COLUNA DO MEIO

.A FRAUDE DA ZONA FRANCA VERDE E OUTROS NEGÓCIOS.
Entre abril e agosto de 2005, aconteceu no Palais de la Découverte (Paris) a exposição Amazonia-Brasil, em comemoraçao ao Ano do Brasil na França. A abertura do evento ficou a cargo do governador do Amazonas com o “Seminário Desenvolvimento Sustentável no Amazonas: da Zona Franca de Manaus à Zona Franca Verde”. O programa foi inventado em 2003 e até hoje a maior parte dos municípios do Amazonas não receberam um centavo dos investimentos anunciados pelo governador. A alavancada marketeira desse governo guardião da floresta veio com a adesão do “Banco do Planeta” — o Bradesco — ao projeto megalomaníaco e desenvolvimentista que se adequa ao que o “Guerreiro de Sempre” chama de “mercado saudável” saudável para os produtos da Amazônia, e que essa “iniciativa” deve ser mostrada para o mundo inteiro.
Ano de 2008, município de Fonte Boa, a 665 Km de Manaus, teve o quarto maior PIB do Estado do Amazonas em 2007. Ao chegar no porto da cidade, encontramos uma placa com os dizeres: “Bem vido a Fonte Boa. A terra do manejo sustentável”. O governador poderia usar como exemplo e mostrar para o mundo esse município, que exibe diversos cartazes sobre o programa Zona Franca Verde, mas que desde 2004 não recebe sequer R$ 1 do Programa Zona Franca Verde. Porém, todos os anos no mês de novembro, quando encerram os trabalhos da pesca manejada, leva a mídia seqüelada para exibir os louros de mais uma conquista. O município e sede da Reserva Extrativista Auati-Parana, próxima da RDS Mamirauá (cuja sede se encontra em Tefé), ambas responsáveis por grande parte da producão pesqueira no período do manejo. Mas, ao conversar com as pessoas, percebemos a recessão e a falta de circulação de dinheiro na cidade, tanto que aqui ainda encontramos as notas de R$ 1, que já foram extintas. Os rapazes se revezam em dois tipos de atividades para conseguir dinheiro e sustentar a família: seu emprego oficial e o trabalho como mototaxista. Outra característica do município nesse período: constante falta de energia. Com isso, as pessoas se acumulam em enormes filas na frente do Correio e do único banco, o “Banco do Planeta”, suportando o calor e a espera. Mas isso não é revelado ao mundo. Esses são os benefícios que o programa mais famoso do estado na atualidade estão trazendo para o município.
As esquipes do Bolsa Floresta já estão na cidade fazendo o cadastramento dos moradores das comunidades. Filas enormes na sede do IDS (Instituto de Desenvolvimento Sustentável) do município — uma junção da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a Secretaria). Eles têm a missão de proteger a floresta em pé e para tal empreitada receberão a quantia de R$ 50, como uma tentativa pobre de copiar o Bolsa Família do Governo Federal, que vem melhorando a vida da população brasileira.
A cidade ainda está em clima pós-eleição. Ainda encontramos os cartazes e os números dos candidatos pelos muros e nas portas das casas. Até aqui o prefeito foi reeleito, um candidato do PMDB, que contou com o apoio do “Pequeno Gigante” do PT Oh!, my Darling!, Sinésio Campos, que esteve em Fonte Boa para fazer campanha para o amigo.
Os negócios estão indo muito bem: frigoríficos enriquecem a cada ano de execução do manejo do peixe, o governo estadual, além de arrecadar dinheiro, aumenta seu prestígio midiático nos principais redutos dos “crentes” da preservação do Meio Ambiente, o “Banco do Planeta” aumenta suas reservas. Preservar o Meio Ambiente é o melhor negócio para os próximos anos. A “crise financeira mundial” passou despercebida em Fonte Boa. A noite não tem energia para assistir o Jornal Nacional e muito menos a novela. Crise é uma palavra desconhecida, já que em geral os moradores apenas sonham com aquilo que os indicadores do Pnud e Pnuma chamam de qualidade de vida. Como disse uma das pessoas com quem este bloguinho conversou: “Aqui é assim: as pessoas vão levando a vida com a barriga e é preciso ter muita criatividade pra isso”.