*……….::::: CHAGÃO! :::::……….*

0

Quien quiera entender como funciona el mundo deberá entender el fútbol”.
Roberto Perfumo (ex-jogador argentino).

CHAGÃO PERGUNTA

O ‘Chagão!’ quer saber: Quantos Américas temos só no Brasil? Sem contar o América do México e tantos outros América afora. Agora, você sabe dizer quantos clubes europeus se chamam “Europa”? Resposta: embora o número de “américas” seja grande, e demonstre, de Norte a Sul do continente, o apreço pela pátria continental, na Europa só há registro de UM time com o nome de Europa. O Club Esportiu Europa, da cidade de Barcelona, centenário, em cores azul e branca, foi um dos fundadores da Liga Espanhola, em 1928, quando eliminou os rivais Barcelona e Espanyol, e decidiu o título com o Athletic Bilbao, perdendo. Na sua história, luta para aparecer como opção entre os torcedores, em uma cidade de uma grande potência mundial e outra de renome regional. Ainda assim, nas copas da catalunha de 1997 e 1998, os europeus venceram o Barça de Figo, Guardiola e Rivaldo. Atualmente, é quinto colocado na tabela da terceira divisão da Liga Espanhola.

CONTA OUTRA, LEONOR!

O território da criação humana é o jogo. Somente nele é que o homem se faz homem em liberdade. Mas não o jogo malogrado, que não é mais jogo, mas simulacro. Aquele onde os homens livremente produzem as regras da convivência e do jogar, aí sim podemos falar em jogo. Incluindo o jogo democrático. Assim como na arte, há o equívoco de se pensar que se pode ensinar um jovem a pintar como Van Gogh, nas escolinhas de futebol (e nas “escolonas”, como a IWL), ocorreu cotidianamente o equívoco fatal de se acreditar que é possível ensinar a um jovem como ser Pelé. Não se pode ensinar a ser Pelé, porque Pelé já existe: seria preciso ensiná-lo a ser Ele Mesmo, o Craque ainda não surgido. Mas tal não se pode ensinar. Aprender e ensinar não são partes do mesmo processo. Aprender envolve a condição afetiva, uma modificação no modo de ser, uma criação. Produção, não imitação. Aprender certamente envolve o outro, mas como parceiro, não como superior hierárquico. É por isso que o craque francês Just Fontaine prefere a rua às escolinhas de futebol. Ela é território do nomadismo, do intempestivo – algumas ruas ainda carregam esse elemento processual, nos subúrbios de Paris, na Croácia, na Espanha, na África: a maior parte, mesmo sendo rua, deixou de ser rua. Por isso os craques são cada vez mais raros.

FUTEBOL DE RUA

(Just Fontaine, em Contrapie)

Como eu já disse nesta coluna, nasci como jogador de futebol na rua. Meu pai me proibia de jogar bola e obrigava a todos os filhos a praticar basquete. Nossa família jogava bola ao cesto de maneira solene e nós obtínhamos bons resultados em escala local. Daí, joguei basquete até os 15 anos. Mas escapava pra praticar o jogo que me dá mais prazer. Jogando futebol escondido do meu pai em campos e ruas do meu bairro em Marraqueche, e em particular no pátio da igreja onde mais aprendi sobre bola. Aos 15 anos, entrei na equipe do colégio e amador, depois duma forte discussão com papai, que era árbitro de futebol e que um belo dia me descobriu, pois apitou um jogo onde eu atuava.

Perguntam-me freqüentemente se a famosa escola de formação de futebolistas à francesa é uma panacéia. Essa escola é citada para explicar a vitória da seleção francesa no Mundial de 1998 e sua presença na final da Copa de 2006. Respondo sempre que nesses Mundiais ganharam as equipes com melhores defesas, respectivamente França e Itália. Cabendo ainda dizer que esses dois certames não foram dos melhores. Então, as pessoas querem saber de mim se a qualidade técnica baixou. Concretamente, no campeonato francês uma das explicações é a saída dos maiores talentos para o estrangeiro, fato que tende a diminuir. Outra explicação está nos centros de formação à francesa, embora que julgando isso em um mundo de evolução da qualidades mais físicas que de criatividade e mesmo de técnicas.

Refletindo sobre a origem dos melhores jogadores da história do futebol, Pelé, Garrincha, Cruyff, Di Stéfano, Maradona, Platini etc., é imposible afirmar que eles saíram de escolinhas de futebol ou de centros de formação na França, na Argentina, no Brasil ou pelo mundo afora. Não, essas estrelas surgiram nas peladas de rua, nos jogos intermináveis e treinos solitários tendo a bola como companheira.

No Brasil, onde se joga na rua e na praia, antes dos mais dotados cheguerem a um clube. Porém, não há mais terrenos baldios, mas espaços organizados no Rio, onde Flamengo e Botafogo selecionam os melhores garotos, como na França ou (agora) na África e no resto do mundo, para receberem rapidamente noções táticas que inibirão sem dúvida seus espíritos criativos de craques infantis.

Ultimamente, é difícil achar um grande jogador formado por um clube. Zidane chegou a Cannes através da rua e do pequeno clube amador de Septème, em Marselle, aos 15 anos. Cristiano Ronaldo se formou nos bairros de Funchal, na Ilha da Madeira, e no modesto time do Nacional. Aguero, saído da periferia de Buenos Aires, começou na primeira divisão aos 15 anos no Independiente. Enfim, Messi foi recrutado pelo Barcelona na Argentina, aos 13 anos de idade.

LINHA DE PASSE

Após três reveladoras derrotas, algumas por goleada, o Boca Juniors ainda não parece ter entendido que é hora de trocar os antigos jogadores pelos novos talentos que estão surgindo. Esta semana, a dias do confronto clássico com o River Plate, o zagueiro Julio Cáceres apontou o 10, Román Riquelme, como o pivô dos mal resultados. O paraguaio apontou aquilo que somente os argentinos não parecem capazes de perceber: não obstante o talento inegável do diez, a depressão parece ser mais forte do que a vontade de jogar. Riquelme corre em campo com o semblante de quem caminha em direção à cadeira elétrica. Na seleção argentina, da qual já pediu dispensa para depois mudar de idéia, dá-se o mesmo. O que esperar de um jogador talentosíssimo, mas que desiste da seleção de seu país a pedido da mãe, que sofre ao vê-lo criticado pela imprensa e pela torcida? Riquelme tem sido no Boca Juniors – onde fatura 3 milhões de Euros anuais – o que Romário foi, durante muito tempo, no Vasco. A frase que costuma dizer a cada vez que é envolvido em alguma confusão é sintomática: “não sou o dono do clube”. Solitário, mau humorado, deprimido, alcunhado por parte da torcida como Tristelme, mas quando quer, em campo pode ser o craque que levou um medíocre Boca ao título da Libertadores 2007. Claro, não se trata de Riquelme, mas de uma mediocridade futebolística que assola o lado albiceleste da fronteira. Um agregado de geniais individualidades, mas que não consegue se transformar em um time. Ainda que o zagueiro paraguaio tenha se equivocado ao apontar um só culpado na má administração do time, no caso do comportamento do meia argentino, ele tem razão.

* * *

O zagueiro inglês Rio Ferdinand, do Manchester United e da seleção inglesa criticou a FIFA na sua atuação contra as manifestações de racismo nos estádios. Na opinião dele, a entidade tem sido fraca no combate ao racismo no futebol, jamais tomando uma atitude concreta contra as manifestações. Acusou ainda o presidente, Sepp Blatter (um homem perigoso…) de ser passivo e só se manifestar em assuntos que são favoráveis à FIFA. Ferdinand é a favor de punições aos times, como perda dos pontos ou mando de jogo, e proibição de acesso ao estádio para torcedores que comprovadamente manifestem racismo. Ele citou dois episódios, um na Croácia, quando torcedores locais ofenderam o atacante inglês Emile Heskey, e outro na própria Inglaterra, quando torcedores do Tottenham ofenderam o defensor Sol Campbell, do Portsmouth. Ferdinand acerta ao responsabilizar a FIFA, que transformou o futebol num negócio que atrai o microfascismo do torcedor ressentido, aquele que jamais suportaria dois minutos de Garrincha na ponta-direita. Mas se equivoca ao pensar que apenas retirar o torcedor do estádio acabará com o racismo. Trata-se de uma subjetividade mundial, reflexo da economia de mercado predatória, que transforma em sofrimento a existência de milhões de pessoas mundo afora. Não se pode mantê-la fora do quintal do futebol.

* * *

Será a crise do subprime chegando à beira do gramado? A UEFA, responsável pela organização de torneios como a Champions League e a Europa League (a antiga Copa UEFA) pretende vetar a participação de clubes com grandes dívidas em seus campeonatos. A medida evitaria prejuízos coletivos aos clubes participantes e à própria UEFA. A idéia surgiu um dia após o presidente da FA, federação inglesa, afirmar que a dívida dos clubes que disputam a liga local (a mais rica do mundo) é de € 3,8 bilhões. Acredita-se que o trio formado por Liverpool, Manchester United e Chelsea sejam os campeões do calote. Como na economia de mercado livre do capitalismo financeiro globalizado, a riqueza é relativa, e quem paga a conta do estouro da bolha, como sempre, é o pobre. No caso específico, o torcedor.

CAMPEONATOS NACIONAIS

Apenas três jogos da 29a rodada, mas suficiente para mexer com a tabela. Num jogo movimentado, Figueirense e Palmeiras encararam um zero a zero que custou ao time verde a liderança do certame, já que um pouco mais ao sul, o Grêmio despachava o Santos, com gols de Chengue Moralez e o manoniquim Soares, e galgava novamente o topo do Pico da Neblina futebolístico 2008. Na outra ponta da tabela, uma questão para a psicologia estadunidense do otimismo em gostas resolver: o Vasco escapou d afundar ainda mais, saindo da 20a para a 17a posição, ou deixou de sair da zona de rebaixamento, após o empate em 2 gols com o Sport Recife, o brincalhão do Brasileirão 2008? A rodada completa no próximo “Chagão!”.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.