SOBRE DIREITOS IGUAIS E IGREJAS

Há que se separar, primeiramente, igreja e religião. Diz um velho ditado popular, “a igreja não salva ninguém, o que salva é a fé”. Tudo bem, está valendo, mas é preciso também separar o que é o religioso do que é “igrejal”. A igreja, como entidade historicamente constituída, sempre defendeu em sua dogmática o controle das produções estéticas, enquanto a religião é uma disposição do ser humano para o infinito e para uma compreensão do mundo além do Si, no plano da coletividade.

Daí entender o afastamento do padre Luis Couto, que também é deputado federal (PT-PB), de duas maneiras: primeiro, do ponto de vista da igreja. Primeiro, do ponto de vista do embate entre dois enunciados, o da Igreja e o do Estado Laico. Embate antigo, e que se acirra no momento em que a organização da coletividade começa a produzir modos de existência que conflitam com os preceitos da igreja. É bom lembrar aqui que a igreja não é apenas uma instituição, mas efetivamente a sua teologia (ou as suas teologias) dominaram a produção de conhecimento durante séculos. Não se pode entendê-la sem levar isso em conta. O enunciado produzido por estes séculos de envolvimento com o chamado poder criou um enunciado que entranha, adesiva a existência das pessoas, e lhes impõe um modo de existir.

Do outro lado (muitas vezes nem tão do outro lado assim), está um Estado Laico que produz uma sociedade do acirramento do individual, como afirma o sociólogo Gilles Lipovetski. Esse acirramento envolve uma avaliação mais branda dos valores e códigos sociais, que são “utilizados” de acordo com interesses pessoais ou de pequenos grupos. Lógico, não se trata de individualismo, mas de valores e códigos da sociedade de consumo/controle. São dois enunciados de controle, de produção de valores, dizeres e saberes que pretendem estabelecer um modo de existir num plnao da coletividade.

Mas o que nos interessa aqui é a atitude do deputado/padre (ex-padre?): a defesa do direito ao cuidado para a mulher que opta pelo aborto (o que não quer dizer ser a favor da prática), a posição em favor do fim da discriminação contra os homoeróticos, o uso do preservativo como política pública de saúde. Fatores que levaram o arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, a suspendê-lo das funções eclesiásticas. O que não impede o padre (ex?) de manter relações com Deus e manter a sua fé.

E que mostra que o necessário é buscar a igualdade de tratamento dentro de um governo democrático. Igualdade não no sentido de padronizar, mas no de oferecer a todos a chance de criar, de produzir, num processual de singularização. Daí a necessidade igualmente importante (olha o trocadilho!) de compreender as instituições para além das pessoas, e de que forma essas instituições (seus enunciados) capturam certas patologias. Mas isso é assunto para outra coluna.

Por ora, fiquemos com a frase do engajado e belo ator estadunidense Sean Penn, que protagonizou o cinema engajado de Guus Van Sant, “Milk”: “Atores não interpretam heterossexuais ou homossexuais. Nós encarnamos seres humanos. Levo muito em consideração essa minha descoberta. Este é um filme sobre direitos iguais para seres humanos”. É isso, babies! Vamos nessa!

Ui! E agora vamos ver outros sopros gays (ou não) que passaram no nosso Mundico! A Louca!

Φ DUBLADOR DE SEAN PENN NO BRASIL NÃO TOPOU SEGURAR “MILK” POR TRÁS. Foi demais pra ele, meu bem. Também, pudera. Não é fácil desterritorializar a voz num outro. É que a voz é parte do nosso corpo. Daí ela ser muito bem controlada na institucionalidade. “Mamãe não quer, não faça / Papai diz não, não fale / Vovó ralhou: se cale”, já dizia Gonzaguinha. Aí, Marcos Ribeiro, dublador oficial do ator Sean Penn para o português, não ter topado fazer “Milk – A Voz da Igualdade”. Ele justificou-se, dizendo que não envolve a voz dele em certos temas, assim como não faz certos tipos de comercial. Mas Geraldina, geralmente quando a gente não generaliza, em geral, queremos gerar uma atitude benéfica, dita ética, não é? Marcos quer a sua voz (que não é dele) somente onde ele acredita ser útil a si e à sociedade. Mas contradiz-se quando não participa de um projeto importante, belo e necessário como esse. Mas faz todo sentido quando a gente descobre um detalhe: Marcos é pastor. Pano rapidíssimo, amor! Sentiu a brisa, Neném?

Φ RIO DE JANEIRO TEM AGORA DISK-DENÚNCIA CONTRA HOMOFOBIA. O governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Assistência Social e Cidadania, criou um serviço telefônico para denúncias de crimes com motivação homofóbica. Segundo estudos, menos de 10% dos casos que ocorrem no estado chegam ao conhecimento da polícia. Além de um combate mais efetivo, os dados serão utilizados na criação de políticas públicas de combate à homofobia. O serviço é parte do programa Rio Sem Homofobia. Sentiu a brisa, Neném?

Φ DISCRIMINAÇÃO EM ESCOLA NO PARÁ EXPÕE INTERDIÇÃO INTELECTUAL DE SEUS AGENTES. Em Altamira, no Pará, uma garota de 17 anos teve a sua matrícula na escola negada, e ainda por cima a psicóloga da escola lhe orientou a procurar trratamento psicológico. O motivo? A “proximidade” entre a garota e uma colega. A escola é particular. Além de passível de processo civil e judicial, a escola pode ainda perder a psicóloga, já que o código de ética da profissão proíbe qualquer tipo de tratamento sobre a orientação sexual. Coisas da educação de mercado, que não se reduz às escolas particulares. Daí a necessidade de um trabalho educacional nas escolas, como política pública de educação. Por aqui, a gente vai fazendo a nossa parte. Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:

FAÇA O MUNDO GAY!

1 thought on “!!!!! O MUNDO É GAY !!!!!

  1. Isso daí do lance do dublador do Sean Penn não aceitar fazer a dublagem para o filme Milk mostra o quanto que uma pessoa pode ser hipocrita e idiota pois um cara não aceitar um trabalho tão grandioso quanto este filme, é uma grande burrice!!!!

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