DOS FAZERES E DIZERES DA ECONOMIA MENOR
“Os pobres se esquivam pelas barreiras e
cavam túneis que enfraquecem as muralhas.”
(Toni Negri, filósofo italiano)
AS CORES E AROMAS DO DESINFETANTE DE SEVERINO DE OLIVEIRA
Ele vai empurrando seu carrinho com garrafas coloridas e, para quem quiser experimentar, também sentirá que os cheiros também são vários, além da eficácia garantida de seu produto: o desinfetante. Ele sabe que trabalha com um produto caseiro, que na atual sociedade precisa competir com os industrializados em larga escala, talvez por isso que algumas senhoras do tempo em que elas próprias produziam seus próprios materiais de limpeza com as essências naturais prefiram seus desinfetantes. Mas outros rapazes, mais jovens, também os preferem pela sua qualidade pela beleza da cor e pela particularidade do cheiro. Ele não tem pressa em atender todas e todos, abrindo cada garrafa para o freguês provar a essência que melhor lhe aprouver. Seu nome é Severino de Oliveira e nesta entrevista para a economia menor nos deixa seus saberes e dizeres, realizando cotidianamente uma luta dos que ganham a vida trabalhando com um produto caseiro, quando este já foi dominado pela grande indústria. Mas correm nas linhas paralelas…
Bloguinho — Você é…
Severino — Sou Severino de Oliveira.
Bloguinho — Quantos anos o senhor tem?
Severino — 50 anos.
Bloguinho — O senhor é daqui mesmo do Amazonas?
Severino — Não, eu sou de Cajazeira, na Paraíba.
Bloguinho — O senhor veio da Paraíba pra cá?
Severino — Não, antes eu fui para o Rio de Janeiro. Eu morava numa favela, muito abandonada, era a Vila Verde. Lá havia muita violência, conflitos, aí eu resolvi me mudar, e vim aqui para o Amazonas, acho que em 1997, não lembro bem.
Bloguinho — Hoje o senhor trabalha com esses produtos?
Severino — É, faz dois anos que eu produzo e vendo desinfetantes.
Bloguinho — Antes o senhor trabalhava com quê?
Severino — Na Paraíba, eu trabalhei muito tempo na SBS, como montador B, mas ela fechou e eu fui despedido. Quando eu vim para cá, trabalhei uns três anos na padaria com o meu irmão, o Zé, que me ajudou muito a sobreviver no início por aqui, mas eu queria trabalhar por conta própria.
Bloguinho — Aí passou para o desinfetante…
Severino — Foi. Mas primeiro eu trabalhei também durante um bom tempo com detetização. Até hoje eu faço serviço de detetização quando encontro alguém interessado.
Bloguinho — Como é produzido seu desinfetante?
Severino — A gente usa vários produtos: essências, corantes, fixador, aí tem que saber a fórmula e caprichar pra fazer forte e cheiroso.
Bloguinho — Quais são as essências?
Severino — São muitas: eucalipto, amanhecer, floral, alfazema…
Bloguinho — Então não é verdade o boato de que esse desinfetante caseiro é feito com um desinfetante industrial diluído em três, quatro litros?
Severino — Não, não, isso é mentira, tanto que o nosso produto é mais forte e mais cheiroso. Nós vendemos muito mais barato — no supermercado, um de 500ml tá custando R$1,40, nós vendemos 2 litros por R$ 1,50 — devido aos impostos que nós não pagamos, e talvez porque não temos ambição de lucros tão grandes, não sei.
Bloguinho — Qual é o seu lucro?
Severino — Uns 20, 30% de cada.
Bloguinho — Quantos o senhor vende por dia?
Severino — Varia muito. Tem dia que vende só uns 10, já tem dia que vende tudo que cabe no carrinho, uns 60.
Bloguinho — As condições das ruas para esse carrinho com certeza não ajudam muito.
Severino — Não me ajudam muito. Já não bastam as ladeiras, as ruas estão horríveis. A minha própria esposa, faz uns três meses, foi descer do ônibus, caiu dentro de um buraco, tá lá com a perna capengando. Tudo é pra prejudicar a vida do trabalhador, dos pequenos.
Bloguinho — Mas o senhor acha que as coisas podem melhorar?
Severino — Tem de melhorar. A gente bota outro prefeito. E a gente vai lutando pra sobreviver. As coisas não estão boas, mas dá pra viver…
o cara ta trabalhando pra sobreviver e vem o maldito governo querendo acabar com o trabalho do homem dizendo que é ilegal e a porra toda, pior é se ele tive-se matando e robando, POLITICA BRASILEIRA É UMA MERDA