A VIOLÊNCIA COMO METRO PADRÃO DOS TELEJORNAIS

O que é presente nos telejornais, em qualquer que seja a emissora de televisão, é a violência. Esta se conserva na escalada destes programas, definindo a redução epistemológica própria à estrutura do telejornal. Não é somente uma questão de quantidade: “quanto mais notícias sobre violência, melhor”. Ainda, não diz respeito aos altos índices de violência computados por instituições e divulgados pelos veículos de comunicação: o que validaria a justificativa que se há uma grande quantidade de notícias sobre violência é porque o país é violento. Sendo estas as opiniões dominantes e veiculadas na sociedade, outra hipótese escapa ao óbvio da mídia golpista. Trata-se, antes, de manter a violência como um metro padrão que possa se servir da violência como constante de base de relação para outras notícias. Aqui apresentamos três constantes.

Constante I: A Presença da Violência nos Telejornais

Nós vários blocos a que um telejornal dispõe, mais da metade é dedicado a notícias sobre violência. Há casos em que em dois blocos completos são direcionados a esta temática. Continuando como notícias que vão se entremeando entre outras ao longo dos outros blocos, divididas em nacionais e internacionais. Fazendo com que a violência seja o principal enunciado dos telejornais. Isto se agrava com programas que fazem parte das centrais de telejornalismo de diversas emissoras, especializados em reportagens policiais. Nestes, como nos telejornais diários, a violência é dissociada da ponte que é levantada entre o global e o local. É tratada como um assunto isolado como não fazendo parte dos acontecimentos próprios à existência e seus níveis sociais, econômicos, cognitivos, biológicos e afetivos. Menos ainda é apresentada à grande parcela de responsabilidade da mídia que, com a sua insuficiência cognitiva, reforça a violência quando veicula informações sem antes analisá-las ou até mesmo verificar suas procedências. Sempre agindo segundo interesses daqueles que garantem sua conservação financeira.

Constante II: A Relação Violência e Governo Federal

Uma notícia sobre violência, logo em seguida uma sobre alguma denúncia contra o Governo Federal. É sabido o quanto a mídia seqüelada, de fortes vínculos com a direitaça, tem se esforçado para demonstrar falhas no Governo Lula. Daí as relações entre notícias sobre violência e sobre o Governo Federal. Foram numerosos os casos. Como ilustração, podemos citar o caso de 2006, segundo turno das eleições para presidente, quando o Jornal Nacional divulgou as fotos montadas do dinheiro que estavam com os petistas Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha, que seria, supostamente, utilizado para a compra de um dossiê contra o candidato ao governo do Estado de São Paulo, José Serra. Sendo que as outras emissoras divulgavam a noticia e informações sobre a queda do avião da empresa aérea Gol. Somente depois que os telejornais da Rede Globo de Televisão (RGTV) começaram a divulgar o acidente aéreo, explorando a dor dos parentes das vítimas. E, mais depois, telejornais de outras emissoras reproduziram as fotos tiradas do dinheiro. Os telejornais durante o Governo de Lula aumentam seus enunciados de violência tentando ligar este governo à hipótese de um país por demais violento por causa de uma má administração. Disto as conseqüências são um aumento abusivo do pânico que os telejornais constroem na sociedade, como foi o caso das noticias sobre a febre amarela, emitindo enunciados de violência sem nem um pouco de inteligência e as numerosas contradições que os telejornais cometem quando são obrigados a noticiar os bons índices de desenvolvimento para o país em várias áreas, proporcionados pela gestão Lula no Governo federal.

Constante III: A Violência que Evidencia a Redução Epistemológica Midiática

Os telejornais pretendem fazer da violência um problema específico para o país. Pretendem demonstrar um país em crise, que sofre de um grande mal: descaso com a justiça, com o povo, o país da impunidade. Sinal disto é quando as opiniões deixam de ser doxa, prática efetiva no espaço público onde as opiniões são instrumento de movimentação do bem público através da éris-philia, o conflito amigável, a discussão que pretende excluir da cidade as privações. E passam a ser reproduções dos enunciados midiáticos. Inclusive usando-se de pessoas-ícone famosas, que passaram por alguma situação classificada como violenta, para demonstrar a hipótese de um país violento (e surge o desespero midiático quando esta hipótese não é confirmada, como no caso da assalto a Paulinho da Viola). Monta-se daí uma cadeia de significantes que trazem a violência como um signo indissociado do estado de coisas onde se encontra e sem nenhuma relação com a constituição do controle social exercido a nível global e local. Pela redução epistemológica da mídia não passa o entendimento do que é específico. A mídia acredita ser especifico apenas o que é característica exclusiva e especial de algo: então, a violência como característica nociva exclusiva e especial da atual organização do país. Não chega a sua insuficiência cognitiva o conceito de específico como uma característica que transita pelo nocivo e o benéfico. Acreditando, irracionalmente, que usando a violência como metro padrão para todas as outras notícias, poderá mostrar sua preocupação com a sociedade e o cumprimento de seu dever cívico de realizar um serviço público, a mídia gera o terror, o pânico e a ausência de esclarecimentos sobre as razões da violência em um país, em um local, no mundo. O específico é como o “pharmakon” (fármaco/droga), é benéfico e nocivo. Quando a mídia acha estar agindo especificamente de forma benéfica, ela age nocivamente para com a existência das pessoas. O que evidencia sua perversidade e acentuada redução epistemológica.

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