A sentença judiciosa da Juíza Maria Eunice Torres Nascimento, cassando o candidato à prefeitura de Manaus, Amazonino Mendes (PTB) mais seu vice, Carlos Sousa (PP) representantes da direita tradicional que domina o Amazonas, embora tenha sido um atitude jurídica insigne na dolorosa história da “política” telúrica, não excitou a inteligência e os princípios éticos das instâncias tidas como mais interpretantes das enunciações sociais. Intelectuais, artistas, jornalistas, juristas, parlamentares, religiosas, professores, estudantes, e outras categoriais, se mantiveram como sempre se mantém: calados. Omissos, para não dizer, indiferentes. Salvo alguns comentários elogiosos sobre a decisão da Juíza Maria, nesse bloguinho intempestivo, o resto (nessa passividade democrático, só pode ser resto) se manteve na cena de Shakespeare: “O resto é silêncio”.

Patético silêncio destes que embora tenham por natureza um aparelho fonador, e por cultura, uma realidade social, matéria produtora de consciências, atrofiam suas pregas vocais quando elas, socialmente, são convocadas a se expressarem “em alto e em bom som”.

IRÔNICA AFONIA-SOCIAL

E são esses afônicos-sociais que em seus balbucios-individuais, exigem segurança pública. Comentam entre si que a cidade não oferece segurança a ninguém. Quanta estupidez, quanta insensatez, destas almas individuais aprisionadas. Não compreendem que a insegurança das ruas encontra-se urdida nas administrações públicas, nas determinações dos governantes. Certo que ninguém é espelho-reflexo social de ninguém para ninguém, mas produtos desse emaranhamento político/social. E nesse caso o fio de maior força é o do executivo. Quando uma cidade têm governantes limitados intelectualmente e sem comunidade (o meu desdobramento no outro), a insegurança absoluta habita a cidade – e não só a insegurança criminal – , aí surge a necessidade da voz ativa de seu povo. Principalmente da parte da população que possui mais facilidade de fazer circular seus códigos lingüísticos críticos. Os hierarquizados socialmente pelas posições que ocupam em seus territórios de atribuições profissionais.

CADÊ NOSSA RETÓRICA?

Mais qual o quê! A insensibilidade áudio-cognitiva censura seu légein, dizer, e a artrose-gestual trava seu vigor, práxis. Assim, os princípios democráticos, Aidós, “o respeito da opinião pública”, ou “sentimento de respeito humano” , e Dikê, “eu mostro”, “regra, o uso, a norma pública de conduta”, como afirma a filósofa Bárbara Cassin, são desrealizados como potências sociais fundadoras da democracia. E outra realidade-muda se manifesta: Ausência da Retórica Pública, o que une os homens e constrói a democracia. Logo, um povo sem voz. Logo, um povo sem democracia.

ACIRRANDO INVEJAS

Tivesse a decisão da Juíza Maria ocorrido em outra capital (Rio Branco/Acre, Belém/Pará, São Luiz/Maranhão), as reações publicas seriam outras: Maria seria homenageada como defensora pública com todas as honras que seu ato merece. Seria convidada para dar entrevistas em todos os meios de comunicação, convidada para fazer palestras em cursos universitários, principalmente de Direito, falar sobre sua condição de mulher na magistratura, sobre a Lei Maria da Penha, e em diversos territórios falantes. No Rio de Janeiro, a juíza Denise Frossard, porque mandou prender uns bicheiros, foi transformada em heroína, e depois foi eleita deputada federal. Alguns dirão: “Mas o Rio é o Rio!”. Isso não diz nada. Não precisamos de heroína, mas precisamos da visibilidade de alguém que cortou nas juntas, como diria o filósofo Platão, o corpo dominante de uma “política” retrógrada, anêmica, que vem desfazendo a história do Amazonas há décadas. A visibilidade de alguém que promoveu a cidade a condição de conhecedora de seu corpus jurídico/político social: um curso que não se aprende em nenhuma aula de Moral do Direito. Mudos, ainda queremos ser a Princesinha do Norte. Da nossa audição/visão, nunca vimos uma Princesinha sem voz. Nem em contos de fadas.

Certa vez, o teatrólogo alemão Brecht, disse: “Realmente a vida num país sem senso de humor é insuportável; mas muito mais insuportável ainda é a vida num país que tem necessidade de humor”. Parafraseemos Brecht: “Realmente a vida numa cidade sem voz ativa é insuportável; mas muito mais insuportável ainda é a vida numa cidade que tem necessidade de voz ativa”.

Tristes invejosas classes opinantes de Manaus que não opinam, pois não têm Retórica. Só suas indiferenças-egoistas.

3 thoughts on “A JUÍZA E A CIDADE SEM VOZ ATIVA

  1. Meu caro filósofo
    Só hoje,no Arlesophia é que conheci o seu blog. Como paraense, logo um antigo vizinho, fiquei curioso para saber o que acontece numa cidade que conheci e gostei muito, foi em 1964, uma semana antes do golpe de Estado, durante o ISEA (I Seminário de estudos da Amazônia) promovido pela UNE. Naqueles dias convivi com alguns companheiros bem interessantes em termos de curiosidade e preocupações sobre tudo, como o poeta Felix Valois, o Botinelli, a Belém, etc..
    Juro que fiquei entristecido em saber da pouca ou nenhuma repercussão dessa sentença da Juíza. Esperava que as coisas fossem de outra maneira, que o ato de pensar ainda se mantivesse como uma arte e ciência às margens do rio Negro. Enfim, como a vida é um sempre desilusionamento, mais uma que se desfaz, embora ainda tenha a esperança de que os novos tempos de recessão e depressão econômicas possam nos reensinar velhos jogos e artes, sinto-me no dever de ser solidário com o seu desabafo.

  2. Bons dias meu caro paraense: algumas pessoas que você citou já se foram e os que ficaram andam por aí advogando, poetando uma poesia que não diz muita coisa não. No mais, temos uma juíza que diz tudo. Setenciou contra o homem mais trabalhador do Amazonas, se não me engano já na cabanagem ele remava em algum batelão, porque tudo que existe no Amazonas foi ele que fez. Amazonas-Amazonino.E a cidade continua calada. Mas eles estão comedidos.O Amazonino não é o prefeito eleito de Manaus ele está cassado e quem cassou foi a juíza Maria e nós estamos dando repercussão à medida que ela tomou. Filosofo não desabafa ele cria novas formas de análises, ele pensa – e todos nós somos filósofos. Valeu camarada paraense. Amazônonimo de Manaus.

  3. A juíza Maria já sabendo o que vai acontecer se o Mau menino assumir, achou melhor cortar o mal pela raíz,cassou,e amanhã o puxa saco Valdir Correa vai preparar o bote para levar o mal menino,o Carlos Souza para o balatal lá reinar.Meus parabéns à juíza Maria que com sua decisão inédita baseada em provas inquestionáveis decretou a cassação da dupla Amazonino e Carlos Souza.Anônima daqui.

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