O MEDIUM TELEVISIVO E A OPINIÃO PÚBLICA
A QUALIDADE DA OPINIÃO NO MERCADO DA GLOBO
Para Rede Globo, Qualidade é Respeitar a sua Própria Opinião
Para a Rede Globo de Televisão (RGTV), é difícil entender o que é Opinião. Para ela a opinião não é uma potência produtora de singularidades que correm por vários canais periféricos sociais, no momento do acontecimento, até a construção do fato social enquanto compostos de partículas intensivas: as experiências sempre únicas. A opinião para a RGTV não é produzida no mundo como doxa. Como Política. Opinião para a RGTV é simples articulação da combinação do aparelho fonador com os termos do sistema da língua. Surge e está como senso comum. Assim, a opinião se estabelece para a RGTV como uma ficção, produto da mitificação e mistificação da efetividade. E como não pode ser compreendida como a conjunção recíproca do movimento da percepção com o que é público, somente uma opinião lhe é valida: a dela própria.
Assim, a Globo convoca seus funcionários a dizer que sua patroa respeita a opinião pública e a liberdade de expressão. Então ela impõe ao tele-espectador um “Q de qualidade” presente em toda a sua programação. Daí ser possível inferir algumas coisas:
A Globo Não Sabe O Que é Qualidade
A qualidade para a Globo é uma imposição. Ela não nasce de variações perceptivas que indicam modos de ser e aspectos derivados de estímulos físicos, químicos, afetivos, psicológicos e sócio-econômicos que afetam os corpos. A Globo não compreende qualidade como o produto não definitivo ou convencional do jogo entre a sensibilidade (os sentidos/órgãos sensórios-motores), as características dos objetos e ações (suas propriedades comuns e adicionadas) e a capacidade neurofisiológica de recepção e transmissão destes sinais como impulsos nervosos (sistema nervoso periférico e central) no corpo humano. Então, impor uma qualidade a um objeto ou a uma ação é um ato vazio. Daí a Globo convocar seus funcionários para exaltar um “Q de qualidade”, porque estes, como a sua patroa, não participam deste jogo. Portanto, a Globo não sabe o que é qualidade, porque, como seus ajustados funcionários, não percebe e não é afetada pela realidade, mas se conserva na superstição de que somente sua opinião é válida.
A Qualidade da Globo Advém do Referente Mercado
Mas não é nem a própria Globo que impõe uma qualidade a sua programação. Ela é subjugada pelo referente mercado. Quando a Globo impõe uma programação como sendo de qualidade ao tele-espectador, ela imagina estar transmitindo uma mensagem por conta própria. Acredita ser ela a produtora do sentido de qualidade. Mas a Globo não percebe que a mensagem não indica um referente, ao contrário, desenvolve-se no referente, nas circunstâncias concretas em que se encontra e que lhe atribui um sentido. E sendo a Globo, como toda a mídia televisiva, reduzida cognitivamente, homóloga ao mercado, seu referente é o Mercado. Quem lhe atribui um sentido é o Mercado. Sua tão badalada qualidade advém do Mercado. A Globo carrega consigo os códigos do Mercado e é a partir destes que é orientada a fazer qualquer tipo de programação que lhe dará a qualidade que lhe convém.
A Qualidade da Globo Surge do Desespero
Todo o chamado império que a Globo construiu não dá mais sinais que desmorona. Ele já está em fase terminal. Percebe-se isso quando ela, desesperada, impõe uma qualidade surgida do desespero. Quem se autopromove é porque sentiu a necessidade de ser percebido justamente nos aspectos que ilusiona para si, mas não é notado pelo outro. A Globo se autopromove, dizendo ter uma programação de qualidade. Afirma uma ilusão. E, no caso da mídia televisiva, uma que pode ser contada, acumulada e funciona como mensurador do mercado para fechar contratos com as emissoras: o ibope. Para isso, é preciso pessoas dispostas a prestar audiência. Coisa que a Globo vem perdendo para outras emissoras que igualmente buscam garantir suas fantasias para manterem sua simbiose com o mercado. Então a Rede Globo tem que mostrar que é dona de uma qualidade. Chama seus funcionários e os faz mostrar o quanto é grato ser empregado desta emissora. Quer levar ao tele-espectador sua fantasia. Mas aproxima seu desespero. A qualidade da Globo nasce do desespero, porque nasce da sua insuficiência de querer a opinião como propriedade sua.
Uma Qualidade Truncada
A RGTV é acometida do complexo de Deus. Ela acredita ser onipotente, onipresente e onisciente. De que outra maneira saberia que a opinião das pessoas são a de que a sua programação é de qualidade? Mas ela apenas ficciona em suas alucinações a existência divina. Então, para ter a falsa certeza divina (ficciona ter o poder sobre a opinião de todos), ela se dá uma opinião truncada. A qualidade da Globo é fundamentada somente em sua própria opinião. Com sua desrazão, a Globo acredita poder mutilar a opinião pública (doxa, experiências e participação direta no movimento social. Política) e impor sua opinião acéfala ao público. Ledo engano. E para não correr o risco de ter a certeza do que ela já sabe, que é ser só mais uma das seqüelas e dos ramos das tristezas da direitaça, não se arrisca e convoca seus próprios funcionários para “opinarem” sobre o seu “Q de qualidade”. Que Qualidade!