Uma sacada fora (ob) da cena (scenus) do lugar de ação (torius) da imprensa

<- A máxima do programa de TV e site do Observatório da Imprensa, dirigido pelo jornalista Alberto Dines, “Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito”, nos conduz a duas obviedades jornalísticas predominantes. Uma é que em função da homogeneidade da grande imprensa constituída de clichês e partidarismo reacionário, jornalismo de mercado, já é impossível lê-la. Outra, é que o próprio Dines não se permitiu fazer um estudo semiótico para compreender que é impossível construir um conteúdo discursivo que escape ao enunciado como “unidade elementar do discurso” (Foucault) realidade dominante se não desconstruir a semiótica sobrecodificadora elaborada para ensignar a ordem de sujeição tão proferida, ingenuamente, pelo jornalista observatoriante. Dines não sai do tório, o lugar da cena jornalista seqüelada. Daí que a visão permanece escotomizada, apesar do “nunca mais vai ler”.

<- Em seu artigo A Imprensa Baleada, o jornalista responsável pelo comunicatório Observatório da Imprensa, Alberto Dines, escreve: “Quando o senador Renan Calheiros manda abrir uma CPI contra a Editora Abril, porque a principal revista do grupo, Veja, tem revelado os seus estranhos negócios, cria-se um paradigma de intimidação e terror que logo se irradiará para outros setores da sociedade”. Visualizações não vistas por Dines: 1- Renan é a-democrata, carece de suspeita. 2- CPI é tribuna midiática da maioria parlamentar, principalmente dos reacionários ditos oposicionistas. 3– A revista Veja, pós Mino Carta, esse sim jornalista/cívico, é vizeira do cacojornalismo difamatório/escandalizante. Sobrevive materialmente do que a antipsiquiatria chama de delusão. 4– Os estranhos negócios de grande parte parlamentar são de domínio público. 5– Como paradigma, é histórico/social, não se cria magicamente por um sujeito. 6– Terror é uma subjetividade reativa produzida por elementos materiais e imateriais perversos saídos do medo dos tiranos. Exemplo: Bush.

<- Ainda no mesmo artigo, Dines afirma que “a imprensa não pode ser criminalizada porque denuncia abusos, ela existe justamente para denunciar abusos”. Breve obscenatoriedade: em seu comentário, onde a Veja é destacada, Dines deixa saltar um pastoreiamento/ovelhante que para nós não cabe a um homem que se quer o fragmentador da percepção congelada. Já que a Veja é, das revistas panfletárias, a que mais abusa da criminalização do outro. Principalmente quando este outro está próximo de Lula. Mesmo distante. Mesmo nas distâncias: perceptiva e intelectiva.

<- O guru da seqüelada Veja, Diogo Mainardi, disse que “O papel da imprensa é apenas dar informação e comentá-la. Se o leitor ou o espectador quiser protestar, ele que se vire”. Seria democrático se assim fosse. Mas não é. Ainda mais saindo da vejamainardifrenizada. Uma dissipação não se torna discurso se não for apanhada epistemologicamente. Daí não poder formar. Muito menos dentro como in. Dentro é um lugar que não existe. Por tal, o jornalismo não in–forma. É disforme. Quem forma é o sujeito da fôrma. Por outro lado, para comentar um objeto é preciso que o sujeito do comentário carregue signos além dos signos que conceituam o objeto. Para poder apresentá-lo como outro discurso que antes não havia se mostrado cognoscível. Mas isto é querer demais do dissipado Dioguinho. Chegar a este estágio é implosão geral.

<- “Com o caso Renan, o último adeus do PT à Ética”, ajuíza a psicodélica Veja. Adeus poderia ser: ir de encontro a Deus. Mas que Deus? O deus da Veja: a irracionalidade medrosa travestida da lógica: Como sou homenzinho, papai! Machinho, machinho, mamãe! A mística do dominado. E ética? No emaranhado do palavrório, ela surge como defesa paranóica do capital. Tudo que me faz bem, não importa o mal a quem. Quer filosofia na Veja? Impropério. Como a Globo, é para inebriar. Parafraseando Heloisa Helena: Para falar em ética, lave a boca! Mas como lavar a boca quem não a tem? Por isso, é muda? Talvez até destituída de todo o aparelho fonador e das conexões neuro-cognitivas. Só vê quem não carregar a ética da Veja.

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