O conceito banalizado de gueto se mostra como um território político social com um estado de coisas definido por um discurso opressor. Local de confinamento dos excluídos dos direitos humanos fundamentais. Assim se concebeu erroneamente durante a história o gueto como o desterro dos judeus. Todavia, gueto no seu sentido limite, é um território habitado por condenados privadas de todos os diretos políticos e sociais aprisionados por um discurso tirânico cujo tempo de existência que lhe restou é nada mais que o tempo de espera de sua morte. Desta forma, o gueto é o território de espera da execução daqueles que foram condenados à morte. A espera sem esperança em um presente absoluto onde o virtual da morte se confunde com a fronteira do real. Território em que o tempo ontológico foi desativado de sua função produtiva.

As tiranias sempre se mantiveram por suas capacidades de produzir guetos. Os tiranos não podem sobreviver se não for em razão dos guetos com suas vítimas aprisionadas em formas múltiplas de dor para serem todas vampirizadas como seu alimento. Nas sociedades onde a razão não se tornou a potência democrática de liberdade política e social, os guetos são muito bem engendrados por candidatos a cargos legislativos e executivos. São bairros inteiros condenados à miséria com seus habitantes sub-vivendo andrajosamente, mantidos como reféns a serem usados em tempo de eleição. Tempo em que um laivo de esperança lhe sopra pela força de seu voto. É quando os tiranos visitam estes territórios mostrando-se afetuosos e compreensivos. É quando eles vêm verificar se seus métodos de manutenção da dor, aplicado durante quatro anos, foi eficaz: manteve seus habitantes na dependência da miséria para ser trocada por uma eleição.

OS MÉTODOS

Os métodos são variados, mas com os mesmos propósitos: produzir vítimas a serem abatidas no momento certo: Eleição. Vai da promessa de salvação eterna das igrejas apocalípticas, com o auxílio da didática satânica, passando pelo assistencialismo generalizado, a oferta de emprego efêmero, os programas de televisão como protetores policiais, o estímulo à dependência pela ameaça, a lembrança contínua que sempre estão em perigo e precisam somente deles, entretenimento esportivo deletério, assistência médica-odontológica superficialmente paliativa, todas as formas de vampirização social. Formas visíveis de tiranias que afirmam que nenhum destes candidatos tiranos podem ser representantes legislativos e executivos da população, pois construtores de guetos, seus tempos de legislaturas serão todos usados para manter seus eleitores-vítimas seqüestrados e impotentes nos guetos à espera de suas condenações: outro dia de eleição. Entretanto, o que estes tiranos não contavam era com a força social que vem de fora, do centro, a força que vem animar as existências destes moradores que agora começam a quebrar as correntes dos estados de coisas do discurso opressor e vampirizante. São as políticas públicas do Governo Federal que atinge todos os desvalidos, que agora se mobilizam na pirâmide social, entrando em outros estratos da sociedade, com auto-estima elevada de quem começa a fazer sua própria história na escolha essencial de seu projeto de existir.

Diante desta nova forma de percepção e entendimento, esses moradores escapam da dor dos tiranos, que, segmentadamente, presos em suas auto-escravidões, não percebem que os tempos se configuram em outras dimensões sociais e não pretendem mais estes tipos de candidatos de consciências miserabilizadas em guetos. Os guetos estão mudando de habitantes.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.