DO NACIONAL AO MUNICIPAL, ILUSTRAÇÕES PATOLÓGICAS DA POLÍTICA

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RESSENTIMENTO E IMOBILIDADE

Apesar dos Arthurs e Agripinos, a dupla “Tiro No Pé” da dupla PSDemB, ninguém melhor para ilustrar o que é a direita brasileira e seus planos de subserviência internacional e controle nacional do que FHC. O ilustrado doutor e sociólogo é o maior produtor de comentários carregados do ressentimento e da incapacidade de compreensão do contexto social atual, no Brasil e no mundo, sem contar, é claro, com os históricos 8 anos na presidência, de onde, literalmente, faliu o Brasil por 3 vezes, antes de entregar a administração pública federal a Lula, com o país ajoelhado diante dos credores internacionais. Esta semana, FHC, para desespero dos PSDBistas e DEM/PFListas, abriu a boca para dizer mais uma frase do seu atuário:

“Estamos paralisados pelo sucesso, pelo bom desempenho da economia, pela liberdade e pela democracia. Precisamos sacudir a sociedade. Não pode achar que vai no embalo da valsa. Tem que reger a orquestra porque às vezes ela pode desafinar.”

Como bom maestro que foi para os interesses internacionais, principalmente estadunidenses e dos organismos de crédito, dói em FHC ver um Lula que não fracassou, sendo visto como estadista pela imprensa internacional. Mais: ver que nenhuma decisão global pode ser ratificada sem a presença do metalúrgico-presidente. Incapaz de compreender a democracia para além da sua versão burguesa (a democracia representativa), FHC sequer desconfia que o signo não substitui o objeto que representa, e que uma democracia é material, não abstrata. A potência democrática é sempre multitude (Toni Negri).

Como diria o filósofo dinamarquês Kierkegaard, toda inveja é produto da admiração por outrem. Só posso invejar o outro quando me coloco como passividade, como impotência: zero de produção de modos de ser. Inativo, só posso me expressar pelo ressentimento, pela imobilidade, através da dor.

LIMITAÇÃO INTELECTUAL E O ÓDIO SUBSERVIENTE

Uma criança se sente insegura no mundo quando sente que seus pais não criaram para ela os elementos materiais e imateriais para que ela possa transbordar nesse mundo as suas linhas intensivas e aumentar sua potência criadora. Quando ela sente que precisa, às custas da sobrevivência física (nem sempre a intelectiva, e quase nunca a da potência criadora), adaptar-se no teatro de costumes familiar, e representar as expectativas de seus pais (que são as expectativas da moral de classe: a do pequeno-burguês), é por que nela já morreu aquilo que lhe caracterizava o Novo, o intempestivo. Uma criança assim é o espectro dos adultos, uma criança de cabelos brancos, um depósito de clichês, sem autonomia.

O governador Eduardo ‘Guerreiro de Sempre’ Braga esteve na cerimônia de lançamento do Plano Amazônia Sustentável, do governo federal. Lá, enquanto os outros discursavam, sentado ao lado de Lula, cutucava o presidente, se balançava, irrequieto, sempre com o sorriso de uma criança-velha. Braga carrega a maldição da família, o sobrenome. No rosto, traços da subjetividade familiar que “transforma as crianças em macacos de circo” (Simone de Beauvoir).

No seu discursar, outro traço da maldição intelectiva, o plágio, que não consegue se desvencilhar dos clichês. Verborragia esvaziada, vocabulário empobrecido. Quando se sai melhor, Braga não faz mais que copiar no evento presente a fala que Lula proferiu dias antes, em Manaus, sobre os biocombustíveis. Nem sequer se deu ao trabalho de, como diria aquela professora do primário, dizer “com as próprias palavras”.

A mediocridade intelectual do governo Braga no Amazonas é o reflexo da limitação intelectual do governador: se percebe na educação (a segunda pior do Brasil), na saúde (com os feudos nas fundações médicas na cooperativização da medicina pública), na política habitacional (com o risível Prosamim) e na dívida pública do Estado, que cresce exponencialmente.

A POLÍTICA SEM CIDADE DA CMM E SEUS VEREADORES

Se uma cidade tivesse que “provar” que é cidade. Que dispunha dos elementos necessários para sê-la: uma educação que fosse um encontro com aumento das potências, um transporte racional de movimentação intensiva e não extensiva, uma saúde que promovesse a saúde e não a doença, um serviço público que fosse uma produção livre e criadora, uma arte que produzisse afectos e perceptos e não espectros, uma segurança pública que fosse produtora de segurança existencial para crianças, jovens, adultos e velhos, elementos necessários a uma democracia intensiva.

Se fosse colocada a uma cidade como condição para que existam representações do poder legislativo (que produzem o corpo-Estado: as leis) que ela o fosse efetivamente uma cidade, existiria em Manaus uma Câmara dos Vereadores?

Não sendo Manaus uma cidade, senão como organização burocrática, só se pode esperar de seus vereadores que sejam incapazes de posicionar problemas (e por conseguinte, suas soluções).

Assim, somente em uma CMM onde não existe cidade (e não existindo cidade, não há política), é possível que os vereadores usem a estrutura legislativa para ilustrar a limitação intelectual e a inapetência para compreender a coletividade para além dos clichês individualizantes.

Quando os vereadores Marcelo Ramos e Lúcia Antony (PCdoB) deitam loas à inexpressiva Marilene Corrêa, prócer do governo Braga antes na inerte secretaria de ciência e tecnologia e atualmente reitora na institucionalizada UEA, convidada para mais uma homenagem e distribuição de medalhas na CMM, demonstram a inutilidade da casa legislativa como construtora de linhas intensivas comunitárias. Marcelo, em uma frase, resumiu a pequenez intelectiva e a visão com que os vereadores compreendem o exercício parlamentar:

O simples fato de poder reunir, num momento como este, tantas pessoas queridas, já era suficiente para justificar esta homenagem.

O que salta da frase e do posicionamento do virótico vereador comunista não é nem a particularização de uma instituição da administração pública (interesses particulares se sobrepondo ao interesse comum), mas a domesticidade da casa. A subjetividade familiar, a existência pequeno-burguesa, a impossibilidade de diluir o individualismo fabricado pela moral de classe, os clichês, a retidão epistemológica que não comporta nenhuma variância. É a limitação do agir como ente coletivo e público criado pela subjetividade capitalística. Não mais pelo impedimento físico ou social, mas pelo intelectivo. Os vereadores não sabem o que é uma cidade, não saíram do espectro individualizante. Não é que entre o público e o privado, escolham o segundo. Não há escolha porque a operação epistemológica que permite a compreensão da esfera pública neles não aconteceu. Carregam a sala de estar, com mamãe, papai e a tevê para onde vão.

Desta vez, o proponente da homenagem foi o vereador José Ricardo, que até pode ter cometido um ato de humor involuntário (mostrando a inércia da CMM homenageando a inerte Marilene Corrêa), mas não elimina a escorregadela do vereador, que é um dos poucos atuantes na casa, mas que nesta, foi um igual. Tanto que recebeu elogios rasgados de um dos grandes legisladores da casa, em seu nome e no nome do governador Eduardo ‘Guerreiro de Sempre’ Braga: Arlindo Jr, o Pop da Selva.

3 thoughts on “DO NACIONAL AO MUNICIPAL, ILUSTRAÇÕES PATOLÓGICAS DA POLÍTICA

  1. Só gostaria de saber o por que dessa interpretação tendenciosa da frase sobre as PESSOAS QUERIDAS… pois fica evidente que não trata-se de algo pessoal, e sim para a cidade e sendo assim, queridas para a cidade e para o povo de Manaus…
    Fica claro que os vereadores tem que falar mais DETALHADAMENTE suas frases, pois para que fica no outro lado do plenario, sentadinho em sua cadeira assisitindo a tudo, fica muito facil encontrar erros.
    Abraços…
    Obs: Ninguem comenta aqui… que estranho..

  2. Caro Tahan,
    Se a tendência que você apresentou predominou mais em Marcelo Ramos do que a que o Bloguinho Intempestivo viu, então a situação é pior: trata-se de uma patologia social, que faz o vereador achar-se no direito de emitir uma opinião particular – nascida da sua experiência particular com a homenageada – como se fosse a opinião geral. A exacerbação paranóide do conceito de representação: o representante ser tão igual ao representado que faz com que ele, representante, acredite ser capaz de anulá-lo, o representado. Doença perigosa que ameaça a democracia.
    Quanto aos comentários, você tem razão. Ninguém comenta aqui, porque quem comenta não tem nome, não é ponto, é linha intensiva produtora de dizeres que aumentam a potência democrática e a rede da inteligência coletiva. Portanto, não importam os números, mas as variações contínuas de afetos que elas produzem. O que você acabou de fazer agora.
    Abraços e apareça!

  3. Certo… mas justamente por achar que a quantidade de leitores deve ser grande que estranho a pouca atividade dos mesmo comentando seus comentários e opniões (pertinentes ou não).
    Mas a democracia é assim, nos deixa livre perante expressões e isso que fascina nossa sociedade, que nem sempre a utiliza para seu bem ou da cidade.
    Abraços!

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