Feliz Ano Novo! Adeus, Ano Velho!”. Antes era apenas uma enunciação tomada como ingênua, lembra? Hoje, porém, além de um chavão, é uma palavra de ordem. Um imperativo. Tu vais cair nessa, 2008? Não acredito que vais deixar barato essa perversa ilusão temporal. Ora, ora, anual! Embora o homem ingrato te tenha como um cronos, uma linearidade pontuada, tu és movente, indivisível, incapturável. No teu interstício escorre Aion. O fora, o além do exterior e o mais próximo, distante do interior. Queira ou não queira o homem ingrato, tu sempre escapas. Mas se não acreditas, intempestivo, olha só. Na passagem do 31 de dezembro de 2006, para o 1 janeiro de 2007, o homem ingrato, exultante, cantou este mesmo enunciado do “Feliz Ano Novo! Adeus, Ano Velho!”. Esperou este teu parente com ansiedade jamais vista. Quis vê-lo. Tê-lo. Tudo nada mais que o futuro paraíso prazeroso. Fez pedidos, promessas, duvidou, tudo como comprometimento 2007 à felicidade. Como se diz: o 2007 era o bicho da goiaba. A idéia do “agora vai”. Hoje, neste 31, é tua vez. Não te engana, 2008. Este homem é ingrato. Como diz a estorinha infantil: “Hoje ele te dá mel, amanhã te dará fel”. Ou como diz a toada do boi maranhense: “Carne seca na janela, se alguém olha pra ela (Catirina) pensa que lhe dá valor”. O homem ingrato não te tem valor, 2008. Saca esta. Uma vereadora, que se diz da esquerda, deseja para Manaus, em 2008, portanto em tI, o mesmo que 2007. Antecipadamente, ou a priori, como diriam os intelectuais, te culpa por tudo que é Manaus hoje. Uma cidade cujos afetos não se constituem em comunalidade: aumento da potência de agir sócio-politicamente. Saca esta outra. O governador Eduardo Braga se coloca em outdoor, em matéria da revista Isto É, conhecida como marqueteira da propaganda paga, que é o político do Meio Ambiente de 2007. O que inferes disto? Isto mesmo. Ele projeta o teu comprometimento. E o que é que tu tens a ver com esta autoglorificação? Nada. Mas vais ter que pagar. Outra sacada. Quantos neste momento estão culpando o 2007 como responsável por suas incompetências administrativas e já depositando em ti a responsabilidade de um sucesso futuro. Recurso que Lula não adota. Eficiente, se alegra com as realizações políticas/sociais junto ao povo. De certa forma, esperando a passagem temporal, tua chegada, sem nenhuma alucinação paranóica. E os amantes do ocultismo, que procuram os pais de santo para te escarafunchar e saber o que guardas como surpresas futuras? E os invejosos, que esperam que tu vingues os fracassos deles? Fernando Henrique, Arthur Neto, Agripino Maia, Mão Santa, Heloisa Helena, Tasso Jereissati, Diogo Mainardi, Eliana Catanhêde, Ali Kamel, Heitor Cony, Clovis Rossi, Josias Souza, Jô Soares, Lúcia Hipólito, Miriam Leitão, Jabour, Bonner-Simpson…; todos rezando para que faças Lula fracassar. Se for possível, nas eleições que carregas.

Então, embora nós saibamos que não podes saber nada do passado, tu vais ter que tomar posição: ou acreditas no que estamos mostrando ou espera o teu 31 de dezembro para saber a verdade. Pois foi assim com os outros anos. O homem ingrato compulsivamente troca um ano por outro sem qualquer consideração. Parafraseando o teatrólogo alemão Brecht: “Troca de ano como se troca de sapato”. Portanto, 2008, sejas mais Aion que Cronos. Mais devir que ressentimento e má consciência supersticiosa.

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