ASTRUD GILBERTO, 83 ANOS, UMA DAS INVENTORAS DA NOVA MÚSICA BRASILEIRA

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ASTRUD GILBERTO

 

Ela foi a primeira mulher a vencer um Grammy de Gravação do ano, em 1965, por “Garota de Ipanema”, com o saxofonista Stan Getz

Astrud Gilberto.
Créditos: Divulgação

Por Julinho Bittencourt

OPINIÃO – 6/6/2023 · 

O Brasil talvez não saiba exatamente, mas Astrud Evangelina Weinert, de nome artístico Astrud Gilberto, foi uma das nossas cantoras mais conhecidas planeta afora. Ela se foi nesta segunda-feira (5), aos 83 anos, e a repercussão de sua partida saiu em vários jornais de todo o mundo.

Nascida em Salvador, filha de mãe brasileira e pai alemão, foi para o Rio de Janeiro ainda menina, em 1947, para morar na então efervescente Copacabana. No famoso bairro, se tornou a melhor amiga de Nara Leão, que lhe apresentou João Gilberto, que veio a ser seu marido. Os dois tiveram o filho João Marcelo, contrabaixista e produtor.

Em 1963, ela parte com João para os Estados Unidos. Sem nunca ter cantado profissionalmente, participa do álbum “Getz/Gilberto, parceria do marido com o saxofonista Stan Getz e, como se não bastasse, com arranjos de Tom Jobim. Ela cantou no álbum cantando o clássico “Garota de Ipanema”.

Ela abre a gravação e o marido segue na segunda parte. Como ficou um pouco longa para os padrões da época, alegando que não tocaria no rádio, a gravadora resolve cortar e lançar um single só com a voz de Astrid.

O lance de sorte transformou Astrud, por uma grande ironia do destino, na primeira mulher a ganhar um prêmio Grammy de Gravação do Ano, em 1965, pela gravação mutilada de “Garota de Ipanema”. A partir de então, ela se torna um sucesso mundial, sendo a intérprete de uma das gravações mais famosas de uma das canções brasileiras mais executadas de todos os tempos.

No mesmo prêmio, ela chegou a concorrer a artista revelação, mas perdeu para The Beatles, e a Melhor Performance Feminina, perdendo para Barbra Streisand.

Uma curiosidade sobre Astrud Gilberto era o seu pavor pelo palco. Mesmo assim, teve uma longa e profícua carreira, gravando de 1965 a 2002, 18 álbuns solo, cantando bossa-nova, MPB, standards do jazz e canções americanas e europeias, em inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.

Sua voz é a bossa-nova por excelência: afinada, suave, sem exageros nem atropelos, um suingue discreto e belas interpretações. Ela conseguiu definir com seu canto, mas do que qualquer outra intérprete, a nossa música mais conhecida e executada no exterior. Apesar do curto casamento com João Gilberto, pode-se afirmar que ela foi uma espécie de alma gêmea feminina do nosso cantor maior.

Certa vez, logo após a morte de João, passei uma tarde conversando com João Marcelo, filho de Astrud e João, que ficou ao seu lado a vida inteira, a ajudou a gravar alguns de seus discos e tinha um orgulho muito grande dela. Foi uma conversa carregada de melancolia pela perda de pai e, ao mesmo tempo, de lindas informações a respeito dos álbuns de Astrud.

Que sua morte sirva agora, sobretudo, para o resgate de uma linda obra, que além de ser carregada de beleza, traz em si a semente da nova canção brasileira. Inventada dentro da sua casa, tanto por ela quanto por seu então marido e amigos.

TEMAS
Astrud Gilberto
João Gilberto
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bossa nova

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