O MUNDO É GAY, MAS A VEJA E BRUNO NÃO SACARAM…

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Pobre do gay que precisa da Veja para se assumir! Não, pobre de qualquer um que precise da Veja para aparecer! A entrevista com Bruno Chateaubriand, 32, nas chamadas Páginas Amarelas da revista desta semana está mais uma peça de marketing pessoal do que propriamente a abordagem de um assunto de interesse público. Esperar o quê, da Veja? E de Bruno?

Bruninho é high society, my Darling!. E como tal, muito bem ajustado. Passou a infância e a adolescência dando um duro danado pra se normatizar, caber dentro das definições e compreensões do calunismo social da classe média-mídia. Nunca conseguiu suspeitar nem um pentelhinho de que a sua condição não era sua, mas sim uma produção social do homem. Sofreu, tadinho, pra finalmente assumir a sua condição. Prato cheíssimo pro sensacionalismo da Veja, que confunde transgressão com regressão, e acha que estampar um gay assumido e ressentido é fazer jornalismo de vanguarda.

Se nos caminhos da existência do Bruneca tivesse passado um gatíssimo existencialista, ou que tivesse transado Sartre, o fantasmático-assumido poderia ficar sabendo que assumir é uma estratégia da moral decadente: “Assume! Confessa”. Somente aceitando o signo que inscreve a identidade no corpo é que se pode ser feliz, diz a cartilha do campeão da moral. Aí, meu bem, babau! Tá capturado pela subjetividade que transforma os corpos em objetos de consumo e a potência de agir em quase-nada.

E que não se reduz ao homoerotismo. Kaká, por exemplo, ficou jururu com a G Magazine só porque a revista quis explorar o fetiche do garoto inocente com carinha de anjo que ele tem. E como isso toca na insegurança afetiva dele, achou por bem proteger o investimento, ameaçando a revista e o sósia dele de processo. Cruzes! Foi o Ó!

Quem foi que disse que a linha de fuga do corpo, do sexo, tem que ter nome? Por isso a palavra homoerotismo, que é mais próxima do devir, da potência criadora, do fluxo da Vida. Homossexual não existe, meu bem, sexo são dois: macho e fêmea O uso que você faz, os encontros que têm, os afetos que produz, o gozo, a alegria ou a dor e a frustração são resultados do modo de existir que seu corpo compôs neste planeta gay. O Homossexualismo é identidade. O erotismo, o homoerotismo transborda, cai pelas bordas de afecções sem referência, sem ter a intensidade capturada e esvaziada pelo regime Significante Despótico que a tudo quer segregar, isolar, identificar, classificar e rotular.

Bruninho tem receio de sair do armário. Pensa que saiu, mas só acendeu a luzinha lá de dentro, meu amor! Continua com os mesmos complexos e frustrações de antes. Faz um festão pra 300 pessoas, com Don Pérignon à lá vonté, mas não consegue ficar numa boa com o bofe. Quer adotar uma criança com síndrome de Down. Vixe, mon amour, só pra daqui uns anos ele poder transmitir a doença afetiva do estigma do condenado pro garoto? Por que o ressentido, que precisa da dor pra continuar a ilusão do existir, precisa também da dor do outro. Quantos casais ditos brancos de classe média adotam crianças negras pra mostrar o quanto são caridosos e descolados, e as mantêm na mesma relação de subserviência produzida no preconceito? Bruninho tem a maior bronca com as bêetchas que se soltam na Parada Gay. Pudera, meu amor, a inveja, já dizia a tresloucada/o dinamarquês/a Sören Kierkegaard, outro filosofante do existencialismo, nada mais é do que admiração que não pode aparecer livremente. Pra completar o confeito do bolo, o esporte preferido do mártir das páginas de Veja é arremessar ovos podres, coca-cola e outras indigestices nos transeuntes, junto com amigos – muy amigos – como Boninho, Luiz Eduardo Brizola e Narcisa Tamborideguy. Boninho, aliás, gosta de usar o homoerotismo alheio como mercadoria na globolálica. Lindo, né?

Quanto à Veja, já mostrou mais de uma vez que jornalismo não é com eles. Não é que eles não queiram não, o problema é não conseguir entender a idéia de que jornalismo é serviço público, que requer um entendimento para além da obviedade umbilical. Diferenciar o fato da notícia, compreender a contextualidade do acontecimento num plano que envolva um entendimento ético sobre o mundo não faz parte da prática da maioria dos veículos de imprensa no Brasil. A Veja confundiu mais uma vez transgressão com regressão. Coisa de limitação epistemológica, tadinha. Não conseguiu nem perceber que o mundo é gay…

Mas é que para esta mídia seqüelada as chamadas minorias nada mais são do que parte da sociedade de consumo. Para ela, interessa só o que é consumível e descartável. Daí a necessidade de usar e fortalecer os estereótipos. No falso humor da tevê, o homoerotismo, o considerado feio, a mulher, o negro. Mal sabem eles, nem desconfiam da força que têm as minorias como devires. O devir-minoria, como fala os vitaminadíssimos filosofantes Guattari e Deleuze, é a potência que desestabiliza os blocos de ressentimentos. A práxis se dá em todos os graus, desde a pele até a convivência. De nada adianta levantar a bandeira da bichalouquice, e nas relações afetivas repetir as mesmas leseiras dos casais héteros: a relação de dominação, o desconhecimento, o embrutecimento. Na televisão, como na mídia seqüelada em geral, essas minorias só podem aparecer se forem travestidas pelo véu do circo de variedades. Vide BBB, meu bem. No dia em que uma bêetcha com saque chegar num programa desses e começar a desmontar, aí, mana, eles vão ver o que a Maria pegou na capoeira, ah, se vão. Olha a comunidade “Homofobia, Já Era!”, no Orkut, por exemplo: botam pra quebrar, falam, discutem e ainda tem cada gatinho e gatinha… Ui!

As minorias já sacaram que não precisam da mídia, mas ao contrário: a mídia precisa avidamente delas. Como mercadorias, claro. Jamais pelo talento, inteligência, ternura e humor. Isso não cabe nem na telinha nem nas páginas das seqüeladas, amarelas ou de qualquer outra cor.

3 thoughts on “O MUNDO É GAY, MAS A VEJA E BRUNO NÃO SACARAM…

  1. ola!!! estamos curiosos para ver as fotos e o asssunto da festa de candomble na casa do pai alexandre de yemanja estamos curiosos … valeu pela precensa na festa abrigado

  2. Companheiro Diego, não perca por esperar. Amanhã com certeza o post sobre a festa estará aqui. Contamos com a sua presença. E avise às amigas e aos amigos!
    Abraços!

  3. muito bom como você trabalhou seu texto.. fascinante!..um ponto de vista (muito solido e coerente)que deve ser trabalhado cada vez mais! parabéns!

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