Sarapatel é uma iguaria composta de órgãos internos de um animal, vísceras, fígado, coração, rim, preparado com o próprio sangue deste animal. No Brasil, foi criado e saboreado pelos negros, índios, caboclos, cafuzos, mamelucos, por uma imposição política-social discriminatória imposta pelos colonizadores consumidores das melhores partes do boi. Para quem as partes internas do gado era comida para animais. Na força perversa, os escravos. Com o decorrer do tempo, por sua influência, os negros criaram a feijoada, tão bem casada com a cachaça, o samba e a campanha política. A última para levantar uma grana para candidato. Mas isto é outra iguaria. No Amazonas, sarapatel carrega um mofo ufanístico. Um número grande de ‘manoenses’ acredita ser invenção telúrica saída da tartaruga. Por tal, esta gente quando fala ou ouve o termo sarapatel se transporta ao nobre quelônio. Como comida, para quem saboreia, é o bicho. É o ponto de convergência, apesar do IBAMA, de reuniões de cúpulas para tratar de sérios negócios. Com tantos negócios políticos, sociais e familiares, o distinto cascudo foi jogado no rol dos entes ameaçados de desaparecimento. Entretanto, para nós, o importante é o conhecimento de como se processa a realização desta iguaria onde os órgãos, com seus códigos singulares, são deslocados de territórios corporais definidos, trabalhados pelos chefs e preparados em panela ou cascos para compor o sedutor sabor.

RECEITA MANÔ

Como mistura de corpos, o sarapatel parece ser híbrido, mas não é. E isso constatamos quando vemos, lemos ou ouvimos os nossos conterrâneos em imbricações sarapatel. Tudo converge para o mesmo casco (ou panela) com o mesmo sabor. Para o apetitoso guisado, o governador Eduardo Braga contribui com a afirmação que seu governo criou uma nova forma de relação entre o homem e a natureza. Como se sabe, é impossível uma forma ser criada pela magia da linguagem e uma nova relação ser criada sem as práxis coletivas. E mais ainda, pela formação do governador, a natureza é tida por ele como uma mistificação divinizante. O que não é natureza. O seu líder, Sinésio Campos, acrescenta ao caldo sua resposta sobre a indagação da importância da construção da megalomânica ponte Manaus-Iranduba: deslumbrar o progresso com construções de prédios, outras construções e desenvolvimento de uma jazida de argila (?) em Iranduba. Sobre a região metropolitana, afirma ser Manaus uma cidade com estrutura própria deste tipo de região. Sobre uma verdadeira oposição, responde ser os que perderam as eleições. Um dos irmãos Souza, deputado estadual, magoado com a retirada do programa de TV apresentado pela família, que usava a miséria dos pobres para suas eleições, e em luta pela sigla do partido com o presidente de seu partido, coloca salsinha, afirmando ter poderes para eleger qualquer candidato para prefeito se subir no palanque junto com o irmão deputado federal. Já subiu e seu candidato não ganhou nem no primeiro e nem no segundo turno. Um pouco de bazófia vai bem neste sarapatel. O senador orgulho do Amazonas, Arthur Neto, sentindo falta de pimenta, adiciona pimenta de cheiro: acusa o ministro Mantega de fazer terrorismo com a CPMF imposta ao povo Brasileiro por eles: a direita. Resultado: o sarapatel continua sem arder. Os jogadores de futebol, cambaleando, querendo receber salários atrasados, provam um pouco. Devolvem ao casco: está insosso. Os artistas de teatro, sempre edipianizados, a procura do calculista autor, o governo, submissos à concepção mais retrógrada de festival, o judicativo, aceitando um corpo de jurados para confirmar seus talentos, infantilismo estético, a mortalha estética e o adeus definitivo a Dionísio, o desmedido, mortos de fome, ficam distantes, sentindo só o cheiro. Jornalistas amestrados e cães de guarda, vendendo seus saberes a parlamentares e empresas, espargindo a força do jornalismo seqüelado, se oferecem para divulgar o manjar político/social. Vereadores entre uma pantomima de seriedade e outra de historiadores sobre originalidade da pedra do Mercado Municipal, tentam colocar ovo como ingrediente para garantir as horas extras senão o sarapatel não fica ao ponto. E outros, acreditando ser herdeiros dos talentos nutricionistas dos mestres Pereira, Bolota, Dilamar… vão metendo suas colheres no manoense sarapatel. Então, pronto, posto à mesa, quem puder coma e espere a digestão. Sem esquecer, é claro, que sarapatel que muitos mexem ou queima ou fica azedo. Mas se é para se sentir saciado, não importa o sabor. O importante é matar a broca.

3 thoughts on “SARAPATEL À MODA MANÔ

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