GOVERNADOR SUBESTIMA A CONSCIÊNCIA POLÍTICA DOS PROFESSORES
O governador Eduardo Braga convocou, ontem, sábado, os professores da rede estadual de educação para uma reunião, com o objetivo claro e não dissimulado de pedir votos para seu candidato Omar Aziz. O encontro, no entanto, mostrou a articulação e a opinião crítica da classe dos docentes, fazendo com que o tiro eleitoral de Braga saísse pela culatra.
De vários bairros de Manaus, ônibus saíram pela manhã, alguns cheios, outros nem tanto, de professores. Os veículos foram alugados, para garantir a presença dos professores no local, o que chamou a atenção de alguns professores, que perguntam porque esta “benesse” ao profissional da educação só ocorre em tempo de eleição, e não se estabeleceu como política pública de transporte, nos quase 20 anos de Ação Conjunta.
Recepcionados com um belo desjejum, que incluía água e gelo, os professores estavam no local da reunião pontualmente às 10:30h, conforme combinado. No entanto, demonstrando todo o apreço e consideração pela categoria, o governador-e-cabo-eleitoral só chegou após as 11:30h, quando muitos professores já tinham se retirado, considerando suficientemente ofensivo o atraso.
Os que ficaram presenciaram – não passivamente, como se verá – um Eduardo Braga efusivamente saudado pela claque – um pequeno grupo de professores na chamada “fila do gargarejo”. Da parte dos professores, só se ouviu vaias. Como comentou um professor, na multidão, foi a briga do gogó contra a palma, e nessa o gogó deu banho.
O DISCURSO DO GOVERNADOR-CABO-ELEITORAL E AS CONVERSAS TRANSVERSAIS DOS EDUCADORES INSUBORDINADOS
Eduardo Braga, talvez com uma consciência do que são os professores criada apenas a partir do contato com aqueles que lhe são próximo – os apaniguados, a claque –, achou que, apelando ao discurso teogástrico, conseguiria arrebanhar corações e mentes.
Primeiro criticou a administração de Serafim, afirmando que o transporte coletivo piorou, sem tocar no assunto da responsabilidade do seu colega de palanque, Alfred-onino, o Pai do Expresso. Em seguida, passou a enumerar as belezas e riquezas naturais do Estado do Amazonas, usando o nome de Deus em cinco de cada quatro palavras que pronunciava, o que levou um dos professores lembrar o anedotário popular, quando Adão perguntou a Deus porque colocar tantas benesses em um só país enquanto os outros tinham desastres naturais ou pobreza do solo, e Deus respondeu, mas vai ver o povinho que eu vou colocar lá. O professor, claro, modificou o final discriminatório da anedota, aproveitando a fala do governador para afirmar que se Deus colocou todas estas riquezas no Estado do Amazonas, também disse: mas vai ver os governantes que eu vou colocar lá.
Enquanto falava em Deus, Braga, talvez inspirado pelos pastores das igrejas apocalípticas, principalmente Assembléia de Deus e Universal, pedia palmas para Deus. As palmas – para Deus – eram devidamente registradas pelas câmeras do programa eleitoral de Omar, e não se surpreenda o leitor intempestivo se, na tevê, elas mudarem de “dono”.
Braga, no auge da subestimação à inteligência dos professores, perguntou se eles sabiam o que era Data-Base, para em seguida, lembrar subliminarmente que o valor do aumento, em caso de efetivação da parceria estadual-municipal no 05 de outubro próximo, pode variar. Para quem não é professor e não sabe, data-base é a data do ano em que ocorre o aumento dos vencimentos dos professores, de acordo com a inflação e outros índices, no caso acima, o índice de aprovação do candidato do governo.
Braga lembrou a parceria com o governo Lula, e citou o gasoduto, que, segundo promessa assumida na hora, traria o gás ao fogão do professor a irrisórios 10 Reais, o que fez com que outro professor da multidão perguntasse: de que adianta gás a 10 Reais, se o professor, com o salário que ganha, não tem o que colocar dentro da panela?
Enquanto combatiam a violência institucional promovida pelo governo com humor, alguns professores sentiram-se intimidados pela segurança do local, que se aproximava a cada vez que um professor proferia uma frase contrária ao discurso do patrão.
Ao final de seus discurso, Braga lembrou aos professores que eles são muitos, citando o total de professores da SEDUC, e que é preciso “crescer e multiplicar o 33”, que cada professor alcança tantos alunos, e que cada aluno alcança tantos outros familiares, e que tudo isso tinha que se transformar em votos para a “mudança” e o “progresso” de Manaus, “com a ajuda de Deus”, é claro. A maior parte dos professores – excetuando-se a claque – saiu da reunião convicto de que deve votar sim, mas no candidato em que acreditam, e não no do governador. Muitos afirmaram que já estão fazendo a política bíblica do crescei e multiplicai, mas para outros candidatos, que não os que carregam o ranço da direita. Muitos deles disseram que apenas trocam o primeiro “3” do número 33 por outro número duas unidades menor, e vão multiplicando.
Com o seu candidato estagnado nas pesquisas (variando de 16 a 20, dentro da margem de erro), mesmo as obnubiladas, Braga sente o peso do numerante frente ao número, da intensidade intempestiva frente à força da quantidade. Mas ao contrário dos professores, ele não consegue entender o que se passa na cidade.
Para os professores ouvidos por este Bloguinho, não causa estranheza este tipo de reunião, que no tempo do Lindoso já era prática velha, mas continua sendo praticada pelo governo que se diz moderno e que varreu velhas práticas.
A CONSCIÊNCIA POLÍTICA DOS PROFESSORES NÃO PASSA PELA POLÍTICA EDUCACIONAL DO GOVERNO BRAGA
Braga erra ao tentar supor a consciência política dos professores a partir da política educacional que aplica em seu governo. Como esta pretende um cidadão anódino, sem opinião formada a partir da análise da sua condição social, e consumidor da propaganda marketista do governo, ele crê erroneamente que todos os professores automaticamente são produtos deste (des)entendimento de educação de Estado. Com a atitude de realizar a reunião, com o claro e evidente intuito de impor a candidatura de Omar-zonino à vontade eleitoral dos professores, Braga mostra que os vê como autômatos, sem opinião, sem razão e sem consciência crítica.
Tal qual Serafim, quando aprovou na calada da noite um PCCS contrário às lutas e discussões da categoria, Brag-onino comete um equívoco fatal, subestimar a consciência política de uma classe organizada e atuante, tentando adequar a leitura da condição social que o professor faz, na condição de agente educador, com a sua própria, de íntimo aliado e participante ativo no desmonte de Manaus enquanto cidade.