A INCRÍVEL TEIMOSIA DA PONTE QUE CAIU
Desde o início de abril que a ponte da rua José Romão, que liga os bairros Tancredo Neves e Novo Aleixo, conhecida como Ponte do 7, já não existe, quando cedeu durante uma alagação. Depois a Prefeitura de Manaus foi lá e terminou de derrubá-la por oferecer perigo aos transeuntes que se arriscavam passar, é o que conta a este blog a senhora Yane, moradora e proprietária de uma panificadora à cabeceira da ponte. Ela nos fala do empenho dela, do marido e dos outros moradores em pressionar a Prefeitura e em construir passagens de madeira.
Já veio até o prefeito aqui; há mais ou menos um mês atrás ele veio aqui. Fez mil promessas, que promessa ele sabe fazer bastante. Já presidente do bairro eu nem sei se tem aqui, dizem que tem um cara aí, a gente foi atrás dele, mas a gente nunca encontra esse tal presidente do bairro. Mas se não fossem os moradores se reunir: fizeram a primeira ponte; deu outra chuva, caiu a primeira, que era ali onde está aquela de ferro. Depois que caiu essa, meu marido se reuniu com o pessoal, dois de um, dois de outro, 1 Real de um, pra comprar madeira de novo, e novamente fizeram outra. Caiu de novo. Essa já é a terceira ponte construída. Os mototaxistas se reuniram com o pessoal e fizeram novamente a ponte. Fora a encanação, que vem do lado de lá pra cá, a população também está tendo de ajeitar, porque quando a água vem, não só a ponte, mas também a encanação vai por água abaixo. No comércio, tem atrapalhado bastante, principalmente na parte de mercadoria; não mexe tanto com o pão, porque o pão, por ser mais barato, às vezes é café, merenda, almoço e janta de muitas pessoas. Três pessoas daqui já fizeram abaixo assinado. O pessoal que veio lá da outra ponte, fazendo abaixo assinado também nada conseguiram. De vez em quando aparece um e chama: “vamos tentar mais uma vez”… Já falaram com o pessoal da televisão, Conceição já veio aqui, até a filha do Garcia já veio aqui. Só fazem filmar, bater foto, e a gente não vê nem falar na televisão.
Se ao poder público compete as disposições a respeito das coisas públicas, percebe-se aí que a população está tendo que se unir para realizar aquilo que ao governo compete e não está sendo realizado. Xxxxxxxx, outro morador, acrescentou alguns problemas enfrentados pelas comunidades dos dois bairros com a queda da Ponte do 7 e do esforço de seu pai, José Batista Carneiro, um dos envolvidos nas construções das pontes de madeira pelos comunitários.
Depois que a ponte caiu, o ônibus 072 não passa mais por aqui. Ele vem ali pelo Novo Aleixo e retorna. Às vezes o pessoal, quando estão mais avexados, andam até a Grande Circular. Não tem outra rota não. Quando ele passava aqui na feira, era beleza. Meu pai é que se ajunta com o pessoal, o pessoal da panificadora, o Manuelzinho, os peixeiros; arrecadam dinheiro pra comprar talba, pediam 1 Real de cada motoqueiro que passava, e assim construíram essa outra aí.
Pela fala do mototaxista Márcio, percebe-se a desconfiança em relação a alguma medida advinda da Prefeitura a fim de solucionar o problema da ponte caída, ele ridiculariza a ponte de ferro colocada por ela e afirma que a única possibilidade é a reflexão crítica do voto nas próximas eleições.
Só promessas. Os políticos vem aí, vem a televisão. Filmam, tiram foto, inclusive, no mês passado, o prefeito esteve aqui. Ele prometeu que no final do mês passado a ponte seria construída. Até agora, nada. Depois que ela caiu, a erosão está corroendo tudo por aqui, olhe que está tudo partido. E eles não fazem nada. A gente é que se uniu aqui com o pessoal e fizemos essa ponte aí de madeira, para passar moto. Antes, passou várias semanas sem ponte. É essencial isso aí, é o que liga os dois bairros; mas o prefeito não liga, as autoridades não ligam. Quando ele veio, veio com um monte, veio o secretário de obras. Não resolvam nada. E está ficando cada vez pior, o buraco está ficando maior. Depois de a gente reclamar, pedir, eles fizeram aquela pontezinha ali. Segundo o pessoal comentou, essa ponte foi avaliada em 7 mil Reais. O movimento da gente caiu. Não é só pra gente, mototáxi; caiu pra todo mundo. Antes aqui tinha um movimento na rua, na feira. O rapaz aí até fechou a banca de peixe dele porque não tem pra quem vender. Ninguém vem mais por aqui. O rapaz que estava construindo a ponte disse pra mim que tem oito pontes que caíram pra serem reconstruídas, mas aí a Prefeitura joga pra cima do Governo, que o governador não liberou dinheiro pra Prefeitura. O povo tem que entender que a gente tem de se vingar deles no voto: quando chegar a eleição, a gente pega eles, os partidos que estão aliados com eles e ‘fode’ eles. A gente paga nossos impostos, a gente tem de exigir. Agora vá ver a fortuna que não vai sair uma ponte dessas. A empresa que trabalhava aqui derrubando a ponte ainda disse que ia parar a obra, porque a Prefeitura não pagava. Essa ponte aí foi feita pela gente, e aquele senhor na cadeira de rodas lá, ele, nós e as outras pessoas necessitam…
A PONTE DO 7 À ESPERA DO BOI VOAR
Quando o holandês Maurício de Nassau, em 1633, construiu a primeira grande ponte das Américas, em Recife, quando a construção da ponte emperrou, ele mesmo se pôs à frente da empresa. Para a inauguração, consta que João Maurício faria um boi voar sobre a ponte, e fez, usando roldanas em um boi de couro. Parece que na política manoniquim, os políticos querem fazer seu boi de canga voar, mas sem a ponte. A população diz que o boi dos políticos não alçará longo vôo e acabará afogado no Igarapé do 40.
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