! Era uma vez um reino muito miserável. Não por causa de seu povo, mas por causa de uma classe nobre muito rara: a parlamentar. Esta classe, em aliança com a dos comerciantes e dos comunicadores, em nome da ética na política todo momento enunciada, produzia um voraz banquete de corrupção. O povo, que não podia reagir, por se achar preso pelas leis contra suas reivindicações, vivia amordaçado. Eis que em um certo dia um parlamentar ao se aproximar da tribuna para proferir mais um discurso contra o povo, caiu, bateu a cabeça e meio grogue discursou o inesperado: era preciso criar uma lei que obrigasse todos os parlamentares saberem o que era ética. Foi um alvoroço. Mas ele continuou, dizendo que essa idéia era porque desconfiava que o povo estava tramando, na surdina, uma rebelião. Por isso, era preciso sair na frente para acalmar os ânimos do populacho, e a saída era essa. Com medo, todos concordaram. E para convencer a ralé, todos deveriam fazer uma prova, explicando o que era ética. Alguns contestaram, afirmando que esta obrigação seria para os futuros parlamentares. Ele protestou, argumentando que se não fizessem a prova, a plebe desconfiaria que eles não sabiam o que era ética, e, portanto, não sabiam o que era democracia, e explodiria a revolta. Com o medo exacerbado, aceitaram. Elaboraram a lei, aprovaram e fizeram a prova. Aí surgiu um problema: quem iria corrigir a prova e dar as notas? Para ganharem mais confiança do populacho, escolheram dois membros da classe miserável. Um velho e um jovem. Eles corrigiram as provas e o resultado caiu na boca do povo, que se sentiu mais forte e foi pela primeira vez para rua lutar pela democracia: ninguém sabia o que era ética. Todos foram reprovados com zero estrelado. Como tinham aprovado uma lei para dividir o reino em dois, como mais um ardil para corrupção, desatinaram com o resultado da prova, certos que o povo ia enforcá-los, e se mandaram para a outra terra. Como eram preguiçosos e inúteis, logo o pedaço de reino foi consumido pela miséria e a nobre classe desapareceu. Já no reino, antes miserável, foi fundado um reino democrático alicerçado sob o primeiro sentido grego da palavra ética (éthos): habitat, morada. Com o tempo, pela práxis comunitária, compuseram com outro sentido: modus de ser de um povo. Viver produzindo afetos alegres como eternidade.

!! Os dois amigos sempre saíam juntos para tomar uma cerveja depois do expediente. Falavam de mulheres e do ódio que sentiam pelos gays. Num dia, beberam além do costume e, sem perceberem, suas mão ataram-se. Beijaram-se intensamente e acordaram juntos em uma cama de motel. Combinaram de ir falar com suas mulheres sobre a descoberta do amor. Reuniram-se os quatro, os dois ficaram um tanto na evasivos, sentindo dificuldade em falar e quando finalmente um deles falou, as duas caíram na gargalhada, enroscando-se na outra. Quando puderam fala, uma delas apenas disse: Não tem problema, há dois anos que somos amantes. Um foi pegar uma cerveja na geladeira, enquanto a outra colocava um cd do Bartô pra rolar.

!!! Ela parou perto dele, que fitava o horizonte e ele lhe perguntou se ela achava lindo o pôr-do-sol. Ela respondeu que não. E completou que o sol não se põe. Quem se põe são as esperanças.

!!!! A professora perguntou ao menino quem havia descoberto o Brasil. Ele, sorrindo, respondeu que o Brasil não havia sido descoberto, mas sim criado, e que seus habitantes não eram brasileiros. Eram linhas e pontos desta criação.

!!!!! E o profeta diante de seu povo, proferiu: Quem viver amanhã não verá o futuro, pois estará morto.

!!!!!! A flor caiu sobre o leito do rio e ele, seguindo para o mar, ficou feliz. Exuberante de felicidade, quando se aproximou do mar, mudou seu curso e a flor murchou.

!!!!!!! Era uma vez, uma vez.

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