A EMPREGADA DOMÉSTICA E A PAIXÃO LINGÜÍSTICA SOCIAL DA PATROA

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A profissão da empregada doméstica é eminentemente um produto da conjugação mística e econômica. Um misticismo da lógica do homem senhor da mulher, no patriarcalismo judaico; o desconhecimento de ser Maria mãe em Cristo, mais o sistema capitalista burguês, sintetizado no aforisma moral: patriarcal-cristão(não Cristo)-burguês. Aí a mulher foi confinada, acorrentada ao modelo do estado moderno. Aí a mulher se curvou a um destino arquitetado pelo homem reativo: o temeroso da vida. O “bom” tirano. O romance da capitulação do existir. Aí a mulher fez sua iniciação de submissa, aprendendo técnicas familiais gratificantes ao senhor do território cujo estado de coisa é a preservação da imagem patriarcal desdobrada nos filhos. Se homem, adequá-lo ao modelo pai. Se mulher, adequá-la ao modelo mãe: servir ao homem. Uma crônica histórica da negação da mulher que antes fora sujeito-mundo. A mulher seu próprio status. A mulher que nunca fora opositora do homem, mas a operária cuja inteligência e força o protegeu até no embate homossexual, a guerra, como afirma o filósofo Paul Virilio. Ela, que por duas vezes se mostrou a companheira atuante. Uma, quando constituiu sua têmpera, e outra, quando lhe mostrou as adversidades da existência. Ela, quer seja em Athenas (apesar do Chico), ou Esparta vírtus-produção, agora transformada em uma quimera lingüística-social pelas nati-mortas: as patroas. As que a querem adesivadas nos enunciados eufemistas-fascistas: secretárias. Quando secretária é quem auxilia o chefe, quando se sabe que muitas destas nem na cozinha vão. Entretanto, indo ou não indo, sempre ajuizam assim:

->Isto é típico das empregadas.

-> Toma cuidado! No início elas se mostram amigas, mas depois nos colocam na justiça.

-> E ainda dizem que são evangélicas.

-> Estas são as piores.

-> Não têm diferença. Eu tive uma que era católica, mas me pôs na justiça.

-> Tenho um casamento feliz, meu marido me ama, mas nem em sonho deixo ele em casa só com a empregada.

-> O marido de uma amiga minha deixou ela pela empregada.

-> Eu sei tudo da vida da minha empregada. Até o dia em que ela tá ovulando.

-> E quando se tem filho adolescente.

-> Eu tenho uma amiga que até hoje tá sustentando o filho que a empregada teve do filho dela.

-> Mas aí é culpa da tua amiga. Com tanta jovem pelo mundo.

-> Por mais que a gente seja higiênica, bem produzida, perfumada, elas sabem que alguns homens são atraídos pelo mau cheiro.

-> Meu teste com empregada: É casada? Tem filhos? Ainda quer ter filhos? Se quer, não fica.

-> Todas são desajeitadas.

-> É a pobreza. Não podem ter educação.

-> Não deixo pegar nos meus cristais.

-> Primeiro a gente tem que ver uma coisa: se foi ser empregada doméstica é porque não deu para outra coisa.

-> A gente explica mil vezes a mesma coisa, e elas fazem sempre errado.

-> É perca de tempo ensiná-las.

-> Não são econômicas. Gastam tudo em fração de dias.

-> Estou para desistir do meu emprego, porque todo dia que chego em casa está tudo errado.

-> Sem falar naquelas que roubam.

-> Principalmente aquelas que tem namorado.

-> Quando entra, vistorio sua bolsa. Quando sai, também.

-> Tenho trabalho de acordar cedo para abrir a porta, mas não entrego a chave para ela levar.

-> Uma amiga teve a casa assaltada. Levaram tudo. Nunca pegaram o ladrão. Dois anos depois houve um grande roubo e a polícia na sua investigação descobriu que entre os ladrões havia um que usa o golpe da empregada. E não era o cara marido da empregada dela.

-> E o gosto delas.

-> A minha adora boi.

-> Mas boi é nossa cultura. Se fosse Calypso, aí pegava mal.
-> O que eu sei é que seria a última profissão que eu exerceria, mas ruim com elas, pior sem elas.

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