ESTUDO SUGERE QUE CONTRAIR COVID-19 DURANTE A GRAVIDEZ PODE AUMENTAR RISCO DE AUTISMO NAS CRIANÇAS
afinsophia 04/11/2025 0
Filhos de infectadas apresentaram 29% mais chance de serem diagnosticados, até os três anos de idade, com autismo ou outros atrasos no desenvolvimento

Os efeitos da Covid-19 podem se estender por gerações, aponta um novo estudo publicado nesta semana. A pesquisa indica que filhos de mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez têm uma probabilidade ligeiramente maior de desenvolver transtornos do espectro autista (TEA) e outras condições de neurodesenvolvimento.
O estudo foi conduzido por cientistas do Mass General Brigham, em Boston, que analisaram milhares de nascimentos ocorridos no auge da pandemia. Segundo os pesquisadores, gestantes que tiveram Covid-19 apresentaram um risco modesto, mas estatisticamente relevante, de ter filhos posteriormente diagnosticados com autismo ou atrasos no desenvolvimento.
Embora os resultados não sejam definitivos, os autores reforçam a necessidade de monitoramento a longo prazo das crianças expostas ao SARS-CoV-2 ainda no útero, especialmente em relação ao desenvolvimento neurológico da criança, defenderam os aautores no artigo publicado na revista Obstetrics & Gynecology.
Desta vez, os pesquisadores se concentraram em um ponto ainda pouco explorado: se a infecção durante a gestação poderia também elevar o risco de autismo. O TEA é uma condição multifatorial, com causas que envolvem tanto fatores genéticos quanto ambientais. Infecções maternas e febres altas durante a gravidez, por exemplo, já haviam sido associadas anteriormente ao aumento desse risco.
O que diz o novo estudo
A equipe analisou dados de mais de 18 mil mulheres que deram à luz no sistema de saúde Mass General Brigham entre março de 2020 e maio de 2021. Entre elas, cerca de 860 testaram positivo para Covid-19 durante a gestação.
Ao comparar os dois grupos, os pesquisadores observaram que os filhos das mulheres infectadas apresentaram 29% mais chance de serem diagnosticados, até os três anos de idade, com autismo ou outros atrasos no desenvolvimento, mesmo após o controle de outros fatores de risco. O aumento foi mais evidente quando a infecção ocorreu no terceiro trimestre da gravidez e entre meninos.
Os autores enfatizam que a pesquisa é observacional, ou seja, mostra apenas uma correlação — e não uma relação de causa e efeito. Ainda assim, destacam que, somadas a outras evidências sobre o impacto de infecções durante a gravidez, as conclusões reforçam a importância da prevenção.
“Essas descobertas sugerem que a Covid-19, como outras infecções gestacionais, pode representar riscos não apenas para a mãe, mas também para o desenvolvimento cerebral do feto”, afirmou a autora sênior Andrea Edlow, especialista em medicina materno-fetal no Mass General Brigham.
“Isso reforça a importância de prevenir a infecção por Covid-19 durante a gravidez, especialmente em um momento em que a confiança nas vacinas tem diminuído”, acrescentou.
Debate sobre vacinas
Nos Estados Unidos, a hesitação vacinal entre gestantes vem crescendo. No início deste ano, o secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr. revogou a recomendação do CDC para que mulheres grávidas saudáveis recebessem a vacina contra a Covid-19.
Mesmo assim, entidades médicas independentes — como o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas — continuam recomendando a imunização de gestantes contra a Covid-19 e outras doenças sazonais, como gripe e VSR (vírus sincicial respiratório).
Kennedy e outros integrantes do governo Trump também reacenderam teorias controversas sobre as causas do autismo. Em setembro, a administração alegou ter encontrado uma ligação entre o uso de paracetamol na gravidez e o transtorno, uma hipótese amplamente criticada pela comunidade científica por falta de evidências robustas. Tanto Kennedy quanto o ex-presidente Donald Trump já haviam endossado, no passado, a falsa teoria de que vacinas causariam autismo.
O que se sabe até agora
Apesar de a Covid-19 já não representar a mesma ameaça de 2020, o vírus ainda circula e continua exigindo atenção.
Os pesquisadores destacam que mais estudos são necessários para compreender os mecanismos por trás da possível associação entre a infecção durante a gestação e o risco de autismo — especialmente porque febre alta, um sintoma comum da doença, já é um fator conhecido de risco para o transtorno.
Enquanto novas evidências não surgem, especialistas reforçam: vacinar-se continua sendo a principal forma de proteção para gestantes e bebês.