ECONOMIA DOMÉSTICA ― NO BALANÇO DOS PREÇOS
O PREÇO DO PORCO NO DES-GOVERNO DA CHEIA
Dona Candeia (entra na cozinha de Dona Juracy): Oh!, Juracy! Oh!, Juracy!Trouxe os ingredientes para preparar a feijoada para a festa!
Vó Juracy: Que bom! E a cheia continua fazendo o preço subir?
Dona Candeia: Tá mesmo! Além do preço subindo no “pau de sebo”, para entrar no mercado tem que pular por cima de pontes improvisadas pelos comerciantes! O rio já encheu muito, e tá empurrando de volta toda bosta que os prefeitos fizeram em Manaus! É a Iara que não quer mais seu rio poluído! Cadê o Tiquinho?
Vó Juracy: Manaus não tem tratamento de esgoto! O Tiquinho tá lá no fundo do quintal com o seu Pixa, ensaiando o Bumbá-Meu-Boi! Já sabe qual a lenda que vai contar na festa?!
Dona Candeia: Já sim! Depois quero contar ao Tiquinho! (Entra com seu Pixa na cozinha, cantando e dançando):
Eu tô soltando toada!
Mexendo com a ilha
Confirmando meu valor…
Eu tô soltando toada!
Mexendo com a ilha
Confirmando meu valor…
Garoto traz o mexiquerador!
Eu vou dar matacá neste cantador!
Garoto traza o mexiquerador!
Eu vou dar matacá neste cantador!
Vó Juracy: Que beleza essa toada! Só o Pixa para fazer a gente se lembrar de nossos laços culturais com nossa terra! Ah!, meu Maranhão!
Seu Pixa (continua a dançar com o Tiquinho): E a feijoada, vai ter?
Dona Candeia: Fui comprar feijão! Encontrei o feijão Preto de 4 tocos a 4 e meio, vai 5 tocos. Não da pra comprar não!
Tiquinho: O Curupira vai falar com Iara pra baixar as águas do rio e junto com ela o preço, não é, vó?
Vó Juracy: Vai mesmo! E o feijão carioquinha, deu pra comprar?
Dona Candeia: Pensei em comprar, mas tava R$ 2,50, encontrei de R$ 3,00, foi a R$ 4,00, e tem até de R$ 5,00. Vai na feijoada?
Seu Pixa (noutra toada): Curupira, cadê Meu Boi?
Ê, meu Boi!
Curupira, cadê Meu Boi?
Ê, meu Boi!
Deixar soltar o Urro!
Nos cantos e encantos da Natureza!
Para essa gente acordar!
Tiquinho: Curupira vai falar! Curupira vai falar com a Mãe das Águas pra fazer o preço baixar, não é vó?
Vó Juracy: Vai mesmo! E o feijão rajado, subiu no preço?
Dona Candeia: O preço era R$ 3,70, foi a 5 tocos e quem pode comprar de 6 reais vai pular o banzeiro de bosta!
Seu Pixa (pega o aluá e começa a servir a todos): Vai uma dose de aluá?
Curupira vai deixar meu boi urrar na floresta!
Urra! Urra!, meu boi bonito!
Vó Juracy (prova o aluá): Ei, tá! Até a festa isso vai tá uma beleza! E o feijão branco e o manteiguinha, nem esses deu pra comprar?
Dona Candeia (dá uma talagada): O aluá tá bom mesmo! Docinho! Docinho!Porque o preço do feijão branco é amargo, de 5 e 6 tocos; o manteiguinha, de 6 a 7. Vai feijoada sem feijão?
Tiquinho (cantando): Iara, Mãe dos Rios!
Houve o Curupira encantar!
Iara, Mãe dos Rios!
Houve o Curupira encantar!
(perguntando) Não, é vó?
Vó Juracy (passa a mão no rosto do tiquinho): A Iara vai escutar sim, meu Tiquinho! E a farinha branca, subiu nas águas?
Dona Candeia: Subiu também! E não é culpa da Iara! Muito menos do Curupira! Vai de 2,50 a 3,00 reais a seca, e a surui, 4 reais. Não tem como comprar mesmo.
Seu Pixa: Peraí! Curupira não deixa o porco sumir no preço! Feijoada sem feijão é brabo. Feijoada sem “leco leco”, tô lascado! Vai baixar o rio, minha Mãe Iara?
Vó Juracy: Vai, diz logo o preço, que eu vou tomar uma dose de aluá para aguentar a subida do preço!
Dona Candeia: Deixa eu tomar mas uma também! A orelha do “leco leco”, 8 tocos o kg; pé, também 8 tocos o kg; um rabinho (Rhuuuu!) 8 tocos o kg, a língua, que não é a que a Catarina gosta, tá 12 reais o kg.
Tiquinho: Ainda bem que a Catirina só gosta dá do boi.
Dona Candeia: Coitado do Chico se ela desejasse a do porco!
Seu Pixa: A costela da Eva, vai ter?
Dona Candeia: Da Eva pode até ser! A do “leco leco” tá de 10 tocos, vai a da Eva ou a do porco?
Vó Juracy: Linguiça, paio e bacon para dá um gosto, vai ter não?
Dona Candeia: Tudo um preço só 12 paus, e só é vendido em duas bancas. Deu não, minha amiga! Deu não!
Tiquinho: Candeia! Não vende tudo misturado não?
Dona Candeia: Tem, meu filho! Mas quem vai comprar de 9 tocos o kg.
Vó Juracy: Não vamos desanimar! A alegria faz parte dessa comunidade, e a festa vai ter assim mesmo, não é, Pixa?! Manda um canto para compor a alegria de estar com vocês. E, Candeia, conta a tua lenda! Vai! Eu e o Tiquinho acompanhamos com o pandeiro e o checo-checo que ele aprendeu a tocar!
Dona Candeia: Eu começo! E o Pixa canta no final da lenda!
Seu Pixa: Enquanto isso, eu aqueço com o aluá!
Tiquinho: Ei, quero pedir uma coisa à Candeia. De tanto falar na Iara, dá pra contar a lenda sobre ela?
Dona Candeia: É ela que vou contar agora. Vai, Jura, toca esse pandeiro! Lá na Paraíba li um livro que dizia que: “A Sereia européia – e grega – encontrou no Brasil duas mitologias dos povos formadores de nossa nação, onde há uma entidade feminina ligada à água possuidora de dotes maternos, e beleza capaz de enamorar o incauto que vagueie em seus domínios. Assim é Iemanjá, Dona Janaína, Princesa de Iaocá, Rainha do Mar, dos cultos afro-brasileiros, dominando mares e amando Xangô. Mãe e amante dos afoitos pescadores e mestres de saveiros dos mares do norte. Assim é a Iara dos indígenas, habitando rios e enamorando-se dos bravos e solitários guerreiros das tribos amazônicas. A mitologia indígena é constituída de deuses – Heróis míticos, criadores e civilizadores, que deram origem às tribos, que deram origem às primeiras coisas aos homens – e demônios ou gênios maus – com poderes quase idênticos aos deuses – que maltratam e perseguem índios. A estes, como aos primeiros, seguem os selvagens prestam culto, com cerimoniais que incluem canto, dança e oferendas.” Deixa eu tomar um pouco de aluá para continuar o canto!
Vó Juracy: Cuidado, Pixa! A Irara vai te encantar!
Seu Pixa: Vou já para a beira do rio!
Dona Candeia: Olha o encante, Pixa! “A Mãe das Águas, Iara, é uma personagem do nosso folclore brasileiro. De acordo com a lenda, de origem indígena, Iara é uma sereia (corpo de mulher da cintura para cima e de peixe da cintura para baixo) morena de cabelos negros e olhos castanhos. A lenda conta que a linda sereia fica nos rios do país, onde costuma viver. Nas pedras das encostas, costuma atrair os homens com seu belo e irresistível canto. [Olha o encante, Pixa!] As vítimas costumam seguir Iara até o fundo dos rios, local de onde nunca mais voltam. Os poucos que conseguem voltar acabam ficando loucos em função dos encantamentos da sereia. [Tá vendo o que acontece com os homens, Pixa?] Neste caso, conta a lenda, somente um ritual realizado por um pajé – chefe religioso indígena, curandeiro – pode livrar do feitiço.” Nem o mijo da Catirina te salva!
Vó Juracy: Ainda vai pro rio, Pixa?
Seu Pixa: Vou mesmo! Vou tomar aluá com ela no fundo do rio! Conta sua origem para o Tiquinho saber!
Dona Candeia: “Contam os índios da região amazônica que Iara – [Ouviu, Pixa?] – era uma excelente índia guerreira. Os irmãos tinham ciúmes dela, pois o pai a elogiava muito. Certo dia, os irmãos, como forma de defesa. Após ter feito isso, Iara fugiu para as matas. Porém, o pai a perseguiu e conseguiu capturá-la. Como punição, Iara foi jogada no rio Solimões (região amazônica). Os peixes que ali estavam a salvaram e, como era noite de lua cheia, ela foi transformada numa linda sereia.”
Tiquinho: Então Iara significa “aquela que mora nas águas”, não é, vó?
Vó Juracy: Belíssimo! Belíssimo!, Candeia! É mesmo, Tiquinho! E ela vai baixar as águas para a gente festejar São João! Mas espero que ela encante todos os maus políticos que dizem cuidar dessa terra!
Seu Pixa: É que é para eles serem comidos pela pirará lá no fundo do rio!Posso cantar?!
Dona Candeia: Pode mesmo! Canta logo, home, que a noite já vai chegando, e a Iara vai tá te esperando!
Seu Pixa: Deixa ela me encantar!
Ô dona da casa, deixa meu boi entrar!
Ô dona da casa, deixa meu boi entrar!
Que no som da matraca ele possa sua casa alegrar!
Que no som do Zabumba ele possa sua casa alegrar!
Urra, meu boi, na alegria da canção!
Urra, meu boi, na alegria da canção!
Sou morador da Santa Luzia,e a muito que não sei o que é uma festa de bumba meu boi!Peço de vcs que mandem o endereço da festa dessa comunidade,pois sinto muita falta dessa alegria!Antonio.
Sabemos que nessa terra, a miseria de quem administra a cidade, é produzida para escravisar a consciencia dos cidadões ate pela barriga,a ausencia de poder aquisitivo para comprar alguns generos alimenticios em manaus, o aumento dos preços são exemplo disso,que a comunidade de vcs-tiquinho,D.juracy,D.candeia e pixa-nunca deixem de serem alegres,apesar da cheia de tristeza dos governamtes!Maria do Carmo-Colina do Alexo.
Esse aumento nos preços,tem interferido na vida cotidiana das pessoas,modificando os seus habitos alimentares,não podemos mas comer aquilo que gostamos!E agora!?Espero também,como a Dona Juracy que a Iara leve todos esses mau politicos para ofundo do rio,para a pirara comer!Sebastião-Matinha.