A MEMÓRIA EMBRANQUECIDA DOS JORNAIS DE MANAUS

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É preciso fazer o julgamento da mídia. Sua atuação não é ideológica, é funcional”, afirma o filósofo Baudrillard. Funcionamento como tempo real que desatualiza a memória embranquecida como névoa virtual de imagens-lembranças, como afirma o filósofo Bérgson. Campo desativado como rastros do irreal.

Este o destino da mídia de mercado. A mídia que oscila de acordo com a oferta presente do mercado para seu funcionamento. Se amanhã os interesses do mercado são outros – mesmo só em aparência – também serão estes os interesses da mídia.

Se em uma democracia são os fatos compossíveis que nutrem a liberdade da potência constituinte do Bem Comum, então, são eles os corpos históricos que alimentam os processuais políticos. São eles que saltam como memória coletiva vibrátil e criadora. Não como forma de cerimonial compulsivo do passado, mas como princípio imanente, corpus de relação transcendental, da produção social. Nada de memória desativada como dança macabra das imagens lembranças que não servem à experiência do novo.

Como vetor de informação de agenciamento social da comunicação, um jornal tem como práxis precípua o serviço público, como afirmou o insigne juiz De Sancits. Uma disciplina cívica, para o jornalista Ignácio Ramonet. O que torna crível para seus leitores que seu proprietário tem entendimento necessário do público e do privado como instâncias democráticas. O entendimento de que sendo uma empresa privada, é certo que torna-se fonte de renda deste proprietário para mantê-la e arcar com seus compromissos econômicos, principalmente juntos com seus funcionários. Por sua vez, o entendimento do que é público faz dos interesses democráticos da população a matéria de seus conteúdos expressos como importância coletiva. Uma lógica simples: o proprietário lucra democraticamente. Sua empresa jornalística segue o que é tido como realidade democrática. Não coloca pessoas, grupos ou instituições acima de sua potência democrática. Neste compromisso a memória se faz sem ser uma recurso psicológico da vontade, mas como duração. O que está sempre presente como satisfação no cotidiano da coletividade. Um jornal ontologicamente democrático.

Em Manaus, como em todo Brasil, a mídia tem a memória embranquecida (ou amarelecida como suas páginas sensoriais – papel – e virtuais – tela). O julgamento do filósofo Baudrillard desnuda a simulação que se quer realidade modelar de jornalismo democrático. O embranquecido, lutando para se tornar tempo real pelos truques da memória psicológica, cai fragmentado nos tentáculos do mercado funcional.

É assim que, quando em Manaus um jornal pretende comemorar sua cronologia, pouco elementos afetivos/cognitivos democráticos se prestam ao substrato natalício. Os jornais desta Manaus sempre estiveram juntos aos grupos governantes e grupos de empresários. Por tal fato a população ao analisar atuação anti-democráticas de certos governantes, não encontra nestes jornais uma cumplicidade social onde possa manifestar suas análises. O fato escabroso que têm momentos de homogeneidade destas empresas: todas iguais na mesma ordem. Todas encontram-se com os mesmos patrões.

Mas há momentos irônicos: um jornal não está cooptado (termo muito usado no tempo da ditadura, bela lembrança!). Enquanto os outros estão coesos aos governantes, um se desliga. Não se sabe a intenção. Mas se desliga. É o que está acontecendo neste momento em Manaus. Uns, loas ao prefeito cassado Amazonino e ao governador Eduardo Braga, e, este, postura próxima à democracia que interessa ao leitor. O que não assegura que esta atitude democracia jornalística vai perdurar, e se fazer uma memória não embranquecida pela lógica da funcionalidade capitalista que se faz tempo real. O lucro.

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