OH, COMO É GOSTOSA MINHA PREFEITURA!
“A época está morta, é verdade, mas ainda está quente. Que se tenha o pudor de esperar que o cadáver esfrie um pouco”. Uma enunciação do filósofo Sartre sobre a passagem de uma época a outra que iria ser construída cortando “a relva sob os pés dos historiadores”, que nos serve apenas no seu cerne moral “o pudor de esperar que o cadáver esfrie um pouco”, posto que a época, em Manaus, não se encontra morta, e que, infelizmente, ainda se prolongará.
É exatamente sem “o pudor de esperar” que aficionados de Amazonino, sem justificativas ontológicas, ausência de engajamento social, estão agindo em setores da administração municipal. Temos informação de que em alguns órgãos começou a caça aos próximos de Serafim. Funcionários que vão ficar nos cargos, e os que vão sair. O próprio eterno escudeiro mor do candidato eleito, Ronaldo Tiradentes, veio a publico anunciar as disposições do “possível” futuro prefeito: demissões e extinções de secretarias. Fanfarronice de gestão “Manaus urgente!”. Em linguagem ralé: jogar para a torcida incauta. Nada de “pudor”.
A GOSTOSA PREFEITURA
O compulsivo assédio aos órgãos confirma o sentido de democracia para esses injustificáveis ontológicos. A prefeitura é apenas um meio para atingir um fim: ser privilegiado. O compromisso social é apenas figura de linguagem. A assertiva que a época será tão conhecida pela inteligência de muitos manauaras. Essa a função da comemoração exacerbada, como se Manaus estivesse prestes a entrar em outra época. Não, só a alegria supersticiosa ligada ao objetivo material. A realização da caricata moral brechtiana, “primeiro a barriga, depois a moral”. Nada de ato da plebe ignara, da ralé, e sim da classe média. A plebe ignara não tem penetração nas secretarias.
Em tal empreitada, de poder se apossar do que é público, valem todos os investimentos. Sintoma percebido quando o resultado é inverso. A dor manifesta da perda, sempre ocultada por mecanismos de defesa afetivos, como trata o texto psicanalítico. Ou, “se estou alegre é porque ganhei uma recompensa como reparação de minha perda”. No caso atual: “Estou alegre porque vislumbro recompensa entrando na prefeitura”. Esse o torrão gostoso da prefeitura. Oralidade compulsiva que nenhum objeto ou idéia sublima.
E SE O TSE FALAR?
As comem-orações materialistas seguem, mas com um olho no padre e outro na dádiva. Ou: um olho no gato e outro no peixe. O Tribunal Superior Eleitoral – TSE julgará os processos dos eleitos para prefeitos, cujas sentenças sairão, talvez, antes das diplomações. Até lá um pouco de “pudor” não é dispensável. Serafim ainda é o prefeito de Manaus. E, segundo informações jurídicas eleitorais, se o TSE falar, cassando Amazonino, o patrício será mais prefeito ainda. O que significa, sartreanamente, que o “cadáver” “ainda está quente”. Sendo assim, “pudor”: “não leve flores para a cova do inimigo”.