FILÓSOFO JOSÉ ALCIMAR*: O 25 DE ABRIL E A DOUTRINA DAS CORES

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Por José Alcimar Oliveira
Salve 25 de abril. Salve a Revolução dos Cravos. Salve o Vermelho da Luta. Há 46 anos, em 1974, desmoronava a longa ditadura salazarista, que submeteu Portugal a quase meio século de atraso e obscurantismo. No Brasil, a direita e, notadamente, a ultradireita odeiam e demonizam a epistemologia das cores. Miopia ideológica com sérios efeitos colaterais na fisiologia ocular. O insuperável Goethe, na Doutrina das cores, nos assegura que o olho deve sua existência à luz. No leito de morte, suas derradeiras palavras foram: luz, mais luz!
Se essa nossa republiqueta tivesse algo de república, de consciência política, as cores de nossa bandeira não teriam naturalizado, comoditizado e subtraído à nossa constituição como povo as duas matrizes de nossa gênese social: a matriz vermelha, originária da diversidade dos povos indígenas e a matriz negra, da Mãe Africa, constituída pelos povos para cá trazidos pelo sistema colonial como mão de obra escrava.
No dia em que formos um pais verdadeiramente republicano e democrático, ou como define a Constituição de 1988, um Estado Democrático de Direito, teremos, ainda que no plano simbólico das cores, de reparar essa injustiça que se esconde no verde, amarelo, azul e branco, cores aparentemente neutras, que naturalizam a violência estrutural e o genocídio programado a que foram e continuam a ser submetidos os povos indígenas e a população negra, sem os quais não poderíamos falar de povo brasileiro, nome que dá título ao último e irredento livro do grande Darcy Ribeiro.
Sem o vermelho e o negro nossa bandeira continuará a representar o domínio da elite branca, dita patriota, que odeia o povo brasileiro e sonha em transformar o Brasil no maior Protetorado Norte-Americano do Atlântico Sul.
Para lembrar: o vermelho ocupa a maior parte da bandeira de Portugal.
Viva o 25 de abril! Viva a Revolução dos Cravos! Viva a luta, sem a qual, mesmo sem o desejar, seguiremos rumo ao pior. E claro está que não há limites para o pior.
*José Alcimar é filósofo, escritor, poeta, analista-político, doutor e professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

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