O que Toni Bellotto disse: fala ou frase?

A fala não está separada de uma práxis social. Ela surge como a composição de processos heterogêneos, fisiológicos, psicológicos, históricos, econômicos, sociais e políticos. Daí a fala ser uma percepção destacada do processo de assimilação da realidade espaço/temporal pela experiência (órgãos sensório-motores) mais o intelecto (ação Neuro-Cognitiva). A fala não pode ser considerada uma criação pura, mas uma seleção individual de atualização de uma ação coletiva: primeiro são captados os códigos do espaço/tempo perceptivo, depois realizado uma combinatória destes códigos, segundo a redundância da língua (instituição e sistema), para, enfim, expressar um discurso (mas a língua não determina a fala). Então, a fala é um posicionamento no mundo: como o mundo é percebido individualmente, como o mundo é lido e interpretado, como ele é sentido, como ele é comunicado. Falar é se posicionar frente a uma situação e expor publicamente sua opinião. A fala é sempre pública, posto que seja ação libertadora objetivando o bem comum para a cidade. Assim, a fala não é a redundância de significantes ou a imposição de clichês como palavras de ordem. Então uma frase pode ou não ser uma fala. Caso ela apenas siga a justaposição de palavras, segundo coordenadas que pretendem fechar os compostos da fala em sistemas e regras gramaticais, não é fala. Pois é montada no vazio do significante que não percebe o mundo em seus embricamentos, mas a partir de signos redundantes.

Neste movimento analisemos o que foi dito por Toni Bellotto sobre a TV Pública no Brasil:

TV Pública é uma piada. Primeiro, porque tem tudo para virar um instrumento de propaganda do governo. Segundo, é muito dinheiro investido para poucos resultados práticos. E nem deve ter muita audiência. Ninguém leva aquilo a sério.”

Primeiro, para o eleitor de Alckmin a TV Pública no Brasil é uma piada. Pois bem, ele concebe piada da mesma maneira como a mídia televisiva concebe humor: de forma preconceituosa e reduzida cognitivamente. Ele absorve o sentido vazio de piada como estória (ou história mesmo) sem interesse público, chacota, passa-tempo para diversão-vazia. Ele não percebe piada como humor que movimenta novos modos de existência e novas percepções da realidade, tais como uma TV Pública pode movimentar fazendo da informação/comunicação elemento de construção de opiniões públicas engajadas no bem comum, diferente das tevês que detêm a concessão de canais abertos presas ao grande amor no capitalismo: o capital.

Segundo, o funcionário da TV Globo diz que a TV Pública “tem tudo para virar um instrumento de propaganda do governo”. Não consegue perceber que a melhor propaganda do Governo Lula é o seu efetivo trabalho realizado ao país e ao povo. Mas por ser empregado da Globo, talvez só consiga ver propaganda como marketing que necessita retirar os objetos da efetividade do mundo e representá-los, esvaziadamente, como signos-clichês, por isso suporta ser funcionário da Globo.

Terceiro, o que não consegue ter uma compreensão de política para além da política profissional constituída, entende dinheiro preso a subjetividade capitalística. O vil metal deve suprir as faltas imediatamente. Não compreender o dinheiro como valor-equivalência como parte necessária a um processo. Daí não entender prática como práxis: processo de produção de subjetividade que ocorre nas composições que os homens realizam com a sua existência histórica.

Quarto, o que acredita que a banda Titãs faz críticas sociais diz que a TV Pública não terá muita audiência. Entende audiência como a sua patroa Globo. A partir do mensurador comercial IBOPE, que sela os contratos entre empresários donos das concessões dos canais de televisão e empresários de outros ramos. Entende-a como maioria, logo dentro de um metro-padrão. Não perspectiva (não enxerga além do que lhe é imposto) uma audiência fundamentada na minoria que percebe a informação/comunicação a partir de outros códigos que não sejam os mesmos da subjetividade capitalística.

Quinto, o inserido na tristeza da mídia seqüelada televisiva diz que ninguém levará a TV Pública a sério. Nisto ele acertou. A proposta da TV Pública é escapar ao padrão do médium televisivo, então deve escapar à tristeza, logo deve escapar a seriedade, como podemos perceber na filosofia de Sartre. Então a TV Pública pode caminhar fazendo o seu caminho na alegria e no humor necessário à liberdade.

De quebra, Toni Bellotto, o fixado empregado da TV Globo, afirma, confirma e deixa mais do que claro todo o pavor que os canais de tevê da mídia golpista/seqüelada reduzida epistemologicamente está sentindo com a movimentação da TV Brasil.

Então perguntamos: o que foi dito por Toni Bellotto é uma fala ou uma frase?

Respondemos: Toni Bellotto faz valer sua moral burguesa e sua incapacidade cognitiva de perceber o mundo em uma objetividade fora daquela ditada pelo capitalismo e seus instrumentos coercitivos como a mídia televisiva seqüelada. Logo ele diz uma frase. E no auge de sua limitação moral burguesa tem Público como contrário de sua realidade privada. Privada não só em casas fechada por altos muros, mas porque não consegue perceber Público como Povo. Então só lhe resta entender Público em sentido pejorativo.

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