A TRAJETÓRIA DE NOCHÊ HUNJAÍ EMÍLIA DE TOY LISSÁ
No sábado passado (10), Nochê Hunjaí Emília de Toy e Lissá, completou seus 64 anos de idade. Ela, que recebe entidades desde menina, mas que, nos seus percursos, passou por diversas religiões, desde o Catolicismo, passando pelo Kardecismo, até chegar às religiões afro, Umbanda, Candomblé e, finalmente Mina Nagô, fala de sua trajetória na religião, deixa-nos suas reflexões sobre o papel das religiões e, sendo presidente da Fucabeam, fala também do trabalho à frente dessa entidade na luta pela liberdade de culto e pluralidade cultural. Com sua serenidade e afetuosidade, nessa conversa que tivemos com Mãe Emília, é de se observar a linha contínua de preservação e autenticidade do culto e no cuidado com as religiões afro, uma vez que, além das suas responsabilidades particulares do seu terreiro, ela exerce um papel político-religioso na relação entre os terreiros, entre as diversas religiões com os cultos afro e destes com o poder público. Então, publicamos aqui suas sábias palavras, entremeadas com fotografias que ela nos cedeu de seu arquivo pessoal, que retratam sua trajetória…

Sou Mãe Emília de Toy e Lissá. Toy é o grande Pai, dentro da Mina; e Lissá é o mensageiro, o Deus do Sol; Agbê Manjá é aquela mãe divina e maravilhosa, que é mãe dele. Minha mãe era filha de portugueses, o pai dela era português, e meu pai já era descendente de escravos, a bisavó dele e a avó foram escravas. E, outra mistura, minha mãe era cearense e meu pai, maranhense. Mas eu nasci no Amazonas mesmo. A minha vida espiritual começou muito cedo. Minha mãe era espírita e quando eu, com meus sete anos, comecei a receber entidades, minha mãe suspendeu, porque eu era muito pequena, ela dizia que eu não aguentava, desmaiava. A primeira entidade que eu recebi, na minha infância, foi o Rei da Lira, e depois Tapindaré, um turco; trabalhei muito com Dr. Menezes de Bezerra, no espiritismo, e ainda continuo, quando faço mesa astral aqui, eles vêm pra trabalhar, quando é preciso fazer uma mesa branca pra cura.

E a vida continuou. Lutando, batalhando com eles, porque eles queriam vir. Aí, com meus dezessete anos, eu comecei de novo a receber entidades. Não teve mais jeito, só parei quando fui para o convento. Fui professora de catequese no convento da Auxiliadora, no tempo daqueles padres antigos, capuxinhos, Frei Domingos, Frei Felipe. Então, meu destino é que eu queria ser freira, pra me livrar. Eu comecei primeiro na Igreja de Fátima, na Pça 14, a primeira igreja que teve, de palha, pequenininha, com a irmã Maria, a irmã Aurora, e destinei ir pro convento, eu tinha uns dezoito anos, era muito nova. A vida continuou, e quando era pra eu viajar pra Belém pra ir para outro convento, minha mãe achou que não, que meu destino não era aquele, aí não fui.


Fiquei só dando aula de catequese, não pude continuar no convento. Mas na igreja, assim mesmo, dando aula de catequese, participando de tudo, eu incorporava dentro da igreja. Então o bispo chamou a minha avó, que era uma franciscana já antiga, e disse: “Emília tem outro destino, não é esse, vai servir a Deus de outro jeito”. Frei Felipe, ave-Maria, fui pra minha casa, fiquei muito triste: “Que religião?” “Pra onde eu vou?” “Porque isso?” Eu achava até que era um absurdo. Aí fui morar com uma madrinha, comecei a me formar de costureira, de um monte de arte. Fiquei com ela um tempão. Foi quando conheci um rapaz com o qual me casei. Gostei dez anos e me afastei do santo um pouco. No dia do casamento, os padres ainda perguntaram na São Sebastião: “Emília, não casa que tu não vai ser feliz.” Mas aí, né? Conheci, gostei, o primeiro namorado foi ele. Me casei.


Mas depois começou a voltar tudo de novo, aí eu prometi a Deus que eu ia voltar, mas que eu queria conhecer a vida espiritual pra saber onde eu tava pisando. Eles começaram a vir, começaram a fazer curas maravilhosas, a Cigana também tornou a vir. Ela dizia que era o anjo da minha guarda, que ela ia me proteger, que eu não temesse. Tive sete filhos, mas nunca eles me abandonaram. Ajudava muito meu marido, ele era fiscal de um banco. A vida continuou, e chegou uma época, já depois dos sete filhos, nós tivemos – o destino da vida – uma separação; ele achou que tinha de caminhar com outra pessoa. Eu disse que tudo bem. Se Deus achou que até aquele tempo que se tinha desenrolado em viver até a metade da minha vida com ele, e tive as sementes que Deus me prometeu, eu vi que dali pra frente ele tinha achado que meu destino era outro.


Aí eu fui batalhar, fui lutar, e prometi a Deus que se eu conhecesse mais a fundo a religião, eu ia me entregar de corpo e alma. Morreu pra mim amor; só para Deus e os Orixás. Caminhei pra Bahia, dei os primeiros passos, fui me preparar. Mãe Mininha falou pra mim: “Nunca mude, nunca deixe a religião, o fundamento que Deus lhe deu, e essa Cigana jamais você deixará, nunca, nunca…”

Eu fui bem preparada no santo: sete anos, quatorze, vinte e um anos. Quando rufou a minha mãe de santo, passei pra Jorge Itaci de Oliveira, Dom Jorge, de São Luís do Maranhão, da Casa da Fé em Deus, pra receber o decá, já era sacerdotiza. Com vinte e cinco anos de santo eu recebi o último grau. “Se é isso que Deus quer, eu vou até o fim.” E, hoje, dou graças a Deus e a estes sacerdotes que se passaram, com quem tive o conhecimento que eu queria. Aí eu acreditei que eu sabia o que eu tava fazendo; eu tinha entrado numa coisa que não era nada demoníaco, era aquilo que Deus me determinou na vida. E até hoje eu estou, tenho sessenta e quatro anos de idade, dentro da religião já vi do pior e do melhor, e continuo tendo mais surpresa na vida. Eu procuro sempre respeitar a Deus acima de tudo, porque sem ele ninguém é nada, por isso essa Cigana que eu carrego, eu digo pra ela: “Quem tu és?” Porque é um anjo da minha guarda, que me protege todos esses anos. Nos momentos mais difíceis da minha vida, quando eu fiquei desesperada, ela sempre tava do meu lado, e me dizia: “Minha filha, não temas; nada vai acontecer contigo nesse mundo.”


Aí fui trabalhar no Estado, na maternidade Balbina Mestrinho. Perdi tudo na vida, até minha casa teve uma época de ir pro leilão, mas reconstruí. Nada disso eu temia, eu dizia: “Se é isso que Deus quer, eu vou chegar lá.” E hoje eu consegui essa área aqui, e da Pça 14 eu vim pra cá. Lá eu já tinha um terreiro. Mas quando eu me casei, meus pais já eram velhinhos, eu precisava ter um pedaço de chão. Eles me ajudaram – Deus lá em cima e eles na Terra. Aí vim pra cá pra Cidade Nova, vinte e cinco anos vai fazer; de inauguração tem menos, porque eu vim batalhar, eu vim lutar, mas nunca deixei de ser o que eu sou hoje.


Me aposentei pelo hospital, na área de saúde, porque eu adoeci do coração. Fui pra São Paulo, fiz tratamento. O médico me deu três meses de vida, e eu estou até hoje. Faz vinte e quatro anos. Os santos me disseram que não, que aquele lá de cima disse que eu ainda não ia, que eu ainda tinha muita coisa pra fazer aqui. E a vida continuou, eu aqui trabalhando com essa Cigana até hoje, e digo sempre às pessoas, que Deus existe vivo para nós, e estes são os mensageiros que ele determina aqui na terra pra nos proteger. Deus lá em cima e eles aqui pra proteger a gente, porque todo o tempo nós estamos sendo movimentados por uma força da terra, todo o tempo somos movimentados por isso.



Fui desenvolvida no Kardecismo, passei pro Espiritismo, no Centro Tomás de Aquino, com as amigas, que, hoje, são Souza Cruz, Terezinha Tribuzy, aquele povo antigo, e depois eu passei pra Umbanda, da Umbanda pra Umolocô, e terminei aonde Deus queria. Eu tinha que conhecer cada uma religião, pra poder eu ficar nessa. Como que eu poder ajudar o próximo, se eu não tinha conhecimento. E hoje, graças àquele lá de cima e às mãos santas destes sacerdotes que me deram essa oportunidade de eu conhecer. Até hoje eu estou aqui com essa Cigana, ela tem uma história dela que ela conta pras pessoas, desde a minha infância. Ela tem um nome de segredo dela, mas só ela pode me autorizar de dar o nome dela. Hoje, dentro do santo, eu sou uma Gonjaí. O que é uma Gonjaí? É como se fosse um bispo, um papa. Mãe Emília de Toy e Lissá Gonjaí. É um título. Eu preciso dá título pra esse povo antigo, eles precisam ter uma história aqui no Amazonas pra contar, que já vem de muitos anos, gente que veio de fora pra cá, porque no tempo deles era o tempo da pajelança, que ninguém conhecia ninguém, ninguém homenageava ninguém. Por que que eu tive que ir pra fora? Porque na minha terra ninguém preparava ninguém, só era pajelança, eu fui na pajelança.

Eu pisei em todas as linhas pra chegar onde eu cheguei. Pra mim conhecer e saber como é e como não é. Porque um sacerdote, um bispo, quem for, tem que conhecer as leis sagradas, as leis lá de cima e as de baixo, senão vai falar besteira. Nós temos que ter conhecimento. Nós também temos a nossa faculdade tanto no mundo espiritual quanto no mundo do pecado, temos os sacerdotes, que têm de passar os conhecimentos pra gente. Sacerdote de verdade, preparado; porque um sacerdote, pra se preparar, ele começa com um ano, dá os primeiros passos – é como um ABC -, dois anos, passou mais no ABC, três anos, quando chega aos sete anos, ele já está preparado pra receber uma cuia dentro da Mina. No Candomblé, é decá. Aí é que começam as preparações pra ver se aquele ser humano já está preparado pra desempenhar a função, se realmente é um sacerdote. As entidades vêm ao mundo, hoje já tem entidade que toma uma cervejinha, tomam aquilo que dão, eles gostaram, mas é uma bebida totalmente diferente. Os voduns usam o quê? O vinho, que representa tudo. A cerveja pros cabocos representa o quê pra eles? A espuma do mar. O fumo é a fumaça. Até os cabocos, índio, Oxóssi, eles usam o quê? A caiçuma, que eles extraem da mandioca. A bebida de turco é totalmente diferente; eles gostam muito de fumar o toari, eles mesmos fazem, pra fazer descarrego, pra tirar as forças negativas.
Até hoje eu estou aqui com essa Cigana, ela tem uma história dela que ela conta pras pessoas, desde a minha infância. Ela tem um nome de segredo dela, mas só ela pode me autorizar de dar o nome dela. Ela fala um bocado de línguas, que às vezes as pessoas não entendem, é preciso uma pessoa pra traduzir. Hoje em dia ela já fala assim em português, porque ela falava só em dialeto, como se ela tivesse chegado aquela hora do Egito, como se tivesse vindo da Turquia. Eu tinha uma filha de santo, professora, que traduzia. Depois eu fui pedindo, fazendo obrigação, obrigação, ela foi mudando um pouco. Ela mudou muito, aí já começou a falar em outros idiomas. Que ela transmita paz, amor, e que lave o coração daqueles que estão exaltados ou que estão desesperados por uma perda, que ela dê muita paz e muito amor pra todos.

Eu me sinto aqui na terra como se eu estivesse mais pra lá do que aqui pisando, porque eu desempenhei a minha missão para eles. E eu quero conhecer cada vez mais, tenho participado de encontros lá fora, com os africanos, e aqui o que eu queria era saber mais sobre o resto das religiões que Deus me determinou aqui na terra, e devagar eu tô chegando lá. Até a data de hoje não me arrependo. Estou feliz, sempre procurando fazer tudo aquilo que Ele me determinou. Não tenho passado sujo na minha vida. Não, tenho só lágrimas e sofrimento, pra chegar onde eu cheguei, lágrimas de sangue, dores, momentos difíceis na minha vida os quais eu não entendia. Hoje, não, eu posso dizer: “Não, não chore suas lágrimas, que não é isso que Ele quer. Hoje, eu peço a paz pros meus amigos, e para aqueles que acham que são meus inimigos, que Deus dê muito conhecimento e sabedoria, que eles possam distribuir a paz.


Que bom que Deus botou você na minha porta, pra botar essas histórias verdadeiras. Histórias, mas verdadeiras, para o povo ver como realmente é, e até os da religião, que não é só se vestir de pai de santo; se você não tiver um conhecimento, o que você vai fazer. Eu digo sempre, pra todos que têm uma casinha aberta, que chega uma época que você precisa ter uma preparação. A entidade vem, mas nós temos de estar preparados pra isso. É como um professor, um médico; se eu vou passar um remédio pra Flor que tá com uma dor aqui, eu não posso passar aquela erva, se eu sei que seu problema não é aqui e sim no coração. O que pode acontecer se eu não conhecer a vida espiritual? Eles vêm e me dizem: “Aquilo serve; aquilo não serve.” Eu enxergo, eu vejo com aquilo que Deus me deu para eu enxergar.


É isso que a gente precisa: a união, a paz dentro da religião, pra poder continuar a ter esperança. Hoje nós somos criticados por falsos irmãos que não têm conhecimento. O que dizem os evangélicos? Que nós somos o diabo. Não, nós não trabalhamos com diabo. Ele foi um anjo maravilhoso, só que quis saber mais do que Deus. Os exus são os pequenos orixás que quiseram muito além daquilo que podiam, foram as vedetes, foram aqueles homens que andavam a noite inteira na farra, nos teatros, que se perderam, e hoje eles voltam com o nome que deram. Quem foi Tranca-Rua? Quem diz? Quem foi Maria Padilha? Não foram nada de diabo, não existe isso aí, o povo que inventa; existem sim trabalhos diabólicos, de magia. Existem pessoas que são mal esclarecidas e fazem isso, porque vem a força contrária, sim, mas só pra quem não tá puro nem preparado. Espiritualmente, você deixou uma força se colocar, se atravessar no seu caminho, pra fazer mil destruições. Mas Deus dá força e poder pra todos, depende de você saber usar. Você já nasceu um médium, porque Deus foi um espírito. Quando alguém sai das entranhas da mãe, aquele vodunço, aquele baculo está ali. Quem lhe pegou? Uma parteira, que o orixá dela era um, o da sua mãe é outro. Está só esperando na porta, pra aparar. Quando o bebê não quer chorar, é porque ele não quer reencarnar pra vir a esse mundo. Aí é preciso dá umas palmadinhas pra despertar pro mundo daqui. Essas coisas todas acontecem na vida espiritual e muitos não enxergam. É bonita a minha religião, linda pra você cultuar com amor, com paz, e pra unir com todas as religiões. Eu comungo, eu confesso, clamo a Deus noite e dia, rezo meus terços todo dia. Nós temos as histórias dos encantados, dos vodunços, dos pretos-velhos… Quem foram eles? Foram gente como a gente. Gente como a gente…


Para se atualizar no terreiro de Mãe Emília, acesse alguns trabalhos que lá realizamos recentemente, a partir do final do ano passado:
– 2ª RUNIÃO DA CARTOGRAFIA DOS CULTOS AFRO NO AMAZONAS
Mãe Emília,primeiramente quero me apresentar,sou neto biologico de Mãe Nazaré,filho de Vera de Xangô que hoje direciona a tenda São João juntamente com Mariazinha de Oxum que são suas irmãs de santo,quero lhe dizer que fico muito honrado por ter tido esse privilegio de conhecer um pouco de sua historia espiritual,foi um grande presente que Deus e os mentores da espiritualidade me deram pois você tem uma historia dentro do santo fantástica e é sempre bom agente conhecer as pessoas que fizeram e fazem parte do templo onde pertencemos,um forte abraço que te mandamos,atenciosamente,tenda São João!
emili espero que se lembre de mim que mais pai jorge fui inaugurar seu terreiro no manaus continou trabalhando no santo viajando fazendo voduns orixas encantados dirigindo a casa de oxossi a 45 anos fazendo radio a 23 anostoy vodunon vodunci agonjai serginho doxossi do belem do para meus fones 91 99844923 91 81446165 91 32333870 minha casa de axe fica na trav comendador pinho 71 sacramenta axe matnjalo aye
MEU NOME E RONISON SOBRINHO DE DONA FLORENCIA MORO EM BELEM TENHO 32 ANOS. MOREI NO BAIRRO DA FE EM DEUS CONHECI SENHOR JORGE BABALAO .LEMBRO DAS FESTAS DO TERREIRO.EU TOQUEI TANBOR VARIAS VEZES QUANDO IA COM MINHA TIA FLORENCIA. OBRIGADO FIQUE COM DEUS TEL:83466156 MORO NO BAIRO DO Paar em ananideua
RECONHECI MINHA TIA FLORENCIA NA FOTO E MEU TIO MIGUEL E LUIZINHO FIQUEI MUITO FELIZ .;UM ABRAÇO;;[ POPO ] RONILSON BELEM 83466156 ; 92315679 BAIRRO PAAR
Mãe Emilia meu nome é Raimundo, conhecido como Dico de Miguelzinho moro em São Luis MA nos encontramos no terreiro da fé em Deus casa de Iemanjá, mãe Emilia a senhora deixou saudades.. .