O fantasma da moralidade

Os conceitos como corpos imateriais ativadores dos enunciados trocam suas performances lingüísticas de acordo com a ordem dos discursos que eles procuram realizar em seus campos pragmáticos. Entretanto, na filosofia os conceitos tendem, depois do exame lingüístico a que são submetidos, a serem endereçados aos campos históricos produtores de suas emergências. Exame lingüístico/filosófico que o liberta do aprisionamento da força mítica e mística suporte da linguagem senso comum.

Apanhando, no caso em questão, o conceito espírito, teologizado lingüisticamente como alma, ente etéreo volátil, essência transcendental do homem que, metafisicado no dogma religioso, em sua emanação histórica/filosófica carrega o sentido de mente, razão, pensamento, logos, discurso, fala, de uma indivíduo ou de um povo, e em seu desdobramento marxista, a realidade política de uma época. Ou, como um povo se expressa, em um tempo e espaço, de acordo com suas estruturas econômica, política e social, que possibilitou ao filósofo desdobrá-lo e significá-lo como a força produtiva de uma sociedade, que quando de sua falta, torna-a sem espírito. Pois, para ele, há épocas sem espírito. As épocas da alienação de uma sociedade.

O USO DA CONDIÇÃO MORAL DE PERES

Este conceito epistemológico é o que nos interessa para arriscarmos um comentário sobre o senador Jefferson Péres e a avidez perversa (no sentido de desvio de seu objetivo) que alguns candidatos ao cargo de prefeito de Manaus, estão consumando para fazer uso da qualificação que lhe foi imposta politicamente como “reserva moral do Brasil”, para conseguir êxito em suas candidaturas. Como diria o filósofo Sartre, o cadáver ainda nem esfriou e os ímpios já se põem a devorá-lo.

É notícia em Manaus que discípulos do senador disputam entre si a presença de sua viúva como vice em suas chapas. Essa perversidade democrática nos coloca na vertigem da imobilidade moral. Eles dizem que o senador era seu modelo moral. Por quê não se modelaram a ponto de não executarem essa dança macabra sobre o cadáver ainda quente? Duas respostas: Uma, para eles o senador não era nada de”reserva moral”, por isso agem desta forma, expondo o que realmente pensavam sobre ele. Duas, o senador era modelo de “reserva moral”, mas só para o uso calculista no mercado do lucro ‘político’, já que o conceito de moral, na sociedade do capital, é apenas uma moeda retórica para se apossar do iludível poder. Por isso, é mais lucrativo conceituar alguém como modelo moral do que se fazer um homem moral em seus atos políticos. Aí a exuberância de enunciações exaltadoras das qualidades morais do senador Jefferson produzidas por anti democratas como Mão Santa, Arthur Neto, Agripino Maia, Jereissati, Sérgio Guerra, Afraim, e tantos outros que não conseguem produzir um só soluço democrático.

O certo é que este sinistro ritual apolítico, demonstra o quanto de dor carrega a religiosidade-moral destes ambiciosos que em seus atos anti-cristãos (para quem acredita) ao invés de somar votos para suas calculistas eleições, afirma ao povo de Manaus que não possuem as qualidades democráticas fundamentas para governarem uma cidade, que, acima de tudo, precisa da convivência política/moral de seus administradores que há muito não vivenciam.

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