MAROCAGEM ELEITORAL
Qualquer semelhança de tipos vivos com as marocas não é mera coincidência
A democracia é um jogo. Não um jogo com leis pré-estabelecidas que privilegiam os produtores das regras e seus executadores. A democracia é um jogo porque está em contínua criação de novos saberes e dizeres como movimento político/Ético/estético fundamentais à sociedade dos amigos.
O filósofo Schiler dizia que “homem só é plenamente homem quando joga”. O filósofo Sartre apanhou seu dizer e completou: “Quando ele é princípio e não conseqüência”. Daí que, como jogo, a democracia é sempre princípio e não conseqüência. Tudo que os tiranos, com suas leis e seus juízes, não pretendem. E é tudo o que a marocagem pretende com seus diálogos virtuais ou reais: contribuir para construção de uma democracia que joga. Entre nesse, jogo mande suas marocagens.
O JOGO DE ÚNICO RESULTADO
— Cleuda, tu sabe qual o único jogo que o mesmo time é sempre vitorioso?
— Não.
— O jogo da democracia.
— É mesmo, é? E se outro time sair vitorioso?
— Aí já não é mais jogo democrático. É tirania.
MANAUS FORA DE MANAUS
— Tu já escolheu em quem tu vai votar para prefeito?
— Vou votar no candidato que fizer lugares tão maravilhosos que quando eu entrar eu sinta que não estou em Manaus.
— Ah, já vi que pela primeira vez vamos votar em candidato diferente. Eu adoro Manaus.
A MULHER MAIS BONITA
— O que aconteceu contigo, tá tão alegre, parece a pessoa mais importante do mundo?
— E não é pra menos, Valval. E não é que hoje vinte e dois homens me chamaram de linda princesa.
— Verdade? E eles eram príncipes?
— Não, menina! Eram candidatos.
TÁ LEMBRADO DE MIM?
O candidato chegou no bairro, caminhou sorridente, abraçou um, dois três, quatro, quando chegou no quinto, o quinto perguntou:
— Doutor, tá lembrado de mim?
O candidato, acreditando ser um eleitor, não vacilou, tentando cascatear:
— O senhor é aquele meu fiel eleitor, que em todas eleições…
— O quinto, cortando, afirmou convicto:
— Não, doutor, eu não sou aquele fiel eleitor. Eu sou aquele eleitor que o senhor com seus capangas, na eleição passada, entrou na minha casa, pegou os números dos títulos de toda minha família e disse que se a gente não votasse no senhor, a gente ia ver o cão. O senhor ia armar uma para nós — o doutor, no meio do povo, sorriu amarelo, que não passava um milhão de rolos de arame farpados e quatrocentas manadas de porcos espinhos—. Pois é. Eu não votei no senhor, e ninguém da minha família. E se o senhor gosta de sua democracia, é melhor o senhor sair agora daqui, se não quem vai armar uma pru senhor somos nós.
AS PROMESSAS E O CÉU
— É verdade que, quanto mais promessa, maior é certeza de se ir para o céu?
— Claro que é verdade! Tu é ateu, é?
— Não. Mas como é que todo tempo de eleição estes caras fazem tantas promessas e continuam aqui na terra?
O FUTURO SEM PRESENTE
O candidato entre o povo.
— Meu programa é fazer com que o jovem tenha um futuro garantido.
Jovem:
— Doutor, o que nós queremos é garantir o presente. O futuro nós construímos.
A PESQUISA E A TORCIDA
— Que cara é esta, meu? Parece até que teu candidato já perdeu.
— E não é pra ficar com essa cara? Viu o resultado daquela pesquisa? Já perdemos.
— Deixa de ser otário! Pesquisa é como torcida: não ganha jogo. Se torcida ganhasse jogo, teu time tava no primeiro lugar no Brasileirão.
— É verdade. Pesquisa é como torcida antes do jogo: se enche de ilusão.