DIMINUIÇÃO DA POBREZA NO BRASIL VAI DIMINUINDO INFLUÊNCIA DE POLÍTICOS DEMAGOGOS

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Não é por acaso que a maior parte dos políticos do Nordeste ou amam ou odeiam o Bolsa Família: é que o programa, aliado à política econômica de crescimento equilibrado do governo Lula tem diminuído os chamados grotões de pobreza do local, e com isso, diminui também o raio de ação das práticas clientelistas.

Segundo um estudo do IPEA divulgado esta semana, três milhões de pessoas deixaram a pobreza e migraram para a classe média nos últimos seis anos. O grau de indigência – o famoso “abaixo da linha da pobreza” – também diminuiu no período: de 12,7% em 2002, passou a 6,6% este ano.

Uma outra pesquisa, da FGV, divulgada ontem, mostra que houve aumento na classe C, que já é metade da população economicamente ativa do Brasil. A classe C tem rendimentos mensais entre R$ 1064 e R$ 4591. A pesquisa também detectou aumento do consumo nesta e em todas as outras classes.

As duas pesquisas destacam o programa Bolsa Família, mas não o colocam como o fator primordial na retomada do crescimento econômico brasileiro.

A MOBILIDADE NAS ESTRATIFICAÇÕES SOCIAIS BRASILEIRAS

O que estas pesquisas revelam é apenas o aspecto extensivo das mudanças ocorridas no Brasil nos últimos cinco anos e meio: um incremento na renda de famílias que tinham-na precária, uma renda mínima para que não tinha nenhuma, incentivo à produção industrial, o crescimento no número de empregos, o consumo estimulado através das modalidades de crédito consignado – incluindo aí o próprio Bolsa Família, que teve um aumento de 8% no mês passado.

O que elas não revelam, mas a população sente, é a mudança intensiva: a diminuição da insegurança existencial, a partir da movimentação nos estratos sociais do Brasil, o que não acontecia há pelo menos 500 anos. Ou como diria o próprio Sapo Barbudo, nunca antes na história deste país… Com a renda adicional e o incremento no consumo, as famílias começaram a ter acesso a objetos e lugares que antes lhe eram proibitivos. E não por conta de alguma lei ou norma, mas por conta da estratificação social, que não desapareceu, mas que se abriu para um contingente de famílias.

O filosofante Deleuze mostrou que a sociedade de controle, chamada por alguns de pós-moderna, tem a sua mobilidade social menos em instâncias institucionais do que em signos estratificados. A mobilidade social está menos ligada à institucionalidade e mais afeita aos elementos incorporais aos quais o sujeito tem acesso. Assim, por exemplo, ter o conhecimento de informática – e mostrá-lo, na prática – é mais necessário do que apresentar um diploma de curso de computação da faculdade tal ou qual.

Da mesma forma, as famílias que antes estavam limitadas cognitivamente aos signos da pobreza, agora tem acesso a outros signos e territórios. Não por acaso, o consumo de sabonete, desodorante, xampú, iogurte e outros produtos considerados não-essenciais da cesta básica tenham aumentado.

Com isso, a sensação de insegurança existencial destas pessoas diminui, e elas estão menos vulneráveis a ataques e ameaças eleitoreiras.

O DESESPERO DOS ‘CORONÉIS’, DE NORTE A SUL

É aí que o governo aperta o nó da corda dos antigos ‘coronéis’. De Norte a Sul do Brasil, as velhas práticas eleitoreiras de exploração da condição de miserabilidade da população vêm perdendo força. Políticos profissionais identificados com estas práticas ainda encontram nichos onde a sua influência ainda existe, mas são cada vez menores.

Muitos deles, à custa de sobrevivência eleitoral, acabam por se “aliar” aos programas sociais do governo federal, o que não proporciona grandes ganhos, já que estes estão fortemente ligados à imagem de Lula e de seu governo. Diminuindo a insegurança de existir das pessoas, o discernimento, embotado pela fome e pela precariedade econômica, pode enfim aparecer manifestado no voto.

No entanto, a maioria destes políticos arraigados a velhas práticas de coação ainda não entendeu esta mudança intensiva, mas também já sentem na pele (e no bolso) que ganhar o voto dos eleitores vai custar bem mais que uma dentadura, uma sacola de peixe estragado, um óculos de grau desconhecido ou uma carona no dia da votação. Não estamos aqui afirmando que estas práticas desapareceram, e que seus “clientes” não existem mais. Mas que diminuiu, é fato.

Daí, a título de exemplo, que algum candidato aqui e acolá pretenda contar ainda com a toleima de algum eleitor, prometendo a volta disso ou daquilo, o pagamento deste ou daquele benefício. Com o Bolsa Família, que não se reduz ao pagamento de um benefício, mas acompanha todo um programa de orientação e apoio psicossocial e ainda de capacitação profissional para que o trabalhador possa aproveitar a onda de empregos formais, o cidadão-eleitor já aprendeu a diferença entre uma esmola e uma oportunidade. E como diria a máxima socialista de Cristo, nem só de pão vive o homem.

UMA ANEDOTA POLÍTICA/HISTÓRICA

Acrescentamos, agora, uma estória que serve como anedota política das produções reais durante os anos dos governos Lulas. Consta que “alguém”, no final do primeiro governo Lula, midiaticamente, querendo diminuir o alcance da política econômica do seu primeiro governo, teria questionado contra ele:

No governo Lula aumentou o número de pobres.

Ao que um passante, muito bem atualizado, teria ironizado:

Ainda bem, pois que nos governos anteriores só aumentavam os números de indigentes.

DAS VARIAÇÕES LULISTAS GUATTARI/DELEUZIANAS

A classe-média sempre carregou a pecha (e verdadeira!) de consubstanciar os principais vícios coletivos que tentavam apresentar-se como virtudes, principalmente nacionais. Tais viciações sempre manutiam o povo resignado e na ignorância, porque havia conjunto de códigos sobrecodificados que atestavam por diplomas e modus vivends o que era a classe-média, quer queira ou quer não.

Os filósofos Deleuze e Guattari falam de três linhas por quais passam os movimentos no mundo: linha dura, linha flexível e linha de fuga. Pode-se dizer que a classe-média, não somente a brasileira, em sua subjetividade “dura”, sempre permaneceu — do reinado, passando pela república do “café” com “borracha”, à sigla FHC — assegurando todos os vícios — do “jeitinho tão brasileiro” ao “rouba, mas faz” — como válidos nas microfascias cotidianas quanto nas macrofascias seculares. O que se percebe fundamentalmente, além das estatísticas englobantes, é que a chamada classe-média, nos governos do Sapo Barbudo, mudou não somente no que se refere a aquisições financeiras, mas nas concepções existenciais: importa possuir um objeto, sentir-se usuário de certo serviço, mas também saber agir e, principalmente, poder agir de acordo com suas experiências e suas necessidades. A chamada classe-média (que nunca se quis, mas sempre pareceu) não é mais massa-de-manobra. Se a chamada massa nunca o foi, desesperada deve estar a classe-mídia direitista/seqüelada sem ser detentora do saber/poder como sempre acreditou, pelo menos até anteontem. Como diria o cineasta Jean-Luc Godard, “naquele tempo”…

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