*……….::::: CHAGÃO! :::::……….*

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Quien quiera entender como funciona el mundo deberá entender el fútbol”.
Roberto Perfumo (ex-jogador argentino).

CHAGÃO PERGUNTA

Considerado pelo jornalista Mário Filho como o primeiro técnico de fato da seleção brasileira, não cronologicamente, pois houveram outros, mas porque o primeiro a introduzir organização tática e critérios técnicos de jogo no plantel nacional, Gentil Cardoso, pernambucano, negro, considerado o técnico-filósofo, já fazia sucesso no futebol carioca na década de 40, e em 59 dirigiu a seleção nacional no Sul-Americano. Dizem que não foi maior porque o preconceito de cor impediu que assumisse a seleção em 1958. Cunhou frases que ficaram na história do futebol, e que ainda são usadas hoje em dia, como: “A bola é de couro, o couro vem da vaca, a vaca gosta de grama, então joga rasteiro, meu filho!”. Criador de expressões clássicas como “Cobra”, para se referir aos craques, e “deu zebra”, para apontar uma derrota tão improvável, tão improvável, que era equivalente a dar zebra no jogo do bicho (a zebra não consta dos animais do jogo do Bicho). O ‘Chagão Pergunta’ a partir desta edição da coluna, sairá às segundas, com respostas às quintas.

CONTA OUTRA, LEONOR!

A partir desta edição da coluna futeboleira ‘Chagão!’, o leitor intempestivo vai acompanhar a seção “Conta Outra, Leonor!”, onde vai poder ler textos da coluna e de terceiros voltados para a literatura, crítica, poesia, pintura, artes em geral ou curiosidades do mundo da Leonor, a gordinha dos volteios e piruetas mágicos, da alegria desejante do futebol como expressão do jogo do jogar. “Só quando joga, o homem é plenamente homem”, afirma o craque da ponta-esquerda, Jean-Paul Sartre. E em comemoração aos 78 da conquista da primeira Copa do Mundo pelos Uruguaios, a 30 de julho de 1930 (com um toque memorial-afetivo da moçada do blogue Futebol, Política e Cachaça), reproduzimos aqui o texto “A Copa do Mundo de 1930”, de Eduardo Galeano, o craque das letras tortas, publicado em seu livro “Futebol ao Sol e à Sombra”:

A COPA DE 1930

Um terremoto sacudia o sul da Itália enterrando mil e quinhentos napolitanos, Marlene Dietrich interpretava O Anjo Azul, Stalin culminava a sua usurpação da revolução russa, o poeta Vladimir Maiacovski se suicidava. Os ingleses jogavam Mahatma Gandhi, que exigindo independência e querendo pátria tinha paralisado a Índia, na prisão, enquanto sob as mesmas bandeiras Augusto César Sandino levantava os camponeses da Nicarágua nas outras Índias, as nossas, e os marines norte-americanos tentavam vencê-lo pela fome incendiando as colheitas.

Nos Estados Unidos havia quem dançasse o boogie-woogie, mas a euforia dos loucos anos vinte havia sido nocauteada pelos ferozes golpes da crise de 29. A Bolsa de Nova York tinha caído a pique e em sua queda aviltou os preços internacionais e estava arrastando para o abismo vários governos latino-americanos. No despenhadeiro da crise mundial, a ruína do preço do estanho derrubava o presidente Hernando Siles, na Bolívia, e colocava em seu lugar um general, e a queda dos preços da carne e do trigo derrubava o presidente Hipólito Yrigoyen, na Argentina, e em seu lugar instalava outro general. Na República Dominicana, a queda do preço do açúcar abria o longo ciclo da ditadura do também general Rafael Leónidas Trujillo, que inaugurou seu poder batizando com seu nome a capital e o porto.

No Uruguai, o golpe de Estado ia estourar três anos depois. Em 1930, o país só tinha olhos para o primeiro Campeonato Mundial de Futebol. As vitórias uruguaias nas duas últimas olimpíadas, disputadas na Europa, tinham transformado o Uruguai no inevitável anfitrião do primeiro torneio.

Doze nações chegaram ao porto de Montevidéu. Toda a Europa estava convidada, mas só quatro seleções européias atravessaram o oceano até estas praias do sul: Isso está muito longe de tudo – diziam na Europa – e a passagem sai cara.

Um navio trouxe da França o troféu Jules Rimet, acompanhado pelo próprio Dom Jules, presidente da FIFA, e pela seleção francesa de futebol, que veio contrariada.

O Uruguai estreou com bumbos e pratos um monumental cenário construído em oito meses. O estádio se chamou Centenário, para celebrar o aniversário da constituição que um século antes tinha negado direitos civis às mulheres, aos analfabetos e aos pobres. Nas arquibancadas não cabia nem um alfinete quando Uruguai e Argentina disputaram a final do campeonato. O estádio era um mar de chapéus de palha. Também os fotógrafos usavam chapéus, e câmeras com tripés. Os goleiros usavam gorros e o juiz vestia um calção negro que lhe cobria os joelhos.

A final da copa de 30 não mereceu mais que uma coluna de vinte linhas no jornal italiano La Gazzetta dello Sport. Afinal de contas, estava se repetindo a história das olimpíadas de Amsterdam, em 1928: os dois países do rio da Prata ofendiam a Europa mostrando onde estava o melhor futebol do mundo. Como em 28, a Argentina ficou em segundo lugar. O Uruguai, que ia perdendo de 2 a 1 no primeiro tempo, acabou ganhando por 4 a 2 e sagrou-se campeão. Para apitar a final, o belga John Langenus tinha exigido um seguro de vida, mas não aconteceu nada mais grave que algumas escaramuças nas arquibancadas. Depois, um bando apedrejou um consulado uruguaio em Buenos Aires.

O terceiro lugar no campeonato foi para os Estados Unidos, que tinham em suas fileiras alguns jogadores escoceses recém naturalizados e o quarto lugar ficou com a Iugoslávia.

Nem uma só partida terminou empatada. O argentino Stábile liderou a lista de artilheiros, com oito gols, seguido pelo uruguaio Cea, com cinco. O francês Louis Laurent fez o primeiro gol da história dos mundiais, jogando contra o México”.

LINHA DE PASSE

Enquanto Robinho é liberado para jogar amistosos, e a contusão que lhe tirou do torneio olímpico desapareceu mais rápido do que os amores que voltam com a ajuda da Maria Padilha, na Argentina, o atacante Lionel Messi já disse que vai encarar o Barcelona, e pretende ir a Beijing. Bem diferente do atacante brasileiro, mascote da Rede Globo, e que ficou caladinho no meio da confusão. Já o clube catalão ao menos não usou de recursos escusos, como o rival blanco de Madrid. Pretende ir até os últimos recursos jurídicos para que o seu principal jogador continue na equipe. Toda a temporada do Barça pode ser prejudicada se algo acontecer a Messi nas olimpíadas. Já a AFA (Associação de Futebol Argentina), ainda que tenha semelhanças quase genéticas com a CBF, em termos de negócios extra-campo, encarou, e a FIFA está do seu lado. Messi começa a temporada 08/09 como o principal destaque do seu time (herdou a 10 de Ronaldinho) e de sua seleção, ainda que Riquelme morra de ciúmes.

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Do seu lado, o Barcelona, juntamente com o Schalke 04 e o Werder Bremen (especificamente envolvendo jogadores brasileiros e argentinos), resolveu encarar a FIFA, que oficializou juridicamente a obrigatoriedade de cessão dos jogadores. Apelou ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), órgão máximo da justiça desportiva, que numa primeira decisão já tinha declarado ganho à FIFA. Messi já afirmou que não pretende esperar a decisão do tribunal, já que quem manda no futebol é a FIFA, de Blatter (um homem perigoso…) e seu amigo, Julio Grondona, o Teixeira da AFA. Sob uma ótica que escapa ao futebusiness, e vindo de quem fez sua leitura, Maradona instou a Messi que assumisse de vez sua condição de líder e de craque. Para Dieguito, se o Barça deu a ‘diez’ a La Pulga, é porque, como uma noiva virgem, ficará a esperar seu amado, ainda que ele dê uma escapadinha em terras chinesas. Diego sabe que a força do trabalhador é quem produz a riqueza. É o Marx do futebol. O resto é futebusiness…

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A torcida do América do México anda preocupada: é que, depois da síndrome de Sansão que atingiu El Mago Valdívia, quando cortou o cabelo, foi a vez de Salvador Cabañas, pesadelo das defesas brasileiras, cortar suas madeixas. De quebra, ainda emagreceu, está em nova forma. Que a superstição, no caso do atacante paraguaio, não permita que a fonte seque, e que o ex-gordinho não se transforme em ex-craque.

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Mundo afora pululam os torneios caça-níquel, em geral disputados em países onde o futebol é apenas um quadro ionizado de stripes em configuração RGB. Sempre existiram, é verdade, mas há alguns que ultrapassam a linha do inócuo e inútil ao esporte. O torneio de Dubai é um deles, mas ao menos permitiu uma curiosidade semiológica: uma final entre Inter e Inter, com vitória dos gaúchos. Dentre zil deles, que interessam somente aos investidores, panis et balipodus, os argentinos do Arsenal de Sarandí, atuais campeões da Sudamericana, enfrentaram os do Gamba Osaka, campeões da Copa do Japão, e faturaram a importantíssima Copa Suruga Bank. Nunca mais serão os mesmos.

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A pré-temporada da Champions League já está rolando pelos campos menos glamourosos da Europa. São times que jogam eliminatórias em ida-e-volta, pelo direito de constar nos grupos da fase principal do torneio. Alguns clubes grandes de países com menos reconhecimento econômico estão na parada. Na rodada de ida, ontem e hoje, jogaram Anderlecht (Bélgica), Glasgow Rangers, Fenerbahce (Turquia), Panathinaikos (Grécia), além de times da Finlândia, Eslováquia, Sérvia, Bósnia, Hungria, Israel, Polônia, Chipre, Áustria, Croácia, dentre outros. Dos chamados grandes pequenos, o vice-campeão belga e o vice da Copa UEFA passada se deram mal. O Anderlecht conseguiu perder por 2 a 1 para o BATE Borisov, time da Bielo-rússia, enquanto os Rangers não saíram do placar inicial com o Kaunas, da Lituânia. Já o Fenerbahce praticamente eliminou o MTK, da Hungria, 2 a 0.

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Confusão na Série C do Brasileirão. O jogador Rafinha, do Toledo (PR), afirmou que houve acerto de resultado na partida contra o Marcílio Dias (SC), pela sexta rodada da primeira fase da Série C. Segundo ele, houve acerto para que a partida terminasse sem gols, classificando os dois clubes e eliminando o Inter de Santa Maria (para desespero do ‘Impedimento!’) e o Engenheiro Beltrão. Com isso, os jogos que aconteceriam entre os classificados para a segunda fase foram todos suspensos. Segundo o jogador Rafinha, tudo foi feito em nome da família e dos bons costumes, já que desclassificados, os jogadores entrariam em “férias” mais cedo, deixando de receber. Rafinha só esqueceu que, na lógica cristã que defende, todo mundo é filho de Deus, inclusive os jogadores dos times eliminados. Por trás disso, a famigerada série D do ano que vem, invenção da CBF, que promete ser o buraco negro do profissionalismo futebolístico nacional. Com a nova série, os quatro círculos infernais ficariam assim*: 1o Círculo ou Série A: onde os clubes classe média lutam para não escorregar para a pobreza, mas ainda têm contato com alguns ricos, ou que fingem ser. De vez em quando o salário dos jogadores do líder do certame atrasa. 2O Círculo ou Série B: a pobreza que escorregou mas que sonha em estar sala de estar das boas famílias. Com a queda de um ricaço para o segundo círculo esse ano, ao menos duas vezes no ano estes times desfilarão nas telas da TV a Cabo. Quem escorrega para o próximo círculo vai para aquilo que o IBGE chama de “abaixo da linha da pobreza”. Pagar os jogadores é complicado pra quem não está na ponta de cima da tabela ou é clube-empresa, fazenda produtora de madeira (perna-de-pau). 3O Círculo ou Série C: aqui é o limbo do futebol brasileiro. Há quem tenha vindo, como o Fluminense, e tal como apenas uma vez em toda a história, foi içado deste círculo infernal diretamente ao paraíso por intervenção divina, mas só quem presenciou o anjo do Senhor com a espada flamejante em punho abrindo as portas para o tricolor carioca passar é que acredita em tamanho desvario divino. No mais, os clubes dificilmente saem deste nível, que só não é amador graças às benesses eleitorais que alguns destes clubes trazem a prefeitos, governadores, deputados e senadores. 4O Círculo ou Série D: “Por mim se vai à cidade das dores; por mim se vai à ininterrupta dor; por mim se vai à gente condenada. Foi justiça que inspirou meu autor; fui feito por poderes divinais, suma sapiência e supremo amor. Antes de mim, havia apenas coisas eternas, e eu, eterno, perduro. Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais!”. * É importante lembrar que, pela lógica da circularidade, não há diferença de qualidade ou atributo entre os círculos, mas tão somente de arbitrária hierarquia humana, demasiado humana.

CAMPEONATOS NACIONAIS

Sete jogos nesta quarta-feira na Série A do Brasileirão. E hoje os mineiros que torcem para a Raposa vão dormir satisfeitos com a liderança provisória do seu time. Caso o Grêmio tropece no Coritiba hoje, a liderança se estende até o domingo, quando o time pega o Flamengo, descendo de elevador. O time disputou com o Palmeiras nesta noite de quarta o título de pior meio-de-campo da primeira divisão e venceu graças a Valdívia, que mesmo jogando 1/10 do que sabe, ainda faz a diferença no toque de bola. Do outro lado das cores vermelho e preta, está o Vitória, que venceu de virada o Atlético Paranaense e está na segunda posição. O Internacional, que já tinha ressuscitado o Ipatinga, agora usa o levanta-te e anda para insuflar nova vida no Santos, que tirou o nariz de dentro da sepultura. Já o Fluminense, como diz o seu técnico, Renato Gaúcho, continua brincando no Brasileirão. Brinca de forca. Alex Mineiro (Palmeiras) e Kléber Pereira (Santos) continuam na ponta da artilharia, com dez gols. Resultados:

16ª Rodada Série A – 30 e 31/07

Vitória 2 – 1 Atlético/PR

Cruzeiro 4 – 2 Náutico

Portuguesa 3 – 1 Fluminense

Botafogo 2 – 0 Goiás

Internacional 0 – 1 Santos

Figueirense 1 – 1 São Paulo

Palmeiras 1 – 0 Flamengo

Sport Recife – Ipatinga

Vasco – Atlético/MG

Coritiba – Grêmio

Classificação*

Cruzeiro  –  30

Vitória  –  29

Grêmio  –  29

Flamengo  –  28

Palmeiras  –  28

São Paulo  –  27

Coritiba  – 23

Botafogo  –  22

Internacional  –  22

Sport Recife  –  21

Figueirense  –  21

Portuguesa  –  19

Náutico  –  18

Atlético/MG  –  18

Atlético/PR  –  17

Santos  –  17

Goiás  –  17

Vasco  –  16

Fluminense  –  13

Ipatinga  –  13

* Em azul, os classificados para a Libertadores ’09; em verde, os classificados para a Sulamericana ’09, e em vermelho, os rebaixados para a série B.

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