A LUCIDEZ DE CONSUELO GONZÁLEZ, EX-REFÉM DAS FARC

2
Consuelo González

Em entrevista à Folha de São Paulo, publicada hoje e disponibilizada pelo Blog do Nassif, a ex-cogressista e libertada pelas FARC na operação Emmanuel, Consuelo González falou sobre sua relação com a guerrilha, mostrando através da simplicidade do seu relato que não se trata de adotar a linha direitista que coloca tudo e todos no seu utilitarismo “barrigal”, quando afirmam que as FARC existem somente pelo e para o tráfico de drogas, tampouco adotar a linha de uma esquerda tão esquerda que toca na direita, ao afirmar que aos movimentos de libertação é válido usar as armas dos inimigos. A existência das FARC e de governos submissos a interesses extraterrenos (no caso os estadunidenses) são o efeito de uma política econômica secular, de exploração e produção de miséria em toda a América Latina.

Como a reportagem só está disponível para assinantes, o Bloguinho Intempestivo (que não assina a Folha) disponibiliza aqui também o espaço virtual para que possa ser lida pelos leitores intempestivos (os grifos são nossos).

 

Folha de S.Paulo – “A guerrilha não é louca”, diz Consuelo – 17/01/2008

www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1701200802.htm

“A guerrilha não é louca”, diz Consuelo

Em entrevista à Folha, ex-congressista conta como é a relação entre cativos e os membros das Farc.

Refém libertada no último dia 10 estreitou laços com guerrilheira que esteve a seu lado em caminhada de 20 dias na selva até a soltura

DO ENVIADO A BOGOTÁ

DA COLABORADORA DA FOLHA

No momento de sua libertação, na semana passada, imagens mostraram a ex-congressista Consuelo González se despedindo de forma efusiva de uma das quatro guerrilheiras que a entregaram à comitiva liderada pelo governo venezuelano. Ao explicar o gesto, González disse que, durante os 20 dias de caminhada entre o acampamento e os helicópteros, pôde se aproximar dessa guerrilheira, apesar da proibição expressa do comando das Farc desse tipo contato.

Tive a oportunidade de conversar com uma delas, exatamente da qual me despedi de forma muito mais emotiva. E a verdade é que, ao ouvi-la, me dava uma profunda tristeza“, lembra González. A ex-deputada conta que, apesar dos mais de seis anos com a guerrilha, ela pouco interagiu com os guerrilheiros no cativeiro.


Eu me atrevo a dizer que a guerrilha não é louca [longa pausa]. Os militantes com quem tínhamos trato eram muito distantes, pois é proibido conviver com reféns. A troca de comunicação, de idéias, é pouca. Mas, no que se podia acessar deles, a maioria segue de forma muito estrita o determinado pelos chefes”, conta.

“A primeira pergunta foi: “Há quanto tempo está na guerrilha?”. Ela me disse: “Sete anos“. “Por que ingressou na guerrilha?” Ela me disse: “Consuelo, porque, quando era menina, dois ou três anos, mataram o meu pai“. “Quem matou os seus pais?” “Os paras“. “O que aconteceu com a sua mãe?” “Teve de fugir.” “Quanto eram?” “Seis ou sete.” “E o que aconteceu com vocês, com todas as crianças?” “Fomos a viver com uma avozinha que tinha uns 80 anos. Eu tive de trabalhar numa casa de família para que a minha avó conseguisse comprar um pouco de arroz. Não podia estudar, não tinha como“. Era uma pobreza que me golpeava terrivelmente ouvir“, afirma.

E continua a história: “Ela disse: “Não tive alternativa à guerrilha”. “E os seus irmãos?” “Três das minhas irmãs estão na guerrilha também'”.

“Ou seja, quatro da mesma família estão na guerrilha por causa da violência, pela falta de oportunidades. Mas, além disso, isso me produz uma enorme tristeza, porque eu passo essa situação ao meu caso particular. Eu prefiro fazer a reflexão: e se isso tivesse ocorrido às minhas filhas?”, indaga González, mãe de duas jovens e e avó de uma menina, nascida quando ela estava em cativeiro.

E continua: “Eu via que, no fundo do seu coração, ela tinha algo de humano, toda hora ela me dizia: “Consuelo, estou fazendo um esforço para que a liberação não dê errado. Estou fazendo um esforço para que vocês saiam, para que Clara encontre o seu filho, para que você se reúna com suas filhas, seu neto. E todo dia me dizia, de longe: “As coisas vão bem'”.

Segundo González, as Farc buscam dar o mesmo tratamento aos guerrilheiros e guerrilheiras, que basicamente têm as mesmas obrigações.

“Nós às víamos transportando sobre seus ombros troncos de tamanhos impressionantes. Elas têm muita disciplina, a maioria tem o cabelo longo, muito longo. Para cortar, é preciso ter autorização do chefe.”


A maternidade é coibida pelo comando das Farc, segundo relatos de ex-guerrilheiras, que dão conta de que combatentes grávidas são muitas vezes forçadas a fazer o aborto.


Por outro lado, diz a ex-congressista, as mulheres seqüestradas recebem um tratamento mais brando em comparação com os homens, que dormem todas as noites acorrentados nos pés ou no pescoço.


Em nenhum momento me colocaram correntes. Enquanto eu estive com mulheres companheiras, nunca se acorrentou nenhuma. Ouvi que, quando se tenta escapar, acorrentam ou dão um tiro. Mas nenhuma de nós tentamos escapar“, conta.


A ex-refém Clara Rojas, libertada junto com González, disse que foi acorrentada por vários dias junto com a ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt depois de uma tentativa frustrada de fuga.


González conta como terminou o relacionamento de vários dias com a guerrilheira: “No dia em que nos entregaram, eu já ia ao helicóptero, e ela disse: “Consuelo, adeus”. Eu não havia me despedido dela. Voltei, lhe dei um beijo e disse: “Obrigado e reflita’“. (FM e JC)

2 thoughts on “A LUCIDEZ DE CONSUELO GONZÁLEZ, EX-REFÉM DAS FARC

  1. A revista Fórum e a editora Publisher Brasil mantêm um programa de parcerias que paga comissões de 20% sobre o valor de vendas de assinaturas e de livros.
    Para participar, o candidato tem de preencher um formulário (em http://www.revistaforum.com.br/ativistas/ ) com seus dados. O cadastro será processado em até cinco dias úteis.
    Entraremos em contato para confirmar seus dados e encaminhar o link onde podem ser localizados os materiais de divulgação da loja. Você pode escolher o banner que se encaixar melhor na sua página.
    A loja gera relatórios que podem ser checados quantas vezes você desejar e, uma vez por mês, sempre que houver vendas, você receberá o pagamento na conta bancária cadastrada.
    Estamos à disposição para mais informações. Será um prazer ter seu blogue como nosso parceiro.
    Elizabeth
    ativistas@revistaforum.com.br
    (11) 3813.1836
    http://www.revistaforum.com.br/ativistas/

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.