FREDERICO FIRMO: CARBONO OCULTO VERSUS CONTENÇÃO: CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE

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por Frederico Firmo

A irresponsabilidade da imprensa continua. Um governador diz preparar uma megaoperação durante um ano. O resultado desta preparação foi uma centena de mortos. Números de um dia de genocídio em Gaza. Durante um ano, não solicitou auxílio da PF ou do governo federal. Quando percebeu que deu ruim, Castro tentou se eximir de culpa e jogar a culpa numa pretensa negligência do governo federal. A imprensa reverberou. Os detalhes da operação e a visão dos corpos na rua da comunidade se tornaram apenas pano de fundo para os ataques ao governo federal. A resposta de Lewandowski vem sempre acompanhada da frase: o governo do presidente Lula, preocupado com o impacto eleitoral, se manifestou… Deixado o massacre de lado, Castro e imprensa enfatizam a falta de blindados, não enviados pela União. Me pergunto o que fariam os blindados nesta operação. Segundo o próprio Castro, as mortes se deram na região de mata, onde blindado algum chegaria.

O problema da operação não foi negligência, mas sim uma proatividade criminosa de Castro, que quis tomar para si o título de governador mais duro contra o crime. Desconfiado dos resultados e diante da centena de mortos, se apavorou e, ao invés de bradar, como gostaria, que ele sim sabe lidar com criminosos, se transformou de algoz em vítima. O mesmo governador que se opôs a um projeto de lei visando harmonizar todas as forças de segurança agora se disse abandonado pelo governo Lula. Porém, com a diarreia locutória de sempre, confessou estar planejando esta ação há um ano sem contatar forças federais.

A extrema direita não se cansa de se colocar ao lado da barbárie, os governadores de extrema direita se perfilaram numa reunião em apoio a um Castro que retomou, com alegria, o papel de algoz. Revivendo o sonho de se separar do país e formar um Brasil do Sul, os governadores tentaram mostrar união criando, na frente das câmeras, algo  cínicamente nomeado como Consórcio da Paz. Não possuem sequer um projeto, é puro escárnio. Já haviam tentado  se mostrar a alternativa de poder quando criaram comissões para negociar com Trump, mas foram torpedeados pelo chefe, Eduardo Bolsonaro. Ao lado dos governadores, Castro terminou se gabando de que a operação foi planejada para causar o que causou. Eu diria que foi politicamente planejada, por pessoas que acham que quanto mais sangue, mais votos. O resultado chocante, inicialmente criticado pela imprensa, aos poucos, foi ganhando outras cores e, eleitoralmente, a imprensa mudou o foco contra Lewandowski, isto é contra Lula.

 

Todos sabem do esforço de Lewandowski tentando estabelecer um trabalho mais harmonioso e coordenado entre as esferas federal, estadual e municipal e todos sabem da oposição de governadores como Tarcísio, Caiado, Zema, Castro e Jorginho. Mas a imprensa, mais uma vez, montou o ringue para a disputa eleitoral e para a corrida sobre quem será o bolsonarista moderado. A imprensa continua seu trabalho, fortalecendo e divulgando a narrativa na qual  existe uma oposição entre direitos humanos e segurança pública. Sem nenhuma sutileza, mencionam que a esquerda defende os direitos humanos e insinuam que é contra os policiais e a favor dos bandidos. A frase infeliz de Lula é um prato a ser deglutido lentamente. Mas jornalistas e imprensa  sabem que  esta, é a forma subliminar e irresponsável de propagar cada vez mais o discurso da barbárie. Para atingir fins eleitorais, a imprensa não vacila e usa o que tiver à mão, mesmo que suja de sangue.

Numa das chamadas, o Estadão, de maneira torpe, escreve que o governo federal, isto é, a esquerda, fica entre a ação e bater palmas para a criminalidade.

Tenho certeza de que estes jornalistas sabem do que estão falando, mas preferem assumir o papel de caneta de aluguel. A Operação Carbono Oculto capturou mais armas, mais drogas e prendeu um maior número de criminosos e atingiu a fundo o financiamento e a lavagem de dinheiro, sem nenhuma morte. Algo me diz que a operação Contenção foi planejada para, com tantas mortes, competir com o sucesso da Carbono Oculto. Esta é uma resposta típica da direita, que sempre optou por massacres quando queria impactar a sociedade. A imprensa toma sua posição e prefere o massacre.

Não demorou a surgir uma pesquisa de opinião. Após uma carga televisiva, justificando a operação, exploraram as mortes dos policiais envolvidos e repetiram várias vezes que todos os mortos tinham condenações e/ou fichas criminais. Em cima disto, requisitaram pesquisas de opinião, com as perguntas óbvias. Sem nenhuma análise, os comentaristas apresentam o resultado, como se fosse um resultado final. E insinuam que a voz do povo é a voz de Deus.

O resultado da pesquisa, com maioria apoiando o massacre, deveria ser a pergunta e não a resposta. Por que será que a maioria parece aplaudir a barbárie? Mas a imprensa não se preocupa com esta pergunta, lava as mãos e apresenta o resultado como a resposta final. A pesquisa pauta o debate  e exita os sonhos eleitorais do governador. Mais uma vez a extrema direita nos obriga a discutir a quadratura do círculo. Em mais alguns dias, a pesquisa será notícia de ontem, mas colunistas e apresentadores estarão em alerta, mas não mudarão seus objetivos.

Frederico Firmo – Possui graduação em Bacharelado em Física pela Universidade de São Paulo (1976), mestrado em Pós-Graduação em Física pela Universidade de São Paulo (1979) e doutorado em Física pela Universidade de São Paulo (1987). Atualmente é professor Titular  aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina.

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