A ENTREVISTA 'DIET' DE SERAFIM À IMPRENSA 'LIGHT' MAS NÃO MORDE

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A edição desta semana do Roda Viva Amazonas, que entrevistou o candidato à reeleição municipal de Manaus, Serafim, foi a confirmação da submissão da imprensa manoniquim a esta ou àquela candidatura, e do comprometimento dos principais jornais da cidade com a Direita.

Dos tradicionais veículos de circulação de papel, somente o Diário, ofendido com o direito de não-resposta do governador Eduardo ‘guerreiro enfurecido de sempre’ Braga, não compareceu. Mesmo assim, não significa que seja diferente dos demais.

De um lado, jornalistas defensores quase explícitos das candidaturas oficial e da oficiosa, e de outro, um Serafim que, ou acredita fielmente na maquiagem que seus assessores preparam a cada caminhada, ou está bem próximo de ganhar o diploma “o melhor dos mundos” conferido pelo filósofo Pangloss.

Serafim, em geral, confundiu cordialidade com ética, e foi atacado num primeiro momento pelos jornalistas que compuseram a roda. Os temas principais foram os buracos – para os quais Serafim, dizem fontes intempestivas, tem argumento forte e que pode tirar votos de Amazonino, mas que não apresentou – e a rejeição quase arthur-nética que o atual prefeito tem acumulado na sua administração. Serafim mostrou que são dois pontos fracos que podem sim, atingi-lo, e para os quais ele ainda não tem um argumento incisivo que possa rechaçar.

Ainda que seja verdadeiro o argumento de que Manaus é uma cidade sem planejamento, que suas ruas não têm sistema de drenagem, e que as condições climáticas sejam um agravante, a assessoria do prefeito ainda não conseguiu evidenciar exatamente em que parte de Manaus, nos últimos três anos e meio, houve avanços na implantação de um sistema viário que tenha sistema de drenagem e que suporte mais do que uma semana do verão amazoniquim. Também não soube explicar satisfatoriamente porque, às vésperas da eleição, resolveu ordenar o tapamento a qualquer custo dos buracos da cidade, contradizendo o seu próprio argumento de “fazer devagar, mas fazer bem feito”. Serafim também perdeu a oportunidade de explicar as razões “pré-eleitorais” da falta de asfalto no mercado a que a prefeitura foi submetida no início do seu mandato.

No caso da impopularidade, Serafim afirma que não a sente. Sintoma do afastamento (ou melhor, de nunca ter se aproximado) dos movimentos sociais, ou da “preparação” que as secretarias e assessorias do prefeito faz quando ele anuncia que vai a algum lugar? Desconfiará Serafim que as ruas bem varridas, as sarjetas bem pintadas, a água nas torneiras e até mesmo muitos dos “populares” que estão nos eventos são preparados previamente pelas secretarias? Saberá ele que muitos dos aplausos que recebe são de funcionários municipais propositalmente à paisana e que estão ali para fazer claque? Será que Serafim desconfia que, se a casa da Dona Raimunda, que ele citou como exemplo, for em algum bairro da zona Leste ou zona Sul, ele corre o risco de chegar lá de surpresa e encontrar somente o assobio do vento nas torneiras? Serafim conhece o projeto Poseidon?

Evidentemente, não são problemas do prefeito, mas de uma cidade. O interessante é que essa personalização da política, para o bem e para o mal, é um acontecimento muito mais da classe média – de onde vem Serafim – do que propriamente das classes mais abaixo da pirâmide social. Grande parte desta impopularidade pela não-resolução de problemas recorrentes da cidade é como se fosse um “lavar as mãos” de Pilatos – ou Herodes, para Alfredo e Eduardo -, uma “transferência” de responsabilidade, má-fé de quem prefere capitular e fazer de conta que os problemas de uma cidade não lhe dizem respeito. Contentaram-se em eleger um pretenso salvador da pátria, e como não deu certo, a culpa não lhes pertence.

Serafim atribuiu grande parte da sua impopularidade a programas de exploração da miséria social, e que aproveitam para fazer ataque ao prefeito. Neste aspecto, a posição de Serafim coloca os órgãos de imprensa, os mesmos que o questionavam na entrevista, na berlinda, já que eles são contumazes locatários do horário televisivo para este tipo de interesse, na maioria dos casos, lucrando tanto financeiramente quanto no plano do conluio pré-eleitoral. Serafim neste quesito desnudou os jornalistas.

Dos vícios da imprensa, um dos que chamaram a atenção foi a tentativa de um dos jornalistas, aspirante a Walmir Lima, mas que não chegou ainda a Alex Deneriaz, que comprou – ou foi comprado, a ordem não altera o resultado – a versão de seu jornal, que continua a afirmar, mesmo com o próprio presidente Lula desmentindo, que Omar é o candidato do presidente. Do jornal, é possível. O jornalista afirma que não viu o desmentido de Lula. Não lê o proprio jornal onde trabalha, que foi obrigado, no dia seguinte a publicar as palavras de Lula, que afirmou ter recebido o governador e o vice-governadores na condição de presidente, como receberia qualquer outro brasileiro, e não como cabo eleitoral. Serafim lembrou que Lula tem sim, candidato, mas que não é nem ele e nem Omar.

Outra situação em que Serafim desnudou os jornalistas foi quando o questionaram sobre a atuação do filho, Marcelo Serafim. Ainda que a passagem de Marcelo pela prefeitura esteja longe do que apregoou o pai, este aproveitou para, mais uma vez, expôr o comprometimento da imprensa. Utilizou até de ironia, ele que não é dado a toques de humor, quando apresentou o episódio das tartarugas do Marcelo, perguntando porque a imprensa estava ao lado da polícia federal quando esta foi constatar a existência de dois quelônios regularizados na casa de Marcelo, mas “sumiu” do mapa quando a mesma PF foi à casa do denunciante e encontrou 13 tartarugas adquiridas irregularmente. Propaganda para Marcelo, furos n’água para o então candidato e a imprensa que o continua apoiando nestas eleições.

Ainda que tenha iniciado com um clima “inquisitorial”, diante dos desnudamentos promovidos por Serafim, a entrevista descambou para uma entrevista de cordialidade, onde até a lista da AMB foi colocada em pauta, e Serafim escapou com certa tranquilidade de mais uma armadilha.

Para os corajosos que assistiram até o final sem fraquejar, duas ilustrações: a certeza de que os candidatos oficial e oficioso tem um histórico conjunto de administrações tão danosas à cidade, que até um prefeito de mediano a ruim, como Serafim, se destaca. Outra: a certeza de que, se contarem com a inteligência da imprensa manoniquim, estes candidatos estão garantidos. No movimento dos sem-cargo.

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