Quando se está de papo pro ar, curtindo as doces brisas das manhãs de maio, levado pelas Odes dos poetas florais, nada como dar uma passeio, por mais breve que seja, na Câmara dos Vereadores de Manaus, mesmo que lhe custe a repreenda de alguns amigos: “Tu não tens nada o que fazer? Vais até lá perder teu tempo!”. Não, não é perda de tempo, já que se vai desfrutar de arrebatadoras hilaridades. É um território cujo estado de coisas produzido pelo talento da maior parte dos edis deve-se excluir o vereador do PT José Ricardo, que não carrega o talento hilário , nos conforta magnanimamente. É um território salutar para se ter certeza a quantas anda a tal da democracia-ajuricabana.

Ontem, segundona 26/05/08, demos uma satisfatória chegada ao nobre recinto das excelências manoniquins. Estava em discussão o projeto de lei do vereador Gilmar Nascimento, que propõe a instalação de câmeras de vídeo nas escolas do município de Manaus. Entre dizeres e gargalhadas, colhemos alguns enunciados provocativos à democracia saídos dos saberes de alguns edis e representantes de instituições e órgãos ligados ao tema escolar municipal. Além, é lógico, da defesa do projeto pelo próprio autor, que também presidia a sessão.

Verador José Ricardo como não possui talento para o riso parlamentar conturbado, comentou o projeto, mas localizando a sua inconstitucionalidade de acordo com a comissão de orçamento. Além de mostrar que o tema escola não se resume a sua segurança interna através da presença de câmeras de vídeo, envolve também outras instâncias sociais que estão ligadas diretamente à administração municipal. Ao terminar, recebeu comentários do autor do projeto.

Vice representante de órgão educacional uma senhora dotada de profunda capacidade de análise da política escolar, comentou a natureza inócua do projeto, ampliando a discussão da insegurança nas escolas à realidade que hoje se vive em Manaus e no Brasil, lembrando da necessidade de se articular discussões com seguimentos interdependentes que estão ligados diretamente aos direitos gerais da sociedade. Em seu termino, não recebeu qualquer comentário da parte do autor.

Vereador Braguinha Falou da ameaça aos alunos no interior das escolas por todas formas de perigo, principalmente dos traficantes. Elogiou o projeto e seu autor, afirmando ser ele, Gilmar, um vereador que levava sempre assuntos inteligentes para aquela casa. No entusiasmo colegial, para beneficiar o companheiro, falou também da violência promovida pelos próprios alunos que “jogam cadeiras para o ar, que caem no chão”. Possibilitando inferências que ou as cadeiras deveriam ficar paradas no ar ou não cair no chão da escola. Da parte do presidente, agradecimentos.

Vereador Jorge Maia Defendeu o projeto, afirmando que iria dar mais segurança aos alunos e professores e que as câmaras de vídeo não iam apenas inibir aos marginais, mas também os maus alunos, que, nos corredores, ficam namorando, beijando-se na boca.

Representante do Conselho Municipal de Educação Do alto de seus mais de vinte e cinco anos de funcionária da área escolar, elogiou o projeto e sua grande importância, afirmando também que, em questão de educação escolar, estamos muito atrasados, pois existem escolas em outros estados que já usam caderno digital. Mesa onde ao alunos não precisam mais do tradicional caderno.

O autor Gilmar Nascimento Começou afirmando que a idéia do projeto surgiu em si no momento em que foi com o secretário de segurança do estado observar como funcionava o mapa das câmeras instaladas em algumas ruas de Manaus, e que diminuíram o índice de violência nas áreas onde foram as mesmas instaladas. Afirmação de que o projeto para a escola é um desdobramento da função policial. Com uma linguagem chula, própria de apresentador de programa de TV que explora a miséria da classe pobre para ser eleito, fez uso da palavra ‘galeroso’ para identificar um dos autores da violência nas escolas, além dos traficantes. Entre o misto da moral mística teológica e a moral burguesa, falou da vida das crianças e adolescentes vítimas da insegurança. Disse que é pai e não gostaria de um dia receber uma noticia sobre alguma ocorrência triste com alguns dos seus entes. É preciso prevenir para depois não ter de chorar.

Sobre o Projeto O projeto não tem nada de novo. É oriundo de outros estados que, por limitação intelectual ou busca de paliativos sociais contra a violência, adotaram-no sem qualquer análise das causas desta realidade escolar. É na verdade um signo panopticon (Jeremy Bentham, seus autor), a lógica da punição que não vigia só os malfeitores/invasores vindos do exterior, mas os alunos, habitantes do interior, já que situa a escola, como diz o filósofo Deleuze, mais como presídio do que instituição educacional. Realiza a função voyeur do olho paranóico que tudo vê, menos a causa do sofrimento escolar. Um deus que alucina na culpa pela ilusão do controle e da disciplina. A absurda eliminação cruel da escola como instância do saber que liberta. A impossibilidade da troca da educação com a liberdade.

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