A TORCIDA DO SÃO PAULO COMEMORA. NO ENTANTO, AS RECORRÊNCIAS…

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Embora os torcedores do São Paulo esteja comemorando o terceiro título seguido do clube, e o sexto na história dos campeonatos nacionais, pela segunda vez consecutiva o título tricolor fica em segundo plano diante de outras recorrências. Explicamos.

O futebol, pela ótica do torcedor, só vale quando carrega elementos afetivos-afetantes que colocam a conquista como uma ação coletiva que movimente elementos corporais e incorporais dentro das normas do próprio jogo, sejam elas dentro ou fora do riscado: a democracia no futebol.

Daí, quatro recorrências, neste momento, trazerem ao torcedor brasileiro – incluindo o são-paulino – outros elementos, que acabam enfraquecendo, diminuindo a potência-afetante do acontecimento tricolor.

  1. Recorrência histórico-normativa: há indícios de favorecimento ao tricolor paulista, não apenas na última rodada, como também nas anteriores. Na partida contra o Vasco, não obstante o ausente elenco vascaíno, o gol primeiro do São Paulo surgiu de uma falta inexistente. O estilo de jogo do São Paulo se beneficia da conivência arbitral, que só marca falta quando o jogador é ostensivamente deslocado, e não pune o jogo do agarra-agarra, praticado pelos tricolores. Na penúltima rodada, um penal a favor do Fluminense poderia modificar a história do certame, mas o árbitro, mais uma vez, não marcou. Na última partida, a punição ao Goiás, a transferência do jogo para o Bezerrão, favorável ao São Paulo, a taça que a federação goiana antecipou ao time paulista, o caso do envelope de dinheiro e o suposto suborno ao árbitro Wagner Tardelli, que rendeu a substituição deste, mas curiosamente não havendo substituição aos bandeiras, com o gol do tricolor tendo saído em claríssimo impedimento. Este caso, inclusive, pode fazer do São Paulo o Amazonino do Campeonato Brasileiro: leva, mas não assume. Tudo porque o Ministério Público entrou na jogada e descobriu que o autor da denúncia do envelope com um “mimo” ao árbitro posteriormente afastado foi o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, que agora terá que se explicar e provar o que afirmou. Caso prove, o tricolor entra na berlinda, e o Grêmio promete não deixar a batata esfriar.

  2. Recorrência esportiva-histórica: com todas essas suspeitas pairando sobre o céu tricolor, e que dificilmente serão desvendadas, o caneco são-paulino carregará a mancha dos títulos moralmente questionáveis, fazendo do Grêmio, que lutou até o fim sem suspeita de uso destes recursos ilícitos, o legítimo “campeão moral” de 2008, tal como o Internacional o foi de 2005. E não adianta aos torcedores mais afoitos e apegados ao pragmatismo capitalista afirmarem que título moral não tem valor. A Holanda jamais conquistou um título, mas é considerada a seleção mais importante das copas de 74 e 78. O Brasil em 1978 declarou-se campeão moral, após o jogo entre Argentina e Peru, que até os próprios portenhos questionam a lisura. Título e reconhecimento moral nem sempre andam juntos. Do mesmo lado, a empáfia do jogador Borges, que afirmou em entrevista, no intervalo do jogo, que “não estava nem aí” se fez o gol em impedimento ou não. A Lei de Gérson poderia bem neste caso ser atualizada para Lei de Borges, com a diferença de que o craque – que jogou no São Paulo – disse a frase num comercial de tevê, enquanto Borges realmente revelou o (des)entendimento moral sobre o que é vencer no futebol, pelo visto, a qualquer preço. Estará no clube certo?

  3. Recorrência econômica-antiesportiva: a relação da torcida são-paulina com o clube, e do clube com a torcida, é menos afetiva (no sentido do vínculo desejante) do que econômica. O torcedor são-paulino, com raras exceções, não enche o estádio, e só posa com a camisa do clube depois que o time chega à liderança. O próprio clube admite que a torcida só comparece quando o time está na liderança. Bem diferente de Flamengo, Vasco, Corinthians, times de grande torcida. A maior parte dos torcedores tricolores acreditam que Raí foi o maior ídolo do clube, e talvez nem conheçam Friedenreich, Canhoteiro, Leônidas da Silva, Pedro Rocha. O clube, por sua vez, tem uma relação de marketing com os torcedores, e aproveita a paixão como vetor de consumo, não indo além disso.

  4. Recorrência intensiva-predominante: no Brasil, neste momento, predomina muito mais, em termos numéricos e intensivos, o rebaixamento do Vasco da Gama do que o título tricolor. Recorrência que também ocorrera no ano passado, quando a torcida do Corinthians (e a anti-corintiana) predominaram em relação ao título tricolor. Ao rebaixamento do Vasco, toca às torcidas do Vasco, pela dor, e do Flamengo, pela alegria ressentida da dor do rival compondo com a própria dor de não ir à Libertadores. O fator político, de que a torcida vascaína presente no estádio de São Januário tenha gritado a plenos pulmões que a culpa pelo rebaixamento é de Eurico Miranda torna o acontecimento ainda mais importante ao futebol. A conquista do São Paulo fica restrita aos são-paulinos. Aí, não é futebol.

Embora nenhum desses argumentos negue o fato do São Paulo ter chegado ao final do campeonato em condições de disputar o título, e não seja responsável pela incompetência dos adversários, que entregaram de bandeja pontos importantes nesta briga, a análise não pretende reduzir a mediocridade do campeonato brasileiro ao seu time campeão, mas tão somente pontuar elementos nocivos ao futebol, e que acabam predominando graças à subjetividade mercadológica que tenta se sobrepôr à futebolística. Infelizmente, para alguns torcedores são-paulinos, flamenguistas, gremistas, e de outras agremiações, a bola não se mancha jamais.

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