A AIDS COMO DOENÇA DA SOCIEDADE (MAIS…)

Na outra edição desta colunéeeeesima conversamos sobre o encerramento da Conferência Mundial da UNAIDS, na Cidade do México. Também rolou um papo sobre alguns equívocos no entendimento da AIDS como uma simples doença, já que ela evidencia uma sociedade estratificada, no sentido de que a moral e o modo de existir na sociedade de consumo produzem “nichos” de disseminação e de produção da epidemia, e que eles sim, são a causa, e não efeito da contaminação massiva pelo HIV.

Esta semana, outra informação chamou a atenção do público LGBT: dados da UNAIDS, de 2006, mostram que menos de 1% do investimento no combate ao vírus HIV é usado para prevenção em homens que fazem sexo com outros homens. A razão principal? Lógico, a homofobia.

Segundo Craig McClure, diretor-executivo da Sociedade Internacional de AIDS, “é muito difícil prestar serviços aos homens gays nos países que não reconhecem a prática do sexo homossexual”.

Ban Ki-Moon, secretário geral da ONU, na conferência da UNAIDS, falou em Educação, Comunicação Social e movimentos sociais para disseminar a diversidade e enfraquecer o preconceito.

Mais do que evidenciar que a homofobia institucional mata tanto ou mais que a entendida como individual, os dados mostram que ainda há muito a fazer neste campo.

Se um homoerótico vai a um posto de saúde em Manaus, ou qualquer cidade do país, e o médico olha de esguelha, toca com receio o corpo na hora do exame, ou insiste em tratar a pessoa pela sua denominação sexual biológica e não social, falamos em homofobia institucional ou individual?

Embora existam médicos e profissionais da saúde pública que teriam este comportamento fóbico (sociofóbico?) com qualquer paciente, independente da orientação erótica, fica claro o desconforto e o desestímulo a que homoeróticos, principalmente jovens, continuem ou mesmo iniciem tratamento ou adiram à práticas de prevenção.

A diferença entre institucional e individual pode ser importante no aspecto legal. Uma vez que o médico é, naquele momento, um agente público, ele corporifica o Estado, e portanto, é instituição. Mas com as recentes leis que buscam diminuir a homofobia no atendimento público de saúde (e que você, compadre e comadre desta colunéeeeesima, tá por dentro), de onde vem a causa da homofobia?

Da mesma maneira que a prevenção ao uso abusivo de substâncias tóxicas (as chamadas drogas) não passa apenas pela moralidade ou pelo discurso do amedrontamento, o combate à homofobia não pode se reduzir ao âmbito legal, mas tem que transbordar na cultura, em todas as produções humanas. Passar da intolerância não para a tolerância, mas para a convivência desejante, querer a diferença, entendê-la como necessária à produção de linhas de comunalidade e aumento da potência social de existir.

Ui! E agora vamos ver outros sopros gayzísticos (ou não) que passaram no nosso Mundico!

Φ ATENÇÃO, MENINOS, TEM VACINA CONTRA A RUBÉOLA. Pra quem gosta de recordes, em tempos de olimpíadas que nada têm a ver com as Olympiadas gregas, trata-se da maior campanha de vacinação que já se fez no mundo. O objetivo é imunizar a população brasileira – principalmente a masculina – contra a rubéola. Nos anos anteriores, as campanhas eram mais focadas na população feminina e infantil, mas a incidência da doença em homens fez com que a campanha atual focasse nos machinhos-machinhos que se revelam na hora da vacina. Revelam-se uns medrosos, claro. Nada a ver com o homoerotismo, que não se esconde. Mas a estes que temem a agulha e a picada, um alento: a vacina é subcutânea, e não intra-muscular, portanto, dói menos que um beliscão, ou como diria aquela enfermeira, dói menos do que ficar doente. É só procurar as unidades básicas de saúde (postos e casinhas), ou os comitês em escolas, igrejas e centros comunitários. Tu já foste, Rubeolnita? Sentiu a brisa, Neném?

Φ JUSTIÇA MANDA UFF REGISTRAR DEPENDENTE HOMO. O servidor federal Luiz Carlos da Gama Bentes, da Universidade Federal Fluminense, garantiu esta semana, através da 2a Vara Federal de Niterói, o direito de incluir como dependente previdenciário o seu companheiro, o cabeleireiro Juarez Manoel Ferreira. O casal vive junto há 18 anos, e desde o ano passado, tem um contrato de união civil estável. No seu despacho, o juiz Fábio de Souza escreveu: “o conceito de família não pode ser interpretado de modo restritivo, sendo inviável incluir em seu conteúdo apenas as opções das maiorias. Ao contrário, faz-se mister lançar um olhar de alteridade, reconhecendo-se a diversidade social e tutelando todas as estruturas familiares, mesmo aquelas eleitas por minorias”. Gostou, Gervásia? Só não vale utilizar o conceito de famílias a partir dos mesmos vícios burgueses das buonnas famiglias hetero, com suas trincheiras e guerras emocionais que atravessam gerações. Aí é marcação de touca, Argemira! Sentiu a brisa, Neném?

Φ MILITARES IMPEDIDOS DE PARTICIPAR DA PARADA GAY DE AMSTERDAM. Na semana passada, todas as monas sentiram o gostinho da parada gay de uma das cidades onde a homofilia é mais intensa. Esta semana, militares manifestaram descontentamento em terem sido impedidos de participar. Pertencentes ao Exército da Holanda, os militares enviaram comunicado aos seus superiores questionando as razões da não-permissão de participar no desfile, já que o governo holandês é pró-diversidade e as forças armadas são favoráveis ao alistamento de homoeróticos. Não é que eles tenham sido proibidos de participar: mas, assim como a polícia local abriu o desfile uniformizada (ou seja, participou institucionalmente), os militares queriam também marcar presença da corporação no desfile, e não apenas como cidadãos comuns. Nada de inveja da política desejante dos Oranges, menin@s. Um dia, com muita luta, alegria, humor e brisas gays, as Forças Armadas braziniquins chegam lá! Sentiu a brisa, Neném?

Beijucas, até a próxima, e lembrem-se, menin@s:

FAÇA O MUNDO GAY!

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