São todas do mesmo tamanho, com o mesmo perfil, com a mesma limitação intelectual e, sobre tudo, não brigam entre si. A não ser dentro dos negócios produzidos pelo capitalismo. A SKY cortou o sinal da MTV. A MTV disse que a Sky não respeita o telespectador. A SKY justificou o corte do sinal, que agora só está sendo transmitido para São Paulo, dizendo haver um “abuso de preços” por parte da MTV quando da renovação do contrato com o canal de TV pago. A MTV quer para si a ubiqüidade divina quando diz saber que houve um desrespeito aos telespectadores. Em outra perspectiva. Os tele-espectadores, talvez agora, comecem a sair da cultura inútil transmitida pela MTV e tracem caminhos outros; bem que podem apenas migrar de uma emissora para uma outra que é a mesma (e aí está a moral televisiva). A SKY, economicamente (ou seja, dentro da ordem televisiva), está certa em sua justificativa. Quem não agüenta o agitadíssimo mundo business do capitalismo é cortado.
Se as emissoras na mídia televisiva, por conservarem a moral da ambigüidade, podem dizer juntas “Somos Iguais, não mudamos jamais”. Para ela também serve a advertência de um apóstolo. Então para que a mídia televisiva continue com os seus pares, citemos um apóstolo que foi um dos fundadores e fortificadores da moral: Paulo de Tarso.
“Ai daquele que enquanto prega aos outros é ele próprio um réprobo!”