A VERGONHA
“A vergonha é a cólera contra si mesmo”, diz Marx. Nesse enunciado filosófico/político, Marx nos conduz ao entendimento que o ato de envergonhar-se não cabe na redução egóica descarteana do “Penso Logo Existo”, fundamentação moral da cultura burguesa. Ainda mais quando se sabe que esse pensar não é tido como experiência do novo, mas como projeção imaginativa. “A absolvição do Renan é uma vergonha”! A vergonha marxiana encontra-se ligada a filosofia de Sartre do sujeito revelado em situação como projeto de si mesmo: “ A miséria só acabará quando o Homem pensar um mundo onde ela não seja possível”. Eis a esfinge cognitiva/afetiva do senso comum da classe dominante. “Decifra-me ou te devoro”! Só tem devorado. O estágio da cólera contra si, só se atinge quando o sujeito salta da alienação do si, e se envolve fora como outro com os outros, para quem é um outro sujeito da práxis política. Um trabalhador produtor da História. Sujeito examinador em situação, como diz Sartre, de um mundo alienado/alienante em que foi lançado e mistificado desde seu nascimento. Então, envergonha-se. Torna-se responsável pelo mundo. Engaja-se em liberdade na criação do seu Projeto de Homem. Envergonha-se, responsabilizando-se pela História de quem nada lhe escapa. Parafraseando Primo Levi, “como homens, o holocausto é de nossa responsabilidade”. A vergonha. De quem deu a volta em si: desalienou-se historicamente. Saltou do niilismo decadente burguês.
A VERGONHA DE NOSSA “POLÍTICA”
Renan é absolvido por seus pares: os que votaram a favor e contra sua absolvição. Isto porque, a realidade política/jurídica democrática do corpo senatorial está ocultada pela subjetividade imaterial (idéias) composta pela maior parte dos senadores. É impossível encontrar um enunciado que carregue elementos democráticos saído da crítica que suspeitou do mundo como quimera. Os comentários pós resultado comprovam a mistificação política aí dominante. A exacerbação do senso comum. O relator do processo, Renato Casagrande (PSB-ES) disse que o senado não respeitou o desejo do povo. Entenda-se, o povo que está em seus anseios. Pois o povo brasileiro, em sua maioria, a tempo sabe que este senado não tem pauta para ele. Tião Viana (PT-AC), primeiro vice-presidente do senado, envolvido pela mística, disse que a agonia e o calvário vai continuar. Ora, pois. Errou de Cristo. Cristóvam Buarque, na força imobilizadora da mágoa, responsabilizou o PT e Lula que quer um senado fraco para poder mandar. Os nossos orgulhos amazonenses, queridos da mídia sequelada, um se dilacera em moralismo ressentido e o outro em fabulação. E o outro do outro falou em iniciar o processo seguinte. Para entender melhor esta subjetividade opaca que predomina no senado, basta entender que para estes senhores e senhoras, o Congresso Nacional é o grande amor idealizado. Entendido isso, avente como a maioria foi eleita em seus estados, analisando suas linguagens, conteúdo e gestual. Mão-Santa, o caricato-verborrágico. Tasso Jereissati, o maneirista transferente. Azeredo, o avô do mensalão, ‘padrinho’ de Marco Valério. E por aí vai, Agripino Maia, Roberto Freire… E se for possível, aplique-lhe um teste: O que é República? O que é Democracia? O que é Ética? As respostas afirmarão a impossibilidade da vergonha. Pois, esta grande parte, carrega de uma forma ou de outra, elementos anti-democráticos que Renan carrega. Por isso, sempre haverá um para servir de acusação para os outros mostrarem à opinião publica suas vergonhas. A vergonha do eterno ressentido/enfezado, Boris Casoy. Vergonha saída da imaginação/supersticiosa.