CLINAMEN
___ oblíquas variações infinitas dos corpos ___
_______________________viscosidade___________opacidade_________Introduzidos no mundo pela crença que toda imagem é a forma real da matéria e que se realiza inquestionavelmente pelo conceito, muitos homens são incapazes de abstrações. Não podem ser artistas. Não podem criar. Não podem ser governantes. Daí que são democratas só na idéia. _____________A muralha da China foi erguida para proteger seus criadores de inimigos invasores do norte. O povo arquiteto jamais viu os invasores. Os invasores nunca se mostraram diante da muralha. Os arquitetos esperaram. Como não apareceram, teceram o tempo da espera que foi apresentado para as posteriores gerações como história da muralha, a fortaleza da liberdade chinesa. Em agosto começam as olimpíadas. Vários povos chegarão. Os arquitetos mostrarão a muralha. Os povos escalarão. Satisfeitos realizarão seus desejos. Quem conquistarão? Os nômades, os imperadores, os comunistas ou os capitalistas? Ainda existe a muralha da China? “A natureza humana, na sua essência imutável, instável como a poeira, não consegue suportar prisões; se se prende, ela própria depressa começa furiosamente a rasgar as cordas, até conseguir destruir tudo, a parede, as cordas e o seu próprio eu” Kafka ____________________Há profissões que foram engendradas pelo homem nos percursos de seus movimentos históricos. A agronomia, a medicina, a engenharia são algumas. Porém, existem profissões que não foram engendradas nos atributos naturantes do homem, e sim postas como necessidades artificiais da cultura capitalista. A publicidade é uma destas profissões. Os publicitários publicaram seu manifesto esta semana, onde consta, como principal reivindicação profissional social, a posição contrária ao interesse do governo em querer estabelecer critérios de classificação às propagandas de alimentos e remédios. Acreditam eles que este ato é claramente uma forma de censura por parte do governo e que vai refletir no lucro das mídias, principalmente as TV’s. Elas que, segundo a lógica do marketing, têm sua base de sustentação econômica nas publicidades. Sem publicidades elas não sobreviverão. Não esqueçamos: muitos que operam nas mídias são proprietários de empresas de publicidade. Logo, as mídias se irmanaram com os publicitários contra o governo Todavia, sabe-se que a publicidade é uma prática supérflua, que só foi possível emergir graças às armadilhas do capitalismo com sua força mágica de produzir uma sociedade da opulência cruel, como diz o filósofo Marcuse. Ou uma sociedade de consumo, onde o desejo desapareceu, como indica Baudrillard. Universo objetal das inutilidades fascinantes. O que nos meados do século XX levou o escritor George Orwell chamar de “o fruto mais sujo produzido pelo capitalismo”. Os antigos diziam: “O que é bom não precisa ser embalado”. Mas a psicologia sensualista da publicidade, não lê este texto. Precisa realizar seu lucro com os objetos-reificados lançados pela industria de consumo. Não vê que o que ela chama de trabalho, não é nada mais do que parasitismo profissional. A publicidade vive do que os outros produzem. O que ela chama de trabalho não passa de psicodelismo sensorial audiovisual. Embrulhar a boneca-hipnogógica para realizar o consumo. Ou envernizar o produto com notas fascinantes. Também, não ouve o dito popular: “Quem muito elogia uma coisa, esconde outra”. Segundo informações sobre o mal da publicidade, os produtos que mais são veiculados pelas empresas televisivas são alimentos e remédios. Os alimentos são responsáveis pelo aumento de doenças geridas pelos açúcares e gorduras, e os remédios por efeitos colaterais perniciosos à saúde, dado a abusiva automedicação. Os publicitários ainda se consideram censurados quando são eles que, adeptos da mais baixa psicologia social, a psicologia do “otimismo”, impõem um tipo de censura ao comprador, insinuando uma mercadoria que, juntamente com outros objetos da sociedade de consumo, agem sobre sua vontade, confundindo sua livre escolha. Já que o comprador é constantemente envolvido pelos signos-mercadorias do universo objetificado. Não há qualquer humanismo na publicidade. A publicidade não é ingênua. Goebels, o senhor da publicidade nazista, conhecia muito bem esta lógica. O publicidade carrega afetos que só aumentam as paixões e diminuem as ações. Nisso, ser um mau encontro de corpos materiais e imateriais. “Sou um efêmero e não demasiado descontente cidadão de uma metrópole considerada moderna, porque todo o gosto conhecido foi subtraído tanto dos mobiliários e do exterior das casas quanto da topografia da cidade. Aqui não encontrareis os vestígios de nenhum monumento de superstição.” Rimbaud