Todo homem possui um intelecto. Logo, todo homem é um intelectual. Não precisa ir à escola, não precisa ser acadêmico, não precisa ser Fernando Henrique. Posto que, nos emaranhados dos conhecimentos, todo homem é intelectual. Mas há aqueles que mesmo não seguindo a enunciação epistemológica-teológica de Tomás de Aquino, para quem intelectual é aquele que lê por dentro, tomam-se mais intelectuais que os outros pelo fato factual do uso da matéria e dos instrumentos de sua profissão. É o caso da maioria dos jornalistas. Usuários das letras, palavras e sentenças, acreditam ser examinadores do mundo. Daí poderem opinar e serem seguidos em suas afirmações. A crença maior do jornalismo desesperado, em um mundo em que os dogmas protetores da classe dominante estão em erosão. Um mundo em que maior parte do planeta já leu e compreendeu que estes que se impõem como pensadores não pensam. Exemplificam o Estadão, O Globo, Veja, Época, entre outros, e como outro a Folha de São Paulo. É fato factual que o jornalismo estabelecido é parasita: se alimenta do corpo do outro – o fato. Principalmente quando não é um fato. Mas há a hilaridade maior: o jornalista querer ser sábio. É o caso do funcionário da Folha de São Paulo Fernando Canzian, em seu artigo “Farra das ONG$ (ele coloca assim para se tomar mais intelectual) E o Castigo de Sísifo”. Tentando comprometer Lula na distribuição da verba endereçada as Ongs, usa o recurso ilustrativo do Mito de Sísifo para defender o ‘trabalho’ inútil da imprensa como defensora dos interesses do povo. Como uma criança ilustrada, acredita no conteúdo manifesto do trabalho de Sísifo: Condenado pelos Deuses por se rebelar contra as injustiças, recebe a pena de subir um monte com uma pedra nas costas até o seu cimo, para depois deixá-la rolar e começar tudo de novo. O realismo ingênuo. Canzian é um pobre jornalista, não porque sobe a montanha de seus patrões para depois descer e subir com os mesmo pesos contra Lula, mas porque, em sua estreiteza intelectual, não sabe que o mito não é uma inócua obviedade. Não sabe que para ler um mito é preciso rachá-lo para libertar as relações de parentesco aí aprisionadas. Muito menos sabe que quando o filósofo francês Camus lançou sua inteligência sobre Sísifo, foi para questionar a angústia ontológica do Homem, e não para servir de samba-enredo do jornalismo malsão. Mas Canzian é provocador. Com sua inteligência confirma o que o filósofo Deleuze dizia da inteligência dos médicos: quando pretendem ser eruditos se mostram uns verdadeiros estúpidos. Canzian é mais um erudito da Folha. Por isso a Folha não tem o que se ler.

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.