A MUSICALIDADE MINISTERIAL DE GIL
Foi uma surpresa quando Lula o apresentou como ministro na pasta da Cultura, e foi grata a surpresa quando se viu o desempenho democrático de suas ações, principalmente no que diz respeito a uma progressiva descentralização e, diríamos, descartelização de projetos culturais. Fez um acordo com Lula: 80% atividade ministerial, 20% musical. Mas na prática as atividades se interpenetravam e os percentuais desapareciam no som da política e na política do som. O artista ministro e o ministro artista. Quem não gostou de sua gestão foram o reto (des)humorista Jô Soares e até seu parceiro dos ventos tropicalistas, Caetano Veloso, querendo posar de outside, mas muito bem integrado à direita política e artística. “Toda arte é política”, diria o philopoietai Moacyr Félix. Ele mostrou que não fazia concessões. E também que não estava preso ao passado dos que sofreram perseguição na época da ditadura de fato ou por mera porralouquice. Ao contrário, viu que as ditaduras continuam em linha dura, que se tocam nos seus centros, formando sempre novas/velhas ditaduras, sendo elas que era necessário enfraquecer. Contra ele, nada. Sua gestão/potência democratizante não poderia mais ser emperrada pelo ressentimento da direita/elite/mídia, etc. No avanço cultural, em efervescência nietzscheana —e não como mera pontuação burocrática molar paralisante civilizatória —, criou o Plano Nacional de Cultura, mais de 800 pontos de cultura por todo o Brasil, dobrou a verba do Ministério da Cultura, aumento de incentivos em todas as áreas artísticas. E deixou a linha para ser desfiada por quem vier, como no já noticiado aqui no bloguinho Fórum Nacional de Financiamento da Cultura. Foi grato perceber que o artista carrega a razão construtora ativa no mundo, e que, assim como levou da atividade musical a suavidade na gestão ministerial, provavelmente levará experiências inimagináveis da atividade ministerial para o trabalho musical. Dessa forma, onde estiver arte e política estará perto Gil. Gilberto Gil!