Quando a democracia passa a ser representada apenas como um conceito e não como devir da sociedade dos amigos, sua essencialidade, constituída em seus domínios lógico, político e ético, consensos internos e externos, torna-se uma anomalia ameaçadora a todos que se encontram envolvidos em suas enunciações. Sejam o seu próprio povo ou outros povos de suas relações. A homónoia identidade de pensamento e a homologia identidade de discurso , criadas nas misturas das pluralidades das semelhanças, potência da democracia, desaparecem, para prevalecer a unidade-stasis (imobilidade) tirânica.

Este tipo aberrante de democracia encontra-se muito bem fundido na idéia míope de democracia representativa, onde a essencialidade sociedade dos amigos é preterida em função do conceito tecnocrático de unidade geográfica, econômica e de segurança. É comum encontrar-se este tipo de anomalia política em alguns estados brasileiros. E até mesmo em municípios. O que mostra os equívocos de muitos governantes quanto à vivência democrática. O que leva a democracia a ser servida de acordo com o gosto do governante.

O GOSTO OBAMA/BUSH

Em função de sua história, principalmente econômica, os Estados Unidos se apresentam para o mundo como o símbolo maior da democracia na terra. Emblema nacionalista que alguns países aceitam, mormente seus aliados. Daí todos os candidatos acreditarem que em campanha eleitoral devam mostrar seus programas de política exterior sempre alicerçado na idéia de império. Imposição clara de seus tentáculos tirânicos nas histórias de outros estados. Visível demonstração de que democracia real é a deles.

As recentes declarações do candidato democrata norte-americano Obama, afirmando que vai manter o embargo econômico sobre Cuba, a acusação a Bush de ter voltado as costas para a Latina-América, caso específico, a Sul-América, que permitiu o aparecimento de “demagogos como Chávez”, presidente da Venezuela, afirmação que coloca, também, como demagogos Lula, Correa, Evo, entre todos sudamericanos, assevera o quanto o candidato é semelhante a Bush. O quanto a idéia atrofiada de democracia é uma ameaça aos governos eleitos democraticamente. Governos que tentam democraticamente sair do julgo escravocrata que foram submetidos pela força tirânica dos ianques representantes do perverso Tio Sam.

Algum incauto pode até afirmar: “Não vamos esquentar. Isso é só papo de campanha, depois os acordos justos serão selados, respeitosamente, entre as nações”. Afirmação que nos leva a revelar que um país tem a maioria de seus eleitores que vota olhando mais para longe do que para sua casa. Eleitores absorvidos por um profundo sentimento de superioridade, a ponto de apoiar qualquer presidente que pretenda invadir outro país, em nome desta honra delirante. Eleitores mistificados e mitificados que possuem grande força reacionária de coerção sobre o parlamento e o executivo, força alimentada pela anomálica moral democrática. Não nos permitem baixar a suspeita sobre a ameaça que vem do norte.

Todavia, dada a autonomia e a produção de um eficiente sistema de governabilidade imposto pelos governantes da Sul América, que se tornou realidade, esta ameaça deve ficar apenas como ameaça-virtual, já que as histórias destes estados estão sendo fundadas em liberdade pela inteligência e coragem de seus povos. Longe da subserviência que durante séculos os paralisou. Para a Sul-América, as ameaças Obama/Bush vão ficar tão somente na retórica utilitarista de quem acredita que governar para si é produzir o mal para os outros.

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