E CONTINUAM AS BRAVATAS DO DESBRAVAMENTO DA AMAZÔNIA

Desde meados de 1808 a Amazônia recebe diversos cientistas com o objetivo de fazer pesquisas, inventários, elaborar mapas, coletar material para colecionadores, jardins botânicos e museus europeus e norte-americanos. Mesmo os viajantes/exploradores, que acompanhavam os negócios nos rios amazônicos e em seus diários descreviam os lugarejos indígenas sem importância e condições precárias, indignas e desumanas de sobrevivência, passaram a ser considerados etnógrafos e hoje são estudados e homenageados em simpósios e congressos científicos. Hoje todos os grandes projetos de pesquisa desenvolvidos na Amazônia têm a efetiva participação de órgãos internacionais, seja como fornecedores de finanças ou de pessoal qualificado.

A Amazônia ainda é vista nas telas como um lugar ainda atrasado, primitivo, mas com muitas possibilidades, fartura e oportunidades. É considerado um grande laboratório natural, e esteve durante vários anos entregue às mãos estrangeiras, principalmente após a assinatura do Decreto 98.830/90, no final do governo Sarney, criando lacunas na legislação brasileira e reduzindo a burocracia na submissão de projetos. Movidos pelo ímpeto do desbravamento, da busca por prestígio ou falta de perspectivas em seus lugares de origem, é que muitos pesquisadores fazem a longa viagem e ingressam nas universidades e instituições de pesquisas no Amazonas. Principalmente após o estabelecimento do fluxo contínuo de editais que atraem pesquisadores recém-doutores, com uma bolsa de aproximadamente R$ 4.000, com a justificativa da fixação desses profissionais para desenvolver a região carente de “cabeças pensantes”, que após três anos de captação de recursos, terão um currículo lattes mais elaborado e possibilidades de ganhar mais dinheiro e prestígio. Está aberta a temporada de caça às bolsas.

Apesar das forças que estão surgindo e no empenho de alguns governantes latino-americanos em modificar o estado de coisas na região, por aqui, mais especificamente no Amazonas, os incentivos aumentam cada vez mais, principalmente quando o governo estadual “veste a camisa” da proteção do meio ambiente, firma convênios com fundações, bancos e outras instituições e diz arrecadar milhões para serem investidos em ciência e tecnologia. Em dezembro do ano passado, no discurso na posse do “novo” conselho superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas – FAPEAM, o “guerreiro de sempre” Braga, ainda insistindo na afirmação da condição de prisão no futuro anterior, propôs aos cientistas uma mobilização junto ao governo federal para que os produtores da Malásia entregassem a seringueira modificada geneticamente, como pagamento pelos lucros que adquiridos após utilizar a espécie que foi levada da Amazônia em 1896.

O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia se mostra preocupado com a existência de apenas 1.500 doutores em toda a região e deseja ter uma USP na Amazônia. Os professores dos programas de pós-graduação desta instituição já colocam em prática há muito tempo a seleção natural das “cabeças pensantes”, selecionando apenas alunos de outros estados, principalmente das regiões sudeste e sul, alegando que alunos provenientes de instituições do Estado não têm capacidade de cursar as disciplinas dos programas.

A América Latina se especializou “em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta”, escreveu Eduardo Galeano sobre sobre os saques e genocídios ocorridos aqui no passado. Há muito tempo a Amazônia é um negócio mundial. Os grandes investimentos de hoje seguem a mesma linha do passado, mas a História não se repete. E o foco dos desbravadores parece estar cada vez mais elaborado desde a época em que o explorador alemão Theodor Koch-Grünberg esteve navegando pelos rios amazônicos.

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