Se a Vertebral não analisou nada se realizou

Coluna Vertebral

# “200 ANOS DE IMPRENSA BRASILEIRA SEGUNDO QORPO-SANTO”, título da palestra da filósofa Filó em uma escola de ensino fundamental na Zona Leste de Manaus. Vertebralmente, fui. Por que não iria? Adoro os subúrbios. Adoro crianças e jovens, pelo menos ainda não foram, de todo, capturados pelo buraco negro dos adultos reativos, como diz a própria Filó. Foi uma verdadeira borbulhança comunicacional, política, ética e social.

Filó começou comentando a importância revolucionária de Gutemberg, criador da imprensa, linguagem literária. O fundamento histórico do homem poder imprimir suas idéias e fazê-las veicularem pelo mundo afora. Mostrou os tipos de folhetins que corriam a Europa dos séculos XVII e XVIII com notícias cotidianas, algumas fortemente mistificadas. Algumas histórias que se tornaram casos jurídicos-psiquiátricos, sempre com auxílio da platéia participativa e atuante. Comentou a Aldeia Global de Mc Luhan, como teoria da comunicação de uma sociedade de consumo. Discorreu sobre o aparecimento das primeiras agências de notícias, e sua comercialização, o que tornou o jornalismo capitalista uma verdadeira batalha competitiva pelo privilégio das notícias. Fez uma agradável e inteligível exposição histórica para chegar ao personagem de sua palestra: O Decálogo aos Jornalistas, de Qorpo-Santo.

Entregou, para agitadíssima galera, folhas de papel contendo breve notas sobre Qorpo-Santo, onde se encontrava o seu Decálogo. Pediu que fosse lida, e depois pediu que alguém lesse em voz alta as notas. Uma linda pré-adolescente leu em uma voz segura e com o rosto feliz. Leu que ele era de origem gaúcha, vivera entre 1829 e 1883, foi crítico ferrenho de sua época, várias vezes internado com diagnóstico de distúrbios mentais, escrevera uma Ortografia, foi tido como o criador do teatro do absurdo, dadaísta, surrealista, escrevera várias peças de teatro, como: Hoje Eu Sou Um; e Amanhã Outro; Eu sou Vida eu não sou Morte; Lanterna de Fogo, entre outras.

Filó interferiu felicíssima, e pediu que a jovem só lesse, do Decálogo, somente as proposições sexta, sétima e nona. A jovem leu o título que Qorpo-Santo colocara em sua enunciação: “O que é; ou como deve ser um verdadeiro redator de jornal”. Então, foi lendo as proposições.

Sexta “Conservar sempre certa firmeza de caráter, brio e dignidade.”

Ambrósio, parecia que tinham jogado um coquetel Molotov de gargalhadas irônicas, no recinto. Ouviu-se até alguns, “Tá, Santa!”. A jovem segurou a parada hilariante e continuou.

Sétima “Que seja homem dotado de probidade e honra.”

Quase a casa cai. Algaravia total. Piração! Desencontro de vozes carregadas por gargalhadas efusivas. Novamente a jovem segurou a parada e anunciou a nona.

Nona “Que tenha sempre diante dos olhos mais o interesse público que o particular, não vendendo por isso mesmo as colunas do seu jornal a miseráveis, ou malignos especuladores.”

A casa caiu! Manifestação geral! Estudantes em cima de cadeiras, dançando, individual, em grupo, balançando as folhas com o Decálogo, eu me rasgando de rir, a Filó, unida à direção e ao corpo docente, todos gargalhando e se movimentando em ondulações dionisíacas, um verdadeiro louvor ao saber que conduz a ética comunalidade. Frases rolando aos cântaros (gostou dos cântaros, Senhorinha Felipe, nesta segundona TDPM Transtorno Disfórico Pré Menstrual?): “A Globo tem dignidade! O casal BonnerSimpson tem interesse pelo público, não é Lula?! A Veja tem um verdadeiro redator! Tudo comprado pelo capital. A Folha de São Paulo, Estadão, Globo, todos têm “firmeza de caráter”! Não vamos esquecer os nossos, principalmente em tempo de eleição, que escolhem o “bom candidato”! E sempre mais sentenças juízos sobre a imprensa brasileira. A Filó chegou perto de mim, me abraçou, e disse: “Cacete, Vertebral, que loucura maravilhosa! E ainda dizem que essa moçada é alienada!” E acrescentou: “O filósofo Baudrillard tem razão: é a voz silenciosa das massas. Tudo que as ditas ‘ortoridades’ não vêem”.

De repente, como se tivessem ensaiado, ouviu-se um coro uníssono:

200 ANOS DE QUÊ!?”

Depois deste toque

Não cansarei do Rock.

Beijos e abraços Vertebrais!

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