Digamos que em verdade Deus exista. E se Ele existe e acreditamos Nele é porque O conhecemos, mesmo que nosso conhecimento Dele não tenha passado por nosso sistema nervoso central, estrutura biológica, como o cérebro, fundamental para o conhecimento. Mas Ele existe: acreditamos. Tanto que ele criou o mundo, as coisas, os animais, dispôs tudo em seus territórios, com suas funções, ações e reações singulares. Entretanto, de todas suas obras, a mais magnífica e sublime foi o homem. Um ser a sua imagem e semelhança. Seu duplo. Seu gêmeo. Seu Alter-Ego. “A maior maravilha de todas as maravilhas”, disse o poeta filósofo.

Sim, Deus é bondade, e acima de tudo justo. O homem, sua criatura, também. Ele pensa. Colocou o homem na terra para um estágio de transição de retorno ao seu lado paradisíaco. O compromisso da transição envolve os princípios da bondade e da justiça entre todos os homens. Nada de tergiversar dos princípios semelhantes aos do Pai. Viver bem entre si é a sublimidade terrestre do homem. Harmonia absoluta do amor ao próximo. Nada de degradação da ordem do Senhor. Em verdade, o homem é o prolongamento de Deus. É inteligente, criativo, solidário, bondoso e, acima de tudo, justo. Justo executor do modelo de justiça do Pai.

MAS NA TERRA TEM ELEIÇÕES

Mas eis que ecoa a notícia: “Deus está morto!”. Mas não foram Copérnico, Galileu, o Iluminismo, a Idade das Luzes e, muito menos, o filósofo Nietzsche e o escritor Dostoievski seus assassinos. Foram os românticos arquitetos do teo-capitalismo que resolveram, em nome da construção do paraíso na terra, uma salvação mais concreta, fundar o Reino do Reflexo do Outro Mundo, a ponte de ligação deste mundo para o mundo da imortalidade, destino dos que foram justos diante das coisas da barriga. Não se alcança a plenitude celeste de barriga seca e, pelo menos, um pouco de glamour. Para isso, nada de pejo com este reino da ignorância, ambição, trapaça, luxúria e sensualismo. A moral dos valores imediatos. A mola basilar da segurança individualista que, por justiça, só alguns têm direitos. Entre eles, muitos pastores e muitos políticos.

Agora é tempo de eleição. É preciso ressuscitar o velho Deus, nem que seja em simulacro. É preciso pregar seus princípios: bondade e justiça. Princípios sem os quais não há democracia. É preciso esconder a glutonaria. A face voraz da materialidade capitalista. Agora é a vez e a hora da espiritualidade celestial. A busca da imortalidade construída através de ações teológicas. O bom cristão. As imagens se misturam. Eleitores ameaçados pela fúria apocalíptica do juízo final, com candidatos capitalizados na fraude eleitoral. Pois tudo é capital. A vida real, nada de vil metal. Vil metal é coisa do infernal. Inimigo da democracia. Ele afasta a alma da festa da irmandade e confunde a mais-valia. Eleição se ganha com oração! A bíblia na mão e voto como condição. Pastores candidatos e candidatos aos favores. Favores das igrejas sem pecadores.

Os pastores indicam os candidatos. Os fiéis, para quem Deus não morreu, olham os candidatos, verificam suas biografias, lembram dos princípios bondade e justiça, então confessam para si que não vêem a imagem e semelhança de Deus, em nenhum dos candidatos de seus pastores. Aí exclamam em bom som: “Deus está mais vivo do que imaginam as ambições dos fariseus! Eleição não é negócio de outro mundo, a não ser da democracia!”.

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