SÓ HAVERÁ PAZ QUANDO A VIOLÊNCIA COLONIAL DE ISRAEL FOR DESMONTADA, AFIRMOU PESQUISADOR

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Arturo Hartmann diz que cessar-fogo mediado por Trump não enfrenta causas estruturais do conflito

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A paz entre Israel e Palestina só será possível se for desmontada a estrutura colonial que sustenta décadas de violência e ocupação israelense sobre o povo palestino. A avaliação é do pesquisador de relações internacionais Arturo Hartmann, entrevistado no podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato. Para ele, o acordo de cessar-fogo mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciado nesta segunda-feira (13), representa apenas uma pausa no genocídio e não uma solução política real.

“Qualquer coisa que a comunidade internacional faça, tem que desmontar a estrutura colonial. Uma verdadeira paz teria que lidar com essa estrutura de violência”, afirma Hartmann. O pesquisador ressalta que o conflito não é uma disputa entre Estados, mas um confronto em que “um lado quer conquistar e exterminar o outro, e o outro lado quer sobreviver”, referindo-se a Israel e à Palestina, respectivamente.

Ele acredita que o genocídio dos últimos dois anos serviu como uma “demonstração de força do colonizador” e que o plano atual tem como objetivo recolonizar Gaza sob a tutela de potências estrangeiras. “O Estado [da Palestina] pode existir desde que a autoridade faça isso assim, assim, assado. Os palestinos estão absolutamente sem autonomia. Isso não é novo, foi instituído com o Acordos de Oslo”, pontua.

Nos Acordos de Oslo, em 1993, a fórmula era “terra por paz”: Israel devolveria gradualmente parte dos territórios ocupados (Cisjordânia e Gaza), e os palestinos garantiriam a paz. Mas, segundo Hartmann, quem definia o que era “paz” e se os palestinos estavam cumprindo o combinado eram os próprios israelenses.

Cessar-fogo não é acordo de paz

Correspondente do BdF na Rússia, o jornalista Serguei Monin, que também participou da conversa, reforça que o plano apresentado por Trump não configura um tratado de paz. “Não acredito que seja um acordo de paz, como Trump está dizendo. É um acordo de cessar-fogo. Há um grande alívio, diante do massacre televisionado, mas já há violações, ataques israelenses”, aponta.

Nesta terça-feira (14), ao menos seis pessoas foram mortas após forças israelenses atirarem contra palestinos no norte de Gaza, em uma área que deveria ter sido desocupada como parte do cessar-fogo.

Monin destaca ainda que o acordo é um plano ocidental pensado para agradar aliados dos Estados Unidos e garantir a influência política e econômica sobre a região. “Capitalista do Ocidente que tem um histórico de ingerência desastrosa no Oriente Médio. Então, claro que os interesses da Palestina ficam em segundo plano para fazer um molde de paz que agrade a todos”, explica.

Segundo o jornalista, o reconhecimento da Palestina como um Estado está “fora do baralho para os atores políticos envolvidos” no cessar-fogo, o que também compromete a ideia de paz. “A autodeterminação palestina é fundamental para uma paz concreta e permanente no Oriente Médio”, diz.

Hartmann defende que não haverá paz sem o enfraquecimento de Israel e o fim do apoio econômico e militar de potências ocidentais. “Se você quer realmente lidar com a estrutura de violência, precisa boicotar e sancionar Israel. Os Estados Unidos teriam que parar de mandar dinheiro e ajuda militar. E o mesmo vale para outros países”, indica.

Para ele, enquanto a comunidade internacional continuar ignorando o caráter colonial da ocupação israelense, qualquer acordo seguirá sendo apenas uma pausa temporária na violência. “Na melhor das hipóteses, se a fase dois do plano der certo [reconstrução], volta à situação do cerco de Gaza. E esse já era um cerco criminoso. Isso não é paz”, conclui.

O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11h no Spotify e YouTube.

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