COMENTÁRIOS SOBRE A ORIENTAÇÃO SEXUAL, EROTISMO E IDENTIDADE

Sou homem? Mulher? Sou hétero? Homo? Bi? Pan? Quantas denominações, palavras que pretendem dar conta de um multiverso de dizeres e fazeres com relação ao corpo e ao sexo, seriam necessárias para cobrir toda a gama do fazer humano em relação ao seu sexo?

Uma identidade, uma palavra que define, que diz e estipula o estatuto do ser. Ainda que consideremos uma identidade em constante mudança (existirá realmente isso?), ela tende à imobilidade: capturação de um conjunto de códigos produzidos por um modo de ser, e que precisa, para o bem da sociedade de controle, ser segregado, identificado, classificado e rotulado.

Daí a identidade não ser filosófica. Sartre, em sua filosofia existencialista, afirma que a identidade é um dispositivo de cerceamento das liberdades: clivagem das produções estéticas. Deleuze e Guattari, os filósofos d`O Anti-Édipo, afirmam: “não, nunca vimos homossexuais”. Desespero e grita geral de alguns grupos gays! “Querem nos apagar! Eliminar o gay da face da terra!”. Ou o mesmo que afirmam certos etnólogos ao confundir a palavra “índio” – e suas implicações com o imperialismo mercantilista – com a complexa, rica e superior existência e produção coletiva dos povos indígenas. Um exemplo simples: uma pedra deixará de ser pedra se lhe chamemos por outro nome? Certamente não, mudará o nosso estatuto. Experimente chamar de árvore uma pedra perto de um psiquiatra…

Daí a identidade não ser o foco do problema da orientação sexual. Primeiro, não se trata aqui de argumentar de onde vem esta orientação: isso não importa, posto que ela existe e ponto. Importa estabelecer linhas de atuação para que elas possam, sejam quais forem, transbordar no coletivo como produções estéticas autônomas.

Certa vez, nas andanças pela cidade de Belém, encontramos um amigo homoerótico que colocou a situação nos seus devidos termos: “existem homens que gostam de homens, homens que gostam de mulheres, homens que gostam de homens que gostam de homens, homens que gostam de homens que gostam de mulheres, homens que gostam de homens e de mulheres, homens que gostam de receber o pau, homens que gostam de colocar o pau, homens que gostam de nada disso, homens que gostam de muitos homens… o mesmo valendo para as mulheres”. Listinha incompleta, diga-se de passagem. Há ainda muito o que colocar, mas já dá conta do multiverso erótico. Um multiverso menos focado na identidade sexual (homem/mulher) do que no uso do corpo (macho/fêmea). Onde entra exatamente o homossexualismo aí?

A própria sociedade burguesa implode esta classificação: quantos pais de família justos e honrados se contaminaram com o HIV numa “aventura” homossexual e depois contaminaram suas esposas?

Acreditamos que a identidade sexual interessa somente às instâncias de controle social. Igualmente, cremos que as produções eróticas interessam somente àqueles que as praticam, desde que de comum acordo, em sociedade.

Portanto, baby, não se submeta à ditadura da identidade. Não assuma, ou assuma se quiser, mais sem grilos, sem broncas, sem procurar se adequar ao leito de procusto que a sociedade impõe. Uma atitude individual é também política, quando dá um passo em direção a uma liberdade engajada. E se for com amor e tesão, hmmmm…

Ui! E agora vamos ver outros sopros gays (ou não) que passaram no nosso Mundico! A Louca!

Φ CASAL DE LÉSBICAS DE SÃO PAULO TENTARÃO REGISTRAR FILHA. Será que as leis brasileiras permitirão que os pequenos Eduardo e Ana Luísa tenham os sobrenomes de suas mães? É o que tentarão fazer Munira Khalil El Ourra e Adriana Tito Maciel, companheiras que fizeram inseminação artificial para serem mães. Os óvulos fecundados eram de Munira, e foram depositados na barriga de Adriana. Pela lei brasileira, mãe é quem carrega a criança. A expectativa do casal é de que o exame de DNA permita mostrar que as crianças carregam traços genéticos das duas. Aí, é esperar o choque de dois enunciados: o da ciência e o do direito. É Michel Foucault, o delicioso carequinha, pintando pelo Brasil. De qualquer sorte, o que valerá é que essas crianças serão bem criadas, com amor e carinho, para que se veja que o que vale são os afetos, e não a identidade dos pais. Desta forma, o casal estará contribuindo para a causa LGBT de forma bela e produtiva. Sentiu a brisa, Neném?

Φ PARADA GAY DE SIDNEY FOI UM SUCESSAÇO. Desde 1978 que rola a parada gay da cidade australiana de Sidney. Este ano, entre muita alegria e ativismo político, uma ala de pessoas vestidas de padres e freiras agitou o babado, dando um toque de fina ironia na Santa Sé, que se estremece mas não assume. A parada foi puxada pelo delicioso campeão olímpico Matthew Mitcham, e convenhamos, onde ele for a gente vai atrás, né. Lindo, efusivo, maravilhoso. Não ficou nada a dever e superou as expectativas desta que é uma das mais tradicionais paradas gays do mundo. Ano que vem, se o grande amor do capital permitir, esta colunéeeesima estará lá, in loco, para conferir o que só os australianos conhecem… Tá pra ti? Sentiu a brisa, Neném?

Φ ABGLT MOBILIZA O POVO PARA O 17 DE MAIO. Você sabe o que se comemora no dia 17 de maio, morena? Não? Te orienta, louca! Em 17 de maio, comemoramos o Dia Internacional de Combate à Homofobia. O belo e engajado Toni Reis, da ABGLT conclama: “Gays do mundo! Uni-vos!”, e convida os movimentos sociais das cidades a realizarem manifestações locais, numa grande movimentação nacional. E pergunta: “Qual seria a principal reivindicação?”. Ele pede ainda que as ONG`S que tiverem atividades planejadas, enviem por emeio para a a ABGLT. É importante no sentido de fortalecer a rede de aliados, e corporificar o movimento. Em breve, nesta colunéeeesima, iremos divulgar o trabalho que será realizado pela AFIN. Preparem-se monas afinadas! Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:

FAÇA O MUNDO GAY!

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